A-há! Chegamos ao último texto do nosso humilde especial sobre a Ninja Gaiden Master Collection. Depois de reviver os excelentes Ninja Gaiden Sigma Ninja Gaiden Sigma 2, agora é hora da ovelha afrodescendente: Ninja Gaiden 3: Razor’s Edge.

AVISO DE SPOILER: em algum momento deste texto eu vou publicar uma imagem do Ryu sem máscara.

NINJA GAIDEN 3

Sejamos sinceros. Ninja Gaiden 3 é uma porcaria. Mesmo eu, que gosto de jogos lineares, ficava de saco cheio com seu level design com um único caminho, sem a menor possibilidade de exploração. Era um jogo totalmente focado no combate, e a princípio tudo bem. Não fosse pelo fato de que, com a exclusão das mecânicas de desmembramento, houve um retrocesso enorme, que transformou um dos melhores sistemas de jogos de ação em um button mashing entediante.

Eu diria que os dois primeiros Ninja Gaidens eram um tanto exagerados. Tinham muito segredo, muitos upgrades, muitos combos e especialmente muitas armas. Ninja Gaiden 3 não tinha nada disso. E a única arma disponível era a espada-padrão. Só um tempo depois do lançamento rolou um patch que introduziu desde o início duas armas de Ninja Gaiden II: as garras e a foice.

Ninja Gaiden 3 Razor's Edge, Ninja Gaiden, Cabeça Fria, Delfos, Koei Tecmo, Team Ninja
As garras estilo Wolverine só foram colocadas em Ninja Gaiden 3 via patch após o lançamento.

Ninja Gaiden 3 foi um retrocesso como nunca antes se viu em uma franquia de games de sucesso. Ele parecia um jogo incompleto, mas seu problema não era que não rodava bem, como Cyberpunk 2077. Simplesmente parecia que suas mecânicas e seu level design não estavam terminados. E daí veio Ninja Gaiden 3 Razor’s Edge.

NINJA GAIDEN 3 RAZOR’S EDGE

Se as versões Sigma de Ninja GaidenNinja Gaiden II trouxeram melhorias, mas também mudanças que não agradaram a todos, Razor’s Edge parece o jogo que Ninja Gaiden 3 foi planejado para ser.

Ele aumentou as fases, com caminhos alternativos recheados com colecionáveis, adicionou novas armas, trouxe de volta os desmembramentos e, pela primeira vez na série, inseriu uma árvore de habilidades.

A verdade é que boa parte dos acréscimos foi feito um tanto nas coxas. Por exemplo, todas as armas já estavam em Ninja Gaiden II. A árvore de habilidades permite comprar upgrades, mas todos os golpes “compráveis” são coisas que Ryu tinha nos jogos anteriores desde o começo da campanha. E, claro, os desmembramentos simplesmente repetem a mecânica de Ninja Gaiden II, sem acrescentar ou mudar nada.

Ninja Gaiden 3 Razor's Edge, Ninja Gaiden, Cabeça Fria, Delfos, Koei Tecmo, Team Ninja
A árvore de habilidades permite “comprar” golpes que estavam disponíveis desde o começo nos jogos anteriores.

Apesar disso, com todas as mudanças juntas, Ninja Gaiden 3 parecia pela primeira vez um jogo completo. Mais importante é que o retorno dos desmembramentos colocou a série de volta de onde nunca deveria ter saído: do pódio de um dos combates mais estilosos, empolgantes e viscerais dos jogos de ação.

Apesar de ser exatamente igual ao combate do Ninja Gaiden II (porém com menos armas e upgrades travados), a ação é tão boa, mas tão boa que, se Ninja Gaiden 3 não fosse a segunda continuação dessa série, teria sido muito melhor recebido.

Ninja Gaiden 3: Razor’s Edge é, por exemplo, muito melhor do que Scarlett Nexus. Porém, dentro do contexto dos três Ninja Gaidens, ele parece inferior. Seu combate é excelente, muito bom mesmo. Porém, mesmo na versão Razor’s Edge, é tudo que o jogo oferece. Ele carece do clima místico, oriental e aventureiro dos games anteriores. E isso muito provavelmente se deve a…

CALL OF DUTY: MODERN WARFARE

Ninja Gaiden 3 saiu em 2012. Era uma época em que a indústria de games buscava o sucesso alcançado por Call of Duty: Modern Warfare. Em uma péssima jogada, a Team Ninja resolveu flertar com esse tipo de narrativa em Ninja Gaiden. Seus inimigos não são mais ninjas rivais e monstros místicos. Agora são terroristas militares, e os monstros são armas biológicas criadas em laboratório.

