Stellar Blade era um dos jogos que mais me animava este ano. Não por causa da beleza da protagonista, mas sim por parecer ser um jogo de ação como dificilmente vemos em 2024. E de fato é. Ele tem alguns dos melhores momentos de games recentes, mas fraqueja forte quando tenta ser algo que não é. Vamos elaborar?

REVIEW STELLAR BLADE

Stellar Blade, Sony, Shift Up, Project Eve, Delfos
Eve esperando para ler minha opinião.

Stellar Blade lembra muito Final Fantasy 7 Rebirth. Assim como FF7R, ele combina excelentes fases lineares de hack and slash com mapas de mundo aberto cheios de ícones. Felizmente, ele não tem a escala absurda, a coleção de minigames ou outras distrações do jogo da Square Enix. É um jogo de ação com dois mapas de mundo aberto, o que parece pouco hoje em dia. Mas comecemos pela porrada.

A porrada é excelente. O jogo é bem desafiador mesmo no fácil, mas eu gostei tanto do gameplay que, quando estava nas fases, subia a dificuldade para fazê-lo durar mais. Stellar Blade combina dois botões de ataque, um sistema de defesa e parry, e a possibilidade de desviar. Todas essas formas possibilitam punições apropriadas.

Além disso, defletir uma certa quantidade de ataques marcada por pequenas bolinhas abaixo da vida, deixa qualquer inimigo, inclusive chefes, vulneráveis a um ataque devastador. É comum este ataque matar o recipiente, mas é difícil colocar os inimigos neste estado, a ponto de que este não é um jogo APENAS de parries, como Sekiro.

INFLUÊNCIAS

Stellar Blade, Sony, Shift Up, Project Eve, Delfos

Stellar Blade não é especialmente criativo. Muitas pessoas estão comparando ele a Nier Automata. Tirando o fato de que a história é estrelada por andróides, não vejo muita relação entre os dois. Particularmente, vejo muito aqui do combate de Bayonetta. A principal diferença é que Stellar Blade dá prioridade a animações. Na prática, isso significa que você não consegue interromper um ataque para defender ou desviar. Atacar é um comprometimento. Por outro lado, os cenários pós-apocalípticos e a exploração me lembraram MUITO Darksiders, a ponto de que, especialmente no começo, eu me sentia jogando um deles.

Não dá para negar que há, sim, uma influência de Sekiro Dark Souls. Felizmente, Stellar Blade não usa a From Software como uma bíblia. Ele tem influências no combate, como o parry e a prioridade à animação, e usa o mesmo estilo de saves em fogueiras. Porém, as fases são mais lineares, os checkpoints são mais frequentes e você não perde nada ao morrer além de tempo. O jogo também tem pausa, o que é sempre uma boa surpresa em 2024.

RESIDENT EVIL E UNCHARTED

Stellar Blade, Sony, Shift Up, Project Eve, Delfos

Estas talvez sejam as influências mais dignas de nota para um hack and slash. Porém, há duas fases em que a espada é desabilitada e você só pode se defender com armas de fogo. Estas fases também são mais escuras e assustadoras, ficando entre o que se espera de um Dead Space e um Resident Evil. A primeira delas vem depois de uma parte ENORME de tédio em mundo aberto, o que fez ela parecer absurdamente divertida e emocionante para mim.

Stellar Blade, Sony, Shift Up, Project Eve, Delfos
Uncharted feelings.

A segunda também foca em tiro e em ambientação escura, mas tem muito mais plataforma e escalação. O jogo tem algo disso antes e depois, mas a complexidade dá um enorme salto neste trecho. É viável dizer que a primeira fase de tiro é uma homenagem a Resident Evil, enquanto a segunda homenageia Uncharted. Eu amei ambas, mesmo a jogabilidade de plataforma sendo menos elaborada e gostosa do que a de tiro ou de porradaria. Mas aí tem o mundo aberto.

AI, AI, MAIS UM MUNDO ABERTO ENORME

A abertura de Stellar Blade é excelente. Cara, como eu sinto falta de jogos assim. Depois de umas sete horas de jogo, no entanto, você vai para uma cidade, que funciona como um hub. Nela, você pode pegar dezenas, dezenas e mais dezenas de sidequests. Estas vão do inofensivo, tipo “mate X inimigos do tipo Y e ganhe uma recompensa” a extremamente ofensivas, como “vá para aquele lugar onde você acabou de ir e pegue mais coisas iguais às que acabou de pegar”. Sem brincadeira, uma das sidequests envolvia me teleportar para uma fase linear anterior para pegar garrafas de vinho. Depois de entregar, outra popou me mandando voltar pro mesmo lugar pra pegar mais uma garrafa de vinho. Pode isso? Não, não pode. Favor respeitar meu tempo!

Stellar Blade, Sony, Shift Up, Project Eve, Delfos

As missões secundárias se dividem entre voltar para uma fase linear sem mapa para pegar algo; ou então envolvem pegar/interagir com algo em um dos dois mapas de mundo aberto. Estas são mais simples, do tipo “corra até o ícone, faça o que precisa ser feito e volte”. Mas nenhuma delas, absolutamente nenhuma, conta uma história que realmente vale ser contada. Algumas têm chefes opcionais, outras dão troféus. Mas em geral são pura encheção de linguiça e o jogo seria melhor sem elas.

Os dois mapas de mundo aberto, além disso, acontecem praticamente no mesmo cenário, um deserto. E, ao contrário de Final Fantasy 7 Rebirth, não há movimentação bacana para ajudar na exploração. Você simplesmente vai de um lugar a outro correndo. Tenho a sensação de que o mundo aberto de Stellar Blade foi colocado apenas para colocar um bullet point na caixinha, e não como algo realmente criativo e inspirado, que acrescentasse algo ao jogo. Diga o que quiser do mundo aberto de Final Fantasy 7 Rebirth, mas apesar dos excessos, ele é um bom jogo de mundo aberto. Stellar Blade não. E apesar da escala ser muito menor aqui, espere ficar umas 30 horas só no mundo aberto se quiser fazer todas as missões.

STELLAR BLADE NÃO PRECISAVA DISSO

Stellar Blade, Sony, Shift Up, Project Eve, Delfos
Quanto menos falarmos do minigame de pescaria, melhor.

Curiosamente, mesmo se tirássemos o mundo aberto totalmente, Stellar Blade não seria curto demais. Pelo contrário, só de fases lineares, ele certamente tem mais conteúdo e gameplay do que jogos como Uncharted 3God of War III. Daria simplesmente para cortar fora TODAS as sidequests e o conteúdo de mundo aberto, e o que sobraria seria o que o jogo realmente tem de bom, com uma duração apropriada, a ponto de que provavelmente concederia a ele o SELO DELFIANO SUPREMO.

Mas não é o caso. Como todo jogo lançado em 2024, Stellar Blade traz bastante conteúdo sensacional e muito bom, mas para interagir com ele, você precisa suportar e engolir um monte de groselha que simplesmente não deveria existir. Assim, a sensação ao terminar ainda é de um bom jogo. Ele é um bom jogo. Mas assim como quase tudo que sai hoje em dia para os games, é um daqueles casos em que menos seria mais. MUITO MAIS.