Acredito que esta crítica A Médium é o primeiro texto delfiano sobre um filme tailandês. Normalmente esses países que estão fora do eixo principal do cinema não têm seus filmes exportados. Ou, quando têm, são documentários ou longas nada pop, que não interessariam aos delfonautas. Ora pois, mas A Médium é um terror. E, como tal, não poderíamos deixar de falar sobre.

CRÍTICA A MÉDIUM

A Médium é um falso documentário. Favor não confundir com found footage. Aqui acompanhamos um “documentário” sobre uma família de médiums tailandesa. As mulheres da família costumam incorporar um espírito bondoso, que é passado entre gerações.

Porém, as coisas ficam mais interessantes quando a jovem Mink começa a exibir sintomas de que será a próxima “premiada”. Os documentaristas enxergam a oportunidade de acompanhar a transição. O que eles não esperavam é que Mink não está prestes a receber um espírito bondoso, mas algo bem mais perigoso.

DIFERENTE

A Médium começa como um filme bem exótico. Ele apresenta o que imagino ser parte da espiritualidade tailandesa, bem como costumes gerais. Por exemplo, logo no início, você vê a história de um cara que encontrou uma cobra na rua e resolveu usá-la para fazer uma bebida. Quem nunca, né?

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Oi, eu sou a Mink, e vou ser seu monstrinho de hoje.

O filme começa focado na médium atual da família, mas logo passa a focar na Mink. Porém, a coisa é do tipo slow burn, bem diferente do terrorzão tradicional hollywoodiano. Sabe o que essa primeira parte me lembrou? O Exorcista. Isso porque os personagens são desenvolvidos, a possessão rola lentamente, e muito da cultura local é passada. E, convenhamos, acredito que ser comparado a O Exorcista é um grande elogio para qualquer diretor de terror.

MAS IGUAL

Crítica A Médium, A Médium, Paris Filmes, Tailândia, DelfosPorém A Médium parece ser um apanhado de homenagens e referências a vários filmes do gênero. Pouco depois da metade, os documentaristas resolvem colocar câmeras pela casa, na intenção de pegar o comportamento de Mink durante as noites. E daí a coisa vira um pastiche de Atividade Paranormal.

Eventualmente, a coisa se torna um filme de terror mais “barulhento”. Ou seja, com ação e violência. Impossível não lembrar do excelente [Rec], até porque, perto do final, a coisa tem zumbis e câmera com visão noturna (aquela verde, sabe?). Além disso, outras partes parecem diretamente tiradas de A Bruxa de Blair (o original).

E é uma pena, pois com tantas influências misturadas, A Médium acaba perdendo toda a personalidade forte que exibiu durante mais da metade da projeção. Ele vai de um filme de terror psicológico exótico e interessante para algo que já vimos muitas vezes em obras melhores e mais criativas.

Assim, quando os créditos subiram, eu fiquei com uma cara de WTF, pensando como diabos aquele filme que comecei a assistir evoluiu dessa forma. Só que, por mais que eu ame [Rec], não foi uma mudança bem-vinda. O longa simplesmente se perde no final, mudando de gênero e de temática, indo do psicológico para o shock horror. E as duas formas de assustar têm seus predicados, mas colocar ambas no mesmo filme exige algo que A Médium não tem. Você sabe, o tal do je ne sais quoi.