Eu nunca tinha jogado a série Monster Hunter. Faz tempo que tenho vontade, mas depois do original no PS2, ela parece ter focado seus lançamentos em consoles da Nintendo que eu não tive. Curiosamente, agora que eu tenho um console atual da Nintendo, o Switch ficou de fora de Monster Hunter: World. Mas tudo bem, afinal, muita gente tem um Xbox One ou um PS4 hoje em dia.

Monster Hunter World, Delfos
Oi, gata. Vem sempre aqui?

Isso causou muita expectativa, já que fazia tempo que a série não chegava para os consoles mais poderosos. Depois de passar várias dezenas de horas com ele, consegui definir uma opinião. É um jogaço, mas tem alguns problemas bem chatinhos. Desta forma, ele me lembra o sentimento de jogar qualquer Dark Souls, mesmo o jogo em si não tendo nada a ver com ele. Permita-me explicar, mas só depois de uma boa e velha sinopse.

UMA BOA E VELHA SINOPSE

O jogo começa com você criando seu personagem, como qualquer RPG que se preze. E, como sempre, eu concentrei meus esforços em criar a oriental ruiva mais bonita que o sistema me permitisse.

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Depois de muito pensar, eu resolvi tirar o bigode.

A história é bem simples. Você faz parte de uma equipe enviada ao novo mundo para caçar e pesquisar monstros, com o objetivo final de capturar o dragão antigo Zorah Magdaros, que é do tamanho de um prédio.

Monster Hunter World, Delfos
Este é o pedaço dele que coube na tela.

Até chegar ao seu objetivo, você vai caçar muitos outros bichos, tendo sempre a opção de matá-los ou capturá-los. Pela ciência! O jogo é ao mesmo tempo simples e complicado. Cada missão tem um objetivo claro: caçar um bicho, coletar X plantinhas inúteis, etc. Esta simplicidade é equilibrada por um sistema de jogo deveras complicado.

EXEMPLO

Logo no início, você encontra um personagem na beira de um lago que diz para você pescar um peixe específico, que vive ali mesmo. Ele te dá a descrição do peixe. Mais simples impossível, não? Mas como pescar? Pois é, eu fiquei na beira do lago apertando botões e nada acontecia. Tentei equipar uma vara de pescar como arma, mas ela não aparecia nas opções. No fim das contas, enchi o saco, andei até o peixe e matei o desgraçado na espada mesmo. Mas o objetivo não foi cumprido.

Monster Hunter World, Delfos
Já que eu não tirei uma foto do peixe, este sou eu brincando de tirolesa.

Só umas cinco horas depois que, ao navegar pelos meus itens, eu encontrei a vara de pescar ali, e daí deduzi corretamente que tinha que ir até os itens e equipar a maledeta por ali. Ao descobrir isso, voltei ao local da missão e a cumpri em menos de dez segundos, o que poderia ter feito horas atrás com um tutorial decente.

Muita gente reclama que os jogos de hoje levam o jogador pela mão. Monster Hunter: World é o exato oposto. É extremamente complicado fazer as coisas mais simples por aqui, e os tutoriais parecem focar em coisas como “mova a alavanca esquerda para andar”, ao invés de ensinar o que realmente precisa ser ensinado. Assim, temos aqui um caso em que um manual físico realmente faz falta. Não pelo valor literário, mas porque é um saco ficar procurando guias online para entender os sistemas básicos do jogo. E quem conhece a série diz que este é o mais acessível de todos, então imagino como ela devia ser complicada no 3DS.

CAÇANDO

O foco do jogo, claro, é a caçada. E ela segue uma rotina bem simples. Você é liberado no mapa e deve andar a esmo procurando por traços do bicho. Depois de pegar pegadas suficientes (pois é, você pega as pegadas aqui), suas moscas amiguinhas marcam o caminho até o monstro. Agora é só matar o desgramado, no que é basicamente uma boss battle.

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E gera screenshots impressionantes.

Você pode escolher uma entre 14 armas, variando entre corpo a corpo e tiros. Infelizmente, não dá para equipar uma espada e um arco, decisão bem estranha da Capcom. Isso torna as caçadas contra os bichos voadores bem chatinhas, já que se você estiver com uma arma de curto alcance não tem como atacá-los de forma decente enquanto eles voam. Algumas armas são bem complicadas. Uma que achei bem legal é um combo espada e escudo que pode ser combinado em um big fuckin’ machado.

