Duna, de Frank Herbert, é um dos livros mais famosos já lançados. Já virou filme pelas mãos de David Lynch, já virou música pelas mãos de Steve Harris e provavelmente muitas outras coisas. Hoje é dia da nossa crítica Duna, um novo blockbuster com ambição de virar grande franquia, dirigido por Denis Villeneuve, de Blade Runner 2049. Agora a ideia é ser pop. Será que vinga? Vejamos.

CRÍTICA DUNA: HE IS THE KING OF ALL THE LAND

Antes da sessão de imprensa, eu tinha visto uma crítica gringa com o título Star Wars para adultos”. Eu entendo a analogia. Porém, depois de assistir, minha analogia seria outra. Que tal… Game of Thrones no espaço?

Opto por essa descrição porque, apesar de se passar em um cenário de fantasia, esta não é o foco aqui. Assim como em Game of Thrones, o grosso da história de Duna é a politicagem. É o que se chama nos círculos altamente nerds dos quais eu faço parte (e você provavelmente também) de “baixa fantasia”.

Crítica Duna, Duna, Denis Villeneuve, Delfos

Sinopse? Puxa, já pensou se eu esqueço isso? Então, Duna é a história da famosa família Atreides. Eles recebem um feudo do imperador, uma terra que anteriormente pertencia a uma galera mal-encarada. A questão é que dessa terra é colhida a “especiaria”, a substância mais valiosa do universo. O problema? Sabe quando um presente não é um presente?

CRÍTICA DUNA: IN THE KINGDOM OF THE SANDS

A questão é que o imperador não é muito fã dos Atreides. Convenhamos, ninguém gosta muito dessas pessoas bonitas demais. A ideia era mandar a família para uma terra desolada e assim acabar com a vida deles, retornando o poder em seguida para a galerinha mal-encarada que estava lá antes.

O que eles não esperavam era que Paul Atreides (Timothée Chalamet = Ctrl+C/Ctrl+V FTW!) fosse o escolhido. Basicamente um Neo das areias. E agora ele vai liderar uma revolução que vai tirar o imperador do poder. Ou pelo menos é o que eu acho que vai acontecer. Isso porque Duna não chega lá. O que temos aqui: basicamente duas horas e meia de sinopse.

YOU’LL SEE HE’LL BE THE BEST THAT THERE’S BEEN. BUT NOT YET!

Duna não é uma história completa. É uma tentativa de iniciar uma franquia. Um universo que pode ser explorado por anos e anos no futuro. O problema é que a história do cinema está cheio de cadáveres com essas ambições. De SaltBússola de Ouro, estou sinceramente cansado de cobrir essas franquias grandes demais para falhar, mas que de alguma forma falham e param suas histórias antes da metade.

Para cada Senhor dos Anéis, que consegue de fato terminar sua história, há dúzias de Crônicas de Nárnia que são obrigados a parar no meio. Mas, de alguma forma, Hollywood continua fazendo isso. Sei lá, assim como O Senhor dos AnéisDuna já é uma marca grande. Talvez grande demais para falhar. A Torre Negra também era. Mas todos sabemos no que deu.

Crítica Duna, Duna, Denis Villeneuve, DelfosTalvez a melhor forma de contar uma história longa no cinema seja o estilo MCU, em que cada filme é independente, mas com pequenos pontos de ligação. Assim, cada  capítulo é satisfatório por conta própria, mesmo fazendo parte de uma história maior. Duna é só o início de uma história e nunca mostra a que veio. É apenas a introdução a um mundo e, mais importante, a uma marca.

CRÍTICA DUNA: MESSIAH SUPREME, TRUE LEADER OF MEN

Minha questão é que, mesmo se tirarmos a alta chance de fracasso da equação, contar uma história longa em filmes simplesmente não é a melhor forma. Um filme longo tem duas horas e meia, três horas… não dá para ir muito além disso. E anos costumam passar entre um lançamento e outro. Quanto tempo eles vão demorar para contar a história de Duna no cinema? Acredito que seria muito mais legal fazer uma série de TV.

Depois que os filmes estão prontos, pode até funcionar. Hoje em dia a gente pode pegar O Senhor dos AnéisDe Volta Para o Futuro e outras histórias longas e assistir em pouco tempo. Mas vou te contar, assistir a De Volta Para o Futuro 2 no cinema, e ter que esperar a estreia do terceiro com aquele final, foi extremamente sofrido.

Duna não termina em cliffhanger. Mas, para ser sincero, ele mal começa a contar sua história. Tem um monte de ator famoso no filme que quase não aparece, por exemplo. Eles estão aqui apenas para reservar os atores para os futuros filmes, quando seus personagens ficarem relevantes.

Aliás, é engraçado a quantidade de gente de filmes de super-heróis que tem aqui. Tem o Drax, o Aquaman, a MJ e o Thanos! E a maioria deles quase não aparece.

HE HAS THE POWER TO MAKE IT ALL END

A essa altura está claro que eu tenho problemas com a opção narrativa tomada aqui. Não entenda por isso que eu não gostei do filme. Duna é um espetáculo visual. É aquele tipo de produção que dá gosto de assistir em uma tela grande, um verdadeiro deleite para todos os sentidos. Ou, sei lá, para a vista e a audição, já que ele não tem gosto nem cheiro.

Em outras palavras, ele não é insípido ou inodoro (embora, falando literalmente, seja). É um blockbuster espetáculo, com um orçamento enorme e um tremendo cuidado visual. Duna é o tipo de filme que dificilmente vai ganhar um Oscar de roteiro ou de melhor filme, mas muito provavelmente será lembrado em categorias como figurino ou fotografia. Particularmente, eu também gostei muito da direção, ainda que com algumas ressalvas.

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Falando da direção, o problema que vejo é que Denis Villeneuve opta por estilo sobre narrativa. Ele claramente é um cara muito criativo, que consegue filmar suas cenas de forma nada óbvia. Porém, muitas vezes ele o faz em detrimento do entendimento. É como um livro que escolhe uma fonte estilosa, mas ilegível, manja?

Um exemplo spoiler-free é uma cena em que alguns personagens conversam dentro de uma espécie de escudo, que abafa o som. Literalmente, não dá para entender o que os atores falam. Eu assisti à versão legendada, que traduziu essa parte normalmente, mas claramente a compreensão não foi uma preocupação do seu Denis Vilanova.

CRÍTICA DUNA: THE TIME FOR JUDGEMENT’S AT HAND

Eu consigo visualizar um mundo em que eu goste tanto dos filmes de Duna quanto gosto de O Senhor dos Anéis ou de De Volta Para o Futuro. Mas esse mundo ainda não existe. Para isso, precisamos ter essa história completamente adaptada. E isso, se acontecer, vai demorar anos.

Neste momento, em 2021, eu estou interessado em ver como ela continua. Mas tenho certeza que vou esquecer Duna inteiro até a segunda parte ser lançada. Daí complica. E você? Sua memória é melhor que a minha?

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