Edgar Wright, meu amigo delfonauta sabe muito bem, é o diretor de obras altamente nerds, como Todo Mundo Quase MortoScott Pilgrim. A filmografia do cara simplesmente transborda nerdgammapower. Nesta crítica Noite Passada em Soho, você vai conhecer o filme mais diferente que o nosso amigo dirigiu.

CRÍTICA NOITE PASSADA EM SOHO

Aqui conhecemos Ellie (Thomasim McKenzie), uma jovem garota que acaba de ser aceita em uma famosa faculdade de moda. Chegando lá, ela se sente deslocada dos outros alunos, e acaba optando por sair da república e morar em um quarto alugado. E aí as coisas começam a ficar mágicas.

Nos sonhos de Ellie, ela começa a ter visões de uma outra jovem, que viveu nos anos 60, época que lhe é muito cara. Esta moça, Sandie (Anya Taylor-Joy), sonha ser cantora e transborda confiança. Ela é tudo que Ellie gostaria de ser, e passa a influenciar nossa amiga protagonista fortemente.

Até aí, parece que seria uma história do tipo coming of age, tão comum na cultura pop. Afinal, vemos as duas moças indo atrás de seus objetivos. Porém, quando os sonhos da Ellie dão uma virada para o macabro, ela acredita que Sandie foi vítima de um crime não solucionado. E ao mesmo tempo, Noite Passada em Soho muda de gênero, e passa a ser um thriller de terror.

Crítica Noite Passada em Soho, Noite Passada em Soho, Edgar Wright, Last Night in Soho, DelfosO TERROR DE EDGAR WRIGHT

Ao virar um filme de terror, Noite Passada em Soho, no entanto, não demonstra o poder nerd de Todo Mundo Quase Morto (que, ok, você pode considerar comédia, mas ele também tem um lado terror bem forte). Apesar da temática ser totalmente diferente, Noite Passada em Soho me lembrou outro filme: Maligno.

Tanto o James Wan de Maligno quando Wright de Noite Passada em Soho vêm com a proposta de fazer um filme de terror de diretor. Não necessariamente autoral, embora ambos o sejam. Mas daquele tipo que está muito mais interessado em ser estiloso e visualmente impressionante, do que necessariamente uma boa história. O que, de novo, não significa que não seja uma boa história. Ela só não é o foco principal.

Nosso amigo Edgar já transborda estilo em sua direção desde a época da sitcom Spaced. Spaced é, discutivelmente, a sitcom mais estilosa já feita. Especialmente antes do renascimento da televisão que nos trouxe obras muito bem dirigidas como Breaking BadGame of Thrones. E ainda assim, Spaced é especial, não apenas para nerds, mas também para aqueles que se importam com o lado artesanal da arte audiovisual.

Noite Passada em Soho continua essa trajetória, mas ao contrário dos trabalhos anteriores de Wright (com a possível exceção de Scott Pilgrim), coloca a direção e o estilo como protagonistas da aventura. Por exemplo, há uma cena de dança logo no início, que começa como uma clara homenagem a Pulp Fiction, mas depois evolui para algo muito mais bacana. E há um monte de cenas assim, em especial quando há espelhos e as duas protagonistas aparecem ao mesmo tempo.

ERA VOCÊ O TEMPO TODO!

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E, sim, como um thriller de terror, Noite Passada em Soho acaba tendo aquele ar meio Scooby-Doo. Ou seja, um clímax que expõe o mistério, revelando-o em detalhes e dando um sentido a tudo que você acabou de assistir.

A revelação é satisfatória e, quando é feita, você começa a se lembrar dos prenúncios feitos antes. Mas isso nunca se torna mais importante do que simplesmente o fator audiovisual. Noite Passada em Soho é cheio de cores, músicas, figurinos. É um deleite para os sentidos, como pouquíssimos filmes do gênero são.

E, cá entre nós, eu não esperava um terror. Não sei o quanto o trailer revela (já contei que não assisto a trailers?), mas a virada para este gênero inesperado realmente me surpreendeu. E o que é mais legal, positivamente.

O saldo final, portanto, é positivo. Pela própria temática, Noite Passada em Soho nunca será meu trabalho preferido de Edgar Wright. Porém, é muito interessante por permitir vermos este tão talentoso diretor explorando novas avenidas e temáticas, com o mesmo estilo de sempre.

CRÍTICA NOITE PASSADA EM SOHO E OS BASTIDORES DO JORNALISMO

Uma coisa bizarra aconteceu na sessão de imprensa de Noite Passada em Soho. Bem no clímax do filme, quando tudo está sendo revelado, o som sumiu. Pouco tempo depois, começou a tocar uma sequência enorme de propagandas da Disney. Cerca de dez minutos se passaram até que algo fosse feito, onde os jornalistas presentes viam o filme enquanto ouviam propagandas.

Eventualmente, uma moça do cinema entrou na sala, corrigiu o problema e voltou para o início do clímax, permitindo que a gente visse de novo da forma correta. Porém, a surpresa já tinha ido embora. Não é algo que vai afetar a sua sessão, de forma alguma, mas é o tipo de coisa bizarra que acontece nessa vida de jornalista que eu gosto de compartilhar por aqui.