Depois de testar algumas das mais complicadas, no entanto, acabei optando pela mais simples de todas: duas espadas. Ela tem três ataques simples, com o Y, com o B e um combo fortão que envolve apertar Y e B ao mesmo tempo. Apertando o gatilho direito, ela ativa o modo demônio, que deixa os combos mais fortes à custa de stamina. No entanto, como os ataques não gastam stamina como acontece em Dark Souls, o verdadeiro custo do modo demônio para mim é que você fica imóvel por um segundo ao ativá-lo, o que às vezes pode permitir que o monstro fuja ou te ataque.

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Alô, mamãe!

Como todo o resto do jogo é desnecessariamente complicado, eu acabei gostando da simplicidade desta arma, mas na prática ela fazia com que os combates fossem simplesmente martelar os botões até o bicho morrer.

IDIOSSINCRASIAS DA CAPCOM

A Capcom talvez seja uma das desenvolvedoras mais idiossincráticas da atualidade. Lembro da minha antiga resenha do primeiro Dead Rising, onde critiquei o limite de tempo e o fato de a única forma de checá-lo ser através de um relógio de ponteiro. Ambas as características estão presentes aqui.

Cada quest, opcional ou de história, tem um limite de tempo, normalmente de 50 minutos. Em geral é tempo suficiente para você não se preocupar com isso, mas vou dizer que ficaria bem frustrado se eu estivesse no meio de uma luta difícil, quase vencendo, e daí falhasse por algo tão arbitrário como tempo.

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Ao cumprir a missão, você ganha uma tela estilosa.

A forma de checar quanto tempo falta, aliás, é justamente através de um reloginho de ponteiro que fica no canto superior esquerdo da tela. Por que não colocar um timer contando minutos e segundos, que seria bem mais claro e mais simples? Só o povo da Capcom sabe.

Outra idiossincrasia da editora que já me incomodava em jogos como Resident EvilDevil May Cry é a duração das batalhas contra chefes. Convenhamos, elas são simplesmente longas demais. E também é assim em Monster Hunter: World, como você já deve imaginar pelo limite de 50 minutos.

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Alguns monstros se cansam tanto que resolvem tirar uma soneca durante a luta.

Cada missão de caçada costumava levar para mim de 20 a 30 minutos, e a maior parte deste tempo eu estava frente a frente com meu alvo, atacando sem parar. Cada ataque da minha arma faz entre quatro e 10 pontos de dano e, embora não mostre a vida dos chefes (outra coisa estranha, considerando a duração das batalhas), deduzo que eles tenham alguns milhares de pontos, talvez chegando a mais de 10 mil.

As lutas são tão longas que, durante a batalha, o monstro vai fugir algumas vezes e você vai ter que parar para afiar suas armas, ou elas simplesmente param de fazer danos.

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Será que se eu ficar escondido aqui eles se matam?

Parece chato? De fato, parece. Se eu tivesse lido esta descrição antes de jogar, eu provavelmente não teria arriscado. E de fato, minhas primeiras horas com o jogo foram bem entediantes, brigando para entender seu sistema e para suportar as longas durações das lutas contra os chefes. Mas chegou uma hora que o troço clicou e eu comecei a me divertir.

Sim, isso demorou cerca de sete horas para acontecer, o que, para colocar em comparação, é quase a duração total do Resident Evil 7, mas a verdade é que a partir daí eu comecei a ficar bem empolgado para voltar a jogar Monster Hunter: World quando tinha que parar por algum tempo.

DARK SOULS

E chegamos agora ao ponto em que vou elaborar a comparação que fiz lá atrás. Assim como Dark SoulsMonster Hunter: World tem um mundo cuidadosamente desenvolvido, que é um prazer de explorar.

Embora o jogo se refira às criaturas como monstros, elas agem como bichos. Tem cadeia alimentar, incluindo animais que não são agressivos e fogem quando um predador aparece. O design de cada um dos monstros, especialmente os maiores, é simplesmente impressionante, mostrando o quanto de capricho foi colocado na obra.

Monster Hunter World, Delfos
Esta pedra, por exemplo, é um monstro camuflado no meio da lama.

Cada novo monstrão que você encontra costuma vir acompanhado por uma cutscene que invariavelmente vai fazer você soltar um ou mais “uaus”. Isso quando um monstro não aparece totalmente de surpresa. Quando eu estava caçando o camuflado aí de cima, ele resolveu fugir de mim e, enquanto eu corria atrás dele, um monstro enorme, chamado Diablos, saiu do nada de baixo da areia e o mordeu. Foi a primeira vez que eu vi o Diablos, e não vou mentir, eu soltei um “caray!” bem alto, seguido de uma troca de fraldas.

Monster Hunter World, Delfos
É comum encontrar dois monstros brigando entre si, nem aí para você.

