Hoje é dia da crítica Veja Por Mim. É um filme de terror e suspense canadense naquele estilo claustrofóbico que a gente tanto gosta aqui no DELFOS. Me acompanha no texto abaixo?

CRÍTICA VEJA POR MIM

A temática é interessante, mas não é exatamente única. Acompanhamos Sophie (Skyler Davenport), uma moça cega que faz bicos cuidando de animais de estimação de pessoas que vão ficar fora de casa uns dias. Acontece que ela não vai ficar sozinha. Logo na primeira noite, alguns caboclos invadem a casa em busca de… algo. E como a protagonista é cega, ela não enxerga – disse o poeta.

Daí entra o nome do filme. O aplicativo Veja Por Mim permite que pessoas com deficiência visual usem a câmera do celular para pedir ajuda a atendentes. Claro que o serviço é pensado especialmente para ver validade de comida e outras coisas mais banais. A coisa não foi pensada para ajudar pessoas em situações de vida ou morte. Então acaba sendo tenso até para a atendente.

E sabe o que achei mais legal? A coisa fica tensa também para os invasores. Eles esperavam que não teria ninguém em casa. Não são aqueles criminosos casca grossa que costumamos ver no cinema. Não quero dar a entender que Sophie não corre perigo, pois o filme é tenso pra burro. Mas este é um desenvolvimento que eu sinceramente não esperava desse tipo de obra.

DESENVOLVIMENTO

Crítica Veja Por Mim, Veja Por Mim, Paris Filmes, Delfos, See For MeAliás, quero elogiar bastante o roteiro de Adam Yorke e Tommy Gushue. Tem um monte de filmes parecidos com este, como Quarto do Pânico ou o recente Até a Morte. Mas Veja Por Mim arrisca caminhos diferentes, em especial no desenvolvimento de personagens e caminho da história.

Sophie não é tão inocente quanto a maioria das vítimas de histórias desse tipo, assim como os invasores também quebram o paradigma. Veja Por Mim não faz aquela inversão total de um Homem nas Trevas, em que os invasores viram as vítimas. Mas se dá muito bem ao apresentar um desenvolvimento mais cinzento em cima dos arquétipos de vítima e vilão de filme de terror.

Eu gostaria de dar exemplos dos caminhos que a história leva que me agradaram, mas isso seria um estragão malvado. Assim, é melhor ser vago. Por outro lado, o final carece de um pouco mais de desenvolvimento. Em especial, como a dona da casa reagiu ao ver o que aconteceu?

Outra coisa que afetou meu envolvimento com a história foi minha dificuldade em aceitar as duas premissas básicas do filme. Explico a partir do próximo intertítulo.

PREMISSA BÁSICA NÃO ACEITA

Primeiro, parece muito estranho alguém colocar um anúncio na internet na intenção de contratar um desconhecido para passar uns dias na sua casa cuidando de um gato. É bem mais viável deixar com um conhecido, ou mesmo levar o gato para ficar em um daqueles hotéis de pets.

Segundo, apps de celular são horrivelmente monetizados. Eu baixei um app de scanner, o que faria sentido ser comprável, certo? Porém, apps hoje em dia não aceitam ser comprados. Até mesmo um app de scanner solicita assinatura para você poder continuar usando. E pelo desenvolvimento do filme, o app Veja Por Mim é totalmente gratuito. E convenhamos, este é o tipo de serviço que faz sentido ser por assinatura (bem mais do que um programa de scanner, convenhamos).

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Mas sei lá também. É um filme canadense, e a saúde pública lá é tão boa que é bem possível que o governo ofereça um app como esse. Da mesma forma, é um país praticamente sem crimes, então talvez seja viável lá você pagar desconhecidos que vão ficar sozinhos na sua casa.

De qualquer forma, a gente assiste a filmes com viagens espaciais ou nos quais metade da população do universo desaparece com um estalar de dedos. Então não é como se exigíssemos realismo da nossa ficção escapista. Mas como este foca em uma premissa mais humana e real, acaba incomodando minha mente de brasileiro.

CRÍTICA VEJA POR MIM, COM SENTIMENTO

Na real, a premissa é o tipo de coisa que nem afeta tanto o filme. É aqueles casos de “desligue o cérebro e se divirta”. E o lado bom é que Veja Por Mim tem qualidade. É certamente um dos melhores do gênero “terror claustrofóbico” que vejo em bastante tempo (ao lado de A Hora do Desespero, curiosamente também da Paris Filmes). E, ei, eu recomendo que você assista a ambos. Especialmente se também for fã deste subgênero altamente específico.