Os chefes dos jogos anteriores eram demônios e criaturas mitológicas. Aqui você vai lutar contra tanques, helicópteros e robôs gigantes. Se liga nas imagens abaixo.

Ninja Gaiden 3 Razor's Edge, Ninja Gaiden, Cabeça Fria, Delfos, Koei Tecmo, Team Ninja

Ninja Gaiden 3 Razor's Edge, Ninja Gaiden, Cabeça Fria, Delfos, Koei Tecmo, Team Ninja

Ninja Gaiden 3 Razor's Edge, Ninja Gaiden, Cabeça Fria, Delfos, Koei Tecmo, Team Ninja

Se elas te parecem extremamente comuns, uma mistura de Call of Duty com Metal Gear, é porque… bem, essa era a intenção mesmo. Até a tela de carregamento entre as fases era IGUALZINHA à de Modern Warfare. E é uma pena, pois a principal graça de Ninja Gaiden, desde a época do Nintendinho, é justamente o que seu nome promete: é uma história ninja. Não é uma história militar. Não é uma corrida armamentista entre governos e terroristas. É, e deveria sempre ser, uma história ninja. Poxa, olha essa imagem do Ryu lutando contra os inimigos mais comuns do jogo.

Ninja Gaiden 3 Razor's Edge, Ninja Gaiden, Cabeça Fria, Delfos, Koei Tecmo, Team Ninja
Ninguém queria ver isso em um Ninja Gaiden.

Uma coisa que eu posso elogiar é que, apesar dos chefes serem menos inspirados, há bem menos deles aqui. Com exceção das últimas duas fases, as restantes têm apenas um chefe no final. Isso melhora o timing. O combate desses jogos brilha especialmente em batalhas contra vários inimigos fracos ao mesmo tempo, não contra um superpoderoso. Mas ainda assim…

NINJA GAIDEN 3 RAZOR’S EDGE E O FOCO NO COMBATE

O foco no combate, eliminando quase completamente a exploração e os segredos, faz com que o jogo fique cansativo. Cada encontro com inimigos envolve vencer dezenas deles, às vezes centenas. Os jogos anteriores até tinham armadilhas assim, que quando cumpridas davam recompensas especiais. Aqui o jogo é isso. É uma sequência de arenas separadas por curtos corredores. E isso fica um pouco cansativo. E olha que, com uma duração de apenas cinco horas, Ninja Gaiden 3 Razor’s Edge é MUITO mais curto do que os anteriores. E mesmo assim é mais cansativo.

Sabe quando a cultura pop mostra alguém jogando videogame? Normalmente a pessoa fica martelando os botões de uma forma que simplesmente não corresponde à realidade. Eu sempre falo que ninguém joga assim. Porém, isso representa bem o visual de alguém jogando Ninja Gaiden 3. Você literalmente castiga os botões do controle, a ponto de que, ao terminar a campanha, terá quadrados e triângulos tatuados no seu polegar direito.

Ninja Gaiden 3 Razor's Edge, Ninja Gaiden, Cabeça Fria, Delfos, Koei Tecmo, Team Ninja
Os monstros de Ninja Gaiden 3 não são mais “fiends”, são armas biológicas.

Uma coisa que eu normalmente falo sobre os jogos da Team Ninja, tanto Ninja Gaiden quanto Nioh, é que eles são bem mais legais quando você está lutando contra outros ninjas e samurais do que contra monstros. Ninja Gaiden 3 Razor’s Edge talvez seja o único entre todos esses jogos em que seus inimigos são prioritariamente humanos. E isso é legal. Porém, em geral eles não são ninjas ou samurais, mas soldados mascarados empunhando metralhadoras e outras armas de fogo. De fato, com a exceção de uma fase que acontece nos arredores da Vila Hayabusa, os únicos ninjas da história são os personagens jogáveis, Ryu e Ayane.

PERSONAGENS JOGÁVEIS

E falando nisso, uma coisa que me chamou atenção em Razor’s Edge é que, além de Ryu, ele traz três mulheres jogáveis. Porém, ao contrário dos Sigma, que colocavam essas personagens em fases da campanha, aqui a única que é jogável na história é a Ayane. Depois de terminar a história, você pode refazer as fases ou arenas de desafio com Ryu e Ayane, mas também pode escolher Momiji e Kasumi. Todos os personagens são excelentes, e é uma pena que não tenham uma importância maior na campanha.