Em outro momento, um monstro me deixou tonto e começou a se preparar para me atropelar. Antes que ele me acertasse, no entanto, o gatinho que serve de sidekick (e que eu batizei de Gatim) veio correndo e me empurrou, me tirando da zona de perigo. É o tipo de cena que vemos a toda hora em filmes ou em cutscenes, mas nunca tinha visto no meio do gameplay, em um momento não roteirizado.

Nem todos os momentos caprichados são épicos como a aparição surpresa do Diablos ou o instinto heróico do Gatim. Você pode, por exemplo, encontrar um pequeno besouro levando para casa uma bola de cocô de monstro, mostrando que o ecossistema vai muito além das grandes criaturas que você caça.

Monster Hunter World, Delfos
Obviamente, você pode chutar o besouro e pegar o cocô para você. Só não me pergunte o porquê.

Todo este cuidado com design é o que torna Monster Hunter: World um jogão e altamente recomendável. Porém, assim como em Dark Souls, ele tem um lado negativo, que vai afastar muita gente. No caso do Dark Souls, obviamente é a dificuldade, que exige uma tremenda tolerância de frustração para aproveitá-lo.

MAS E EM MONSTER HUNTER: WORLD?

Aqui você não vai lidar tanto com a frustração de morrer, mas vai precisar se esforçar muito para usar os sistemas mais simples do jogo. Como falei acima, eu demorei sete horas para começar a me divertir. Tem um monte de jogo que poderia ter jogado do início ao fim neste tempo, enquanto aqui estava apenas começando. Eu gostei de ter investido o tempo, mas nem todo mundo vai ter a mesma paciência. Eu mesmo provavelmente não a teria alguns anos atrás.

Além disso, tem um determinado ponto em que a história do jogo acaba. Porém, o jogo não acaba lá. Se tivesse acabado, aliás, teria deixado uma impressão ainda mais positiva. Neste momento, você é incumbido de ficar fazendo sidemissions enquanto junta pontos suficientes para poder continuar a história, em busca de um tal de “??? Rathian”.

Monster Hunter World, Delfos
Eis o tutorial que você vai receber ao invés de o jogo terminar.

Neste ponto eu já estava com mais de quarenta horas de jogo, bastante satisfeito com a jogatina e a fim de jogar outra coisa. Não apenas foi frustrante o jogo continuar, como também foi ruim ele me obrigar a fazer outras coisas antes de continuar a história. Lembrou, claro, o Sombras da Guerra, mas aqui você não tem a opção de pagar para pular a parte chata.

ONLINE

Assim como em DestinyMonster Hunter: World é melhor se jogado com amigos. Aliás, chefes com pontos de vida bombados é uma característica comum em jogos multiplayer. Infelizmente, até o momento de fechamento deste texto, o online no Xbox One ainda não funciona direito.

Monster Hunter World, Delfos
Tirei esta screenshot quando atendi ao SOS de outro jogador.

Ele ficou totalmente offline até o dia 30 de janeiro (o lançamento foi no dia 26). Depois disso, o online começou a funcionar de forma intermitente. Neste momento, é possível jogar multiplayer através de SOS (um sistema semelhante a Dark Souls, no qual você usa um item para pedir ajuda a outros jogadores), mas o matchmake de sessões, que possibilita algo mais dinâmico e interessante, ainda está bem quebrado. É possível entrar em sessões através do ID delas e se tiver apenas um jogador, mas não consegui entrar nenhuma vez em uma que tivesse dois ou mais jogadores.

ESPERE PARA JOGAR

Já é comum hoje em dia as pessoas dizerem que é melhor esperar para comprar um jogo. Não apenas pelo preço, que costuma cair muito rápido, mas pelo fato de ser comum o jogo só passar a funcionar direito algumas semanas depois do lançamento.

Este é o caso de Monster Hunter: World. No dia 30 de janeiro, quando o online começou a funcionar aos trancos e barrancos, eu já estava no final da campanha, tendo jogado tudo sozinho. Eu ficaria bem chateado se comprasse um jogo online no lançamento e, quando ele passasse a funcionar já tivesse terminado a campanha.

Monster Hunter World, Delfos
Que tal uma bela panorâmica para encerrar a resenha?

Imagino que o sistema deve ser totalmente ativado nos próximos dias, mas sugiro que, se você ainda não começou a jogar, espere mais um pouco para poder usufruir de tudo que ele oferece.

E Monster Hunter: World é um jogo que oferece bastante, mas também exige bastante. Está bem longe de ser uma diversão rápida e casual, mas se você insistir, a experiência em geral e todo o capricho com o design deste mundo vão te deixar boquiaberto.