Gringos chamam a atenção no Brasil. Mesmo entre aqueles brasileiros que se consideram brancos, não é comum pessoas com cabelos e olhos claros por aqui, pelo menos não de São Paulo para cima. Esta é nossa crítica Vidro Fumê.

CRÍTICA VIDRO FUMÊ

Vidro Fumê é inspirado por um crime que de fato aconteceu no Rio de Janeiro. Ele mistura uma ficcionalização dos fatos com uma história paralela totalmente fictícia. Mas vou dizer, eu vi o Brasil que conheço neste filme. E não gostei do que vi. Coisas como polícia agressiva e não disposta a ajudar fazem parte do nosso dia a dia, bem como BOs sem sentido, que não levam a absolutamente nada a não ser uma solicitação no seguro. Polícia que investiga crime é tão fictício no Brasil quanto Papai Noel.

O foco de Vidro Fumê é em um casal. Ela, estadunidense. Magra, ruiva, olhos claros. Ele, provavelmente por um enorme furo de roteiro, às vezes se identifica como francês, e às vezes como australiano. É um casal que chama a atenção no Rio de Janeiro. Uma noite, eles resolvem voltar para casa pegando uma lotação. É, brasileiros já saberiam de antemão que ia dar ruim.

ESCALAÇÃO GRINGA

Infelizmente, mesmo aqueles que nunca sofreram crimes hediondos como o mostrado aqui, já estão cansados de ver essas coisas nos jornais. E diria que a maioria dos brasileiros nativos está mais equipado do que os gringos para evitar que uma história dessa escale como aconteceu aqui.

Tudo começa como um assalto, do qual todos os clientes da lotação são vítimas. Porém, os gringos chamam atenção, não apenas pelo visual, mas por falarem em inglês. Assim, quando as vítimas são deixadas na rua, o casal fica preso na van. O cara é marrentão, fica a toda hora ameaçando matar os bandidos se eles encostarem em sua garota. É batata que o negócio vai escalar. Quando a moça cospe na cara de um dos bandidos… bom, isso adianta coisas que provavelmente aconteceriam de qualquer jeito mais para frente.

SEGUNDA HISTÓRIA

Os atores, mesmo os brasileiros, estão muito bons; e a direção é afiada. O filme é tenso o tempo todo e, como você sabe, histórias assim me dão muito mais medo do que fantasmas e mansões mal assombradas. A condução do filme é segura, pelo menos nos momentos que acontecem dentro da van.

A segunda história, a que é totalmente ficcional, se encaixa na principal de alguma forma, mas pouco acrescenta, e parece ter sido colocada apenas para deixar o filme com tamanho de longa (provavelmente sem ela seria um média metragem).

O PAÍS DO FUTEBOL

Vidro Fumê, Pedro Varela, DelfosO que eu realmente não gostei no filme é a necessidade de mostrar os bandidos (assassinos e estupradores) como vítimas da sociedade. Tipo “eles na verdade não são maus, só não tiveram chance na vida”. Isso não me convence, e parece bem coisa do cinema brasileiro feito por herdeiros de grandes bancos (o que não é o caso aqui, mas você sabe de quem falo). Sou totalmente a favor de histórias contadas do ponto de vista dos vilões, mas não dá para tentar justificar o que aconteceu aqui.

E até eu, como brasileiro, me senti mal, porque para mim parecia quase inevitável. Uma ruiva magrela de olhos claros andando pelo Rio à noite, pegando uma lotação. Tipo, nada deveria acontecer. Em um país decente, nada aconteceria. Porém, se eu fosse amigo desse casal, teria aconselhado contra, no mínimo, pegarem uma lotação à noite. E eu odeio viver em um país onde uma dica dessas é essencial.

Vidro Fumê não mostra o Brasil romantizado que estamos acostumados a ver no cinema. Mas também não é um filme de ditadura ou de pobres bonzinhos, como também vemos sempre. É um filme de crime super tenso, que beira o terror. E, parafraseando Homer Simpson, “dá medo porque é verdade”.

CURIOSIDADE:

Nunca foi tão difícil encontrar imagens de um filme na internet, e o título não ajuda nisso, pois encontra um monte de instalador de vidro fumê e quase nada sobre o longa. Acabei usando uma imagem do diretor como destaque e uma imagem pequena do pôster. Ambas vieram no convite para a cabine.