A Última Viagem do Deméter é um filme baseado em um interlúdio. O livro Drácula, de Bram Stoker, tem o grosso de sua história em dois países: Romênia e Inglaterra. O vampirão do mal, obviamente, começa na Romênia, mas em determinado ponto ele resolve ir para Londres. Para isso, freta um navio e o incumbe de levar uma pá de caixões. Apesar da carga estranha, parece um trabalho fácil para um navio de transporte.

Esta mini-história é contada em um único capítulo do livro original. É, sob todos os aspectos, um interlúdio na história principal. E, desta forma, não é especialmente desenvolvida. É um terreno fértil para fanfics ou obras derivadas, a ponto de que fiquei surpreso que ainda não tinham feito isso. Ou, se fizeram, eu não fiquei sabendo. Até agora.

CRÍTICA DRÁCULA A ÚLTIMA VIAGEM DO DEMÉTER

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Atrás de você, meu!

Que fique claro, eu acho uma excelente ideia pegar uma parte não desenvolvida de um livro clássico e criar em cima dela. Para começar, a simples premissa de um monte de pessoas inocentes presas em um navio com um monstro, sem possibilidade de fugir ou pedir ajuda, é ótima, e rende muito. Já rendeu, inclusive, pois Alien e muitos outros filmes criaram suas histórias em cima disso.

Outra vantagem sobre simplesmente contar uma história de “um monstro genérico no navio” é que você pode usar o nome do Drácula e toda a história do personagem para que o filme chame mais atenção do público. Na verdade, não duvido nada que o filme tenha surgido com a ideia básica e os produtores solicitaram aos roteiristas encaixá-la no meio do livro Drácula.

O MONSTRO NO NAVIO

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Esta imagem me dá aflição, mesmo sendo apenas um cafuné.

Então a ideia é boa e a IP é conhecida. O que faltava era a parte difícil. Construir um bom filme em cima disso. E Drácula A Última Viagem do Deméter é bom o suficiente, mas pouco além disso. Na prática é um slasher como tantos outros. A comparação com Alien é especialmente feliz, pois a pegada é mais ou menos a mesma. Ao contrário de A Hora do Pesadelo, por exemplo, aqui você vê pouco o monstro. Ele só aparece de forma mais clara nos arredores do clímax.

Particularmente, também me parece uma oportunidade perdida que o personagem Drácula não seja desenvolvido. Ele não é o conde que conhecemos do livro, mas basicamente um monstro assassino. Basicamente igual ao próprio Alien. Uma personagem fala para os colegas não confundirem o monstro como um animal que age apenas por instinto, mas se a gente não soubesse que é o Drácula, ou ela não falasse isso, poderia ser um urso ou um tubarão, ou qualquer outro tipo de animal ou monstro perigoso.

A AMBIENTAÇÃO DE A ÚLTIMA VIAGEM DO DEMÉTER

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Assim como no filme, o Drácula dá as caras na nossa resenha apenas no final.

Então a diferença entre este filme e Alien ou sua legião de imitadores é a ambientação. E neste ponto ele se dá bem. Longas viagens de navio são assustadoras por definição, uma das formas mais fortes de você ficar isolado do resto do mundo. Claro, hoje existem rádios e formas de comunicação com a civilização, mas no filme eles estão completamente jogados ao seu destino. Tem um momento assustador em que o capitão fala que no local em que estão, o porto mais próximo era mesmo o de Londres, que estava a dias de distância. Irgh, só lembrar disso já me dá arrepios.

Apesar da ambientação promissora, no entanto, o filme nunca fica muito melhor do que um filme nada. Ele repete sustos e ceninhas batidas dos slashers, a ponto de que deixa claro que, ou não havia criatividade aqui, ou ninguém parecia se importar. E isso o coloca bem naquela média do cinemão Hollywoodiano, tornando-o um slasher comum, cujo principal chamativo é justamente ser uma evolução em um interlúdio de um livro famoso. É o suficiente para chamar sua atenção?