Quanto mais velho eu fico, menos paciência eu tenho com games que me desrespeitam. E tem uma coisa extremamente comum que, sinceramente, já deu. Isso está me incomodando mais do que microtransações. Falo, claro, dos malditos games sem pausa.

GAMES SEM PAUSA

Vamos deixar claro. Eu não me refiro a casos em que isso faz sentido. Um battle royale com 100 pessoas jogando, obviamente não pode ter pausas. Afinal, se qualquer um puder pausar o jogo para todo mundo, a partida vai ficar um saco. O mesmo, claro, vale para qualquer partida online, com a possível exceção de uma em que só seja possível duas pessoas.

Outro caso que não entra nessa minha reclamação são jogos de terror em que usar o inventário ou abrir o mapa não pausam o jogo. Nesses casos, é uma decisão criativa, que visa aumentar a tensão enquanto o jogador está indefeso em atividades mais estratégicas. Eu gosto disso? Não, não gosto. Mas entendo, e respeito. Até porque esses jogos sempre têm uma pausa mais tradicional.

O que realmente arranha minha bunda são aqueles jogos que são pentelhos só para serem pentelhos. Jogos que não aceitam que são apenas um entretenimento, um lazer, e resolvem que quem desejar jogá-los deve dedicar sua atenção exclusiva. Tocou o telefone? Sua filha chamou? Qualquer outro inconveniente aconteceu? Perdeu, playboy!

PARA VARIAR, A CULPA É DA FROM SOFTWARE

Eu sei que parece que eu pego no pé. Já até me chamaram de hater. Mas até onde consigo perceber, a culpa para essa tendência, como quase tudo de ruim que se popularizou nos games nos últimos 10 anos, é da From Software.

Modo easy nos Soulsborne, Delfos, Praise the Sun, Dark Souls
O sol é a maior esperança. Praise the sun!

Não acho que seus jogos foram os primeiros sem ter pausa sem motivo aparente. Porém, a influência extrema que Dark Souls e seus outros jogos tiveram sem dúvida afetaram a tendência. Afinal, a gente sabe que tem um monte de desenvolvedoras, em especial de baixo a médio orçamento, que tratam as lições da From como um evangelho sagrado.

E, de alguma forma, isso parece dentro do “personagem From Software”. Afinal, a desenvolvedora fez fama cuspindo na cara dos jogadores. Esse tipo de arrogância, de “meu jogo deve ser a coisa mais importante que você vai fazer no dia”, parece o tipo de pensamento que Hidetaka Miyazaki e seus colegas teriam.

Um dos influenciados, o primeiro Nioh, foi lançado originalmente sem pausa. A habilidade de pausar foi colocada posteriormente, através de um patch. Eu vou dar um tempo para você pensar nisso… A pausa. Foi colocada. Em um patch. O que vem depois? Pausar vai ser um DLC pago?

GAMES X VIDA

Só que não dá para pensar assim. Por melhores e mais envolventes que sejam seus jogos (e essas são duas características que se aplicam a quase tudo que a From fez nos últimos anos), eles ainda são jogos. São entretenimentos.

Se eu estou jogando, e minha filha vem pedir um abraço, não tem porque eu ter que escolher entre abraçar minha pequena e ficar vivo no jogo. Até porque, é claro que minha filha tem prioridade. Dane-se o jogo, quando ele é comparado com alguém que eu amo. Ao mesmo tempo, se estou jogando, e recebo uma ligação profissional, dane-se o jogo. Absolutamente tudo que acontece na minha vida – e provavelmente na sua – é mais importante do que um videogame.

O jogo exigir o contrário é viver num mundo de fantasia. Um mundo em que as pessoas aceitam ficar repetindo a mesma coisa dúzias de vezes sem motivo algum a não ser masturbar os desenvolvedores (o que, agora que coloquei dessa forma, parece ser um grande objetivo dos soulsborne). Eu sempre vou priorizar a minha vida fora da tela, mas não acho justo que tenha que perder uma batalha contra um chefe porque resolvi dar um abraço na minha filha por alguns segundos.

ONLINE

Ah, mas Dark Souls é um jogo online. Não, meu amigo. Não é. Dark Souls, e todos os jogos que estou criticando aqui, são jogos single player. Eles têm um pequeno, extremamente limitado – e em geral quebrado – modo online, onde você pode pedir ajuda de um desconhecido para matar chefes. E ser separado do coleguinha logo em seguida, ou quando alguém morre. Isso não é coop.

Hellpoint, TinyBuild, Cradle Games, Soulsborne, Delfos
Hellpoint copiou até os problemas de conexão de Dark Souls.

Dark Souls é diferente de Destiny ou Monster Hunter. Estes são jogos que funcionam bem em single player, mas que são feitos para serem jogados em equipe. Então nesses casos, é bem mais tolerável não ter pausa.

Porém, em jogos como Sekiro ou o recente Mortal Shell (que não é da From, mas segue suas lições religiosamente), sequer há um modo online. São jogos 100% single player. Então por que não existe a possibilidade de pausar neles? Eu sinceramente quero saber.

Talvez você faça um comentário explicando o motivo, e faça sentido, e eu mude minha opinião. Uma pessoa madura sempre deve estar disposta a mudar de opinião. Porém, eu não consigo pensar em um único motivo válido para um jogo single player não ter pausa. E já pensei bastante nisso, desde que comecei a encontrar jogos assim, o que tem se tornado cada vez mais comum. Para mim, isso passa apenas arrogância da desenvolvedora, desrespeito com o tempo do jogador e uma visão totalmente equivocada da importância que os videogames devem ter na vida do gamer. Está na hora de começarmos a nos manifestar contra isso.