Delfos, Filhos de Duna

Continuando a gigantesca saga das Crônicas de Duna, o terceiro volume, Filhos de Duna, leva a história em uma nova direção, tirando o foco de Paul Atreides e jogando-o nos outros membros de sua família na contínua batalha para manter o poder no desolado planeta Arrakis.

Agora quem o governa é sua irmã Alia, cada vez mais seduzida pelo lado negro das muitas memórias de seus ancestrais que ela possui dentro de si (incluindo a de um conhecido inimigo). Ela não segura a onda e acaba descambando para um governo despótico e gerando desconfiança e medo na população e nos outros membros de sua família.

A mãe de Alia, Jéssica, acaba de voltar de um longo período em outro planeta e se dá conta do erro que cometeu ao deixar a filha sozinha e sem orientação. Já os filhos de Paul, os gêmeos Leto e Ghanima, apesar de tecnicamente ainda serem crianças, possuem a mesma iluminação intelectual do pai e as memórias genéticas compartilhadas de inúmeras gerações e caberá a eles traçar um plano para colocar os rumos da família e também de seu mundo nos eixos.

Deixando um pouco de lado (embora ainda esteja presente) o aspecto religioso tão importante no romance anterior, este volume assume um tom mais de tragédia, devido à família dividida e à eventual violência entre seus membros, tomando um rumo inesperado.

Também dá pinceladas sobre a questão das mudanças ecológicas, como resultado direto do que aconteceu em seu antecessor, pintando um panorama sombrio sobre o futuro de Arrakis e, por consequência, sobre toda a base econômica do Imperium se essa intervenção humana em seu ecossistema não mudar logo.

Delfos, Filhos de Duna

Frank Herbert trata bem desses temas dentro do contexto de sua saga, com as inevitáveis analogias a nosso próprio mundo. Contudo, apesar do bom número de páginas deste volume, acabei ficando com a sensação de que na realidade pouca coisa de fato acontece.

Não que o livro seja arrastado ou fique enrolando, pelo contrário, jamais me senti entediado durante a leitura. Mas por conta da prosa extremamente detalhista de Herbert, muitas vezes ele gasta mais páginas pintando o panorama dos eventos do que necessariamente avançando os mesmos.

Isso faz com que de repente muita coisa passe a acontecer em seus últimos capítulos, dando uma baita acelerada e tornando-se muito mais agitado e voltado para a ação, o que deixou o todo um tanto descompensado no quesito ritmo. Mas no fim das contas, isso é apenas um pouco estranho e não necessariamente ruim.

Pelo melancólico e pessimista tom geral da história, além de alçar outros personagens a protagonistas, Filhos de Duna leva a série por um caminho diferente, mas que faz todo sentido dentro da epopeia narrada pelo autor. Mantém o nível de qualidade das Crônicas e quem gostou dos anteriores certamente apreciará e se surpreenderá com este aqui também.

LEIA TAMBÉM:

Duna – Um grande clássico da ficção científica.

Messias de Duna – A saga da família Atreides continua.