Ninja Gaiden 3 Razor's Edge, Ninja Gaiden, Cabeça Fria, Delfos, Koei Tecmo, Team Ninja
Ryu e Momiji, em um dos únicos momentos mais Ninja Gaiden do que Metal Gear.

Eu pelo menos não costumo investir muito tempo nas arenas de desafios, ou mesmo jogar a campanha “sem história”, mas se você curte essas coisas, há troféus para fazer todas as fases com as mulheres, e cada uma delas tem sua própria árvore de upgrades. E isso certamente vai estender a duração de um jogo que, sem isso, é bem curto.

HISTÓRIA

E já que falamos na história, vale dizer: nenhum Ninja Gaiden tem uma história realmente legal. Mas a de Ninja Gaiden 3 é ruim a ponto de ser literalmente ofensiva. A coisa começa numa re-escalação do ator que faz o Ryu, que aqui foi assumido por Troy Baker. Você sabe, o Troy Baker e o Nolan North são as duas pessoas que monopolizam a dublagem de games, e isso já me faz torcer o nariz quando um jogo tira o papel de outro ator para colocar um deles. Outra coisa sem sentido é que a personagem anteriormente conhecida como Sonya agora virou Irene só para fazer uma referência ao jogo clássico de Nintendinho.

Mas a coisa vai além disso. A história tenta ser séria, e abordar a dissonância ludonarrativa do fato de o Ryu ser um herói que, ao longo dos três jogos, mata mais gente do que o Jair Bolsonaro em um mandato inteiro. Daí uma menininha chama ele de assassino e o sujeito fica todo cabisbaixo, como se nunca tivesse pensado nisso antes. Brother, tu não é um assassino. É um genocida mesmo! Mas é também o protagonista de um jogo de ação cuja principal mecânica é desmembrar outras pessoas. Então faz parte. O jogo querer dar um tratamento sério a isso acaba aumentando a dissonância, não acrescentando algo ao roteiro.

Se levarmos isso em consideração, de que Ninja Gaiden 3 queria focar de forma séria no fato de Ryu ser um genocida sádico, faz sentido aquela cena em que ele basicamente começa obrigando o jogador a assassinar via gameplay um pai de família que implora por piedade (assista no vídeo abaixo a partir dos 7m50s). Porém, o fato de aquela cena ter sido tão absurdamente mal recebida que teve que ser excluída das versões posteriores do jogo mostra que a mensagem não estava sendo bem passada.

Repito: apesar do título da série, nenhum Ninja Gaiden tem uma história realmente legal. Mas a de Ninja Gaiden 3 é realmente sofrida.

MAS MESMO ASSIM NINJA GAIDEN 3 RAZOR’S EDGE É LEGAL!

Este texto ficou mais negativo do que eu esperava, mas a mensagem que eu gostaria que você levasse é a seguinte: apesar de não alcançar as alturas de Ninja Gaiden Sigma Ninja Gaiden Sigma 2Ninja Gaiden Razor’s Edge ainda é legal. Ele pode não ser exatamente um bom Ninja Gaiden, mas é um bom hack and slash.

O efeito dele para a franquia e para a desenvolvedora foi devastador. A Team Ninja, que recebeu esse nome por ser o time que fazia Ninja Gaidens, desde então trabalhou em jogos como contratada, como Marvel Ultimate Alliance e o vindouro Strangers of Paradise: Final Fantasy Origin. Como criação original, a única coisa que ela fez depois de Ninja Gaiden 3 foi o – excelente – Nioh, mas mesmo este era mais preocupado em ser um bom soulsborne do que um bom jogo de ação.

Ninja Gaiden 3 Razor's Edge, Ninja Gaiden, Cabeça Fria, Delfos, Koei Tecmo, Team Ninja
Ninja Gaiden 3 mostrou o Ryu sem máscara pela primeira vez.

Existe espaço na década de 2020 para jogos hack and slashes que não sejam soulsbornes? Se depender da Team Ninja, que agora está criando um Final Fantasy soulsborne depois de dois Niohs, aparentemente não. Mas eu quero acreditar que esse futuro glorioso ainda existe. E a Team Ninja é uma das melhores desenvolvedoras de jogos de ação que eu conheço. Prova disso é que Ninja Gaiden 3, mesmo sendo decepcionante para a série, é melhor do que 82,42% dos jogos do gênero.

Revisado por Yohan Barczyszyn

A série “… de cabeça fria” envolve voltarmos a vivenciar algo antigo e que às vezes até já resenhamos aqui no DELFOS com a cabeça fria e com nossas experiências atuais. Se você gostou, mostre pra gente fazendo comentários e compartilhando, pois nos esforçaremos para fazer muitas outras.

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