Olha que curioso. Eu costumo me manter informado sobre cultura pop. Sei o que está saindo, mas dificilmente vejo trailers. Assim, é comum eu ir a filmes sem saber o que esperar (vide a surpresa que tive quando assisti a [REC]). Por causa disso, até a véspera da sessão de imprensa do novo Caça-Fantasmas (agora com título globalizado), eu sinceramente achava que ele seria uma continuação de Caça-Fantasmas (2016). Você provavelmente já sabe disso, mas não é o caso. Saiba tudo lendo nossa crítica Ghostbusters Mais Além.

CRÍTICA GHOSTBUSTERS MAIS ALÉM

Ghostbusters: Mais Além ignora completamente o desenho e o filme de 2016, mas segue com a cronologia original dos dois filmes dos anos 80, os clássicos dirigidos por Ivan Reitman. É uma tática que já foi usada por outras franquias esgotadas, como O Massacre da Serra ElétricaO Exterminador do Futuro (neste caso, mais de uma vez até). Mas funciona. É o tipo de coisa que traz um ar de legitimidade, ao mesmo tempo que atrai fãs mais casuais, que só conhecem a história mais famosa.

A ideia aqui, aliás, é a mesma de Gears of War 4. Ou seja, é uma história que acontece no mesmo mundo dos clássicos, e respeita a cronologia. Mas, ao mesmo tempo, visa reiniciar tudo, apresentando novos heróis e uma nova turminha.

Em busca da legitimidade, até colocaram de diretor o Jason Reitman, filho do diretor original. E esse é o tipo de coisa que não me desce, tipo o Jason Bonham substituindo o pai no Led Zeppelin. Esperar que só por ser filho do “ômi”, ele faça um bom trabalho é uma coisa meio monarquia, que simplesmente não funciona. E eu digo isso plenamente ciente de que eu até gosto mais do conjunto da obra do Jason como diretor do que do paizão Ivan.

CIÊNCIA É PUNK ROCK, CARA!

Crítica Ghostbusters, Ghostbusters, Delfos, Sony

Aqui conhecemos uma família na pindaíba. E eles nem moram num país governado pelo seu Jair. Quando o avô das crianças morre, vão a uma fazenda que ele tinha no meio do nada para organizar os pertences do velhinho. O que eles não esperavam era encontrar equipamentos dos Caça-Fantasmas. Entre eles uma armadilha carregada. Adivinha se eles não vão abrir o negócio e soltar fantasmas perigosos de volta no mundo?

Pois é, ninguém menos do que Gozer é libertada. E ela volta com o mesmo plano do filme original. Só que agora o Rick Moranis tem a cara do Paul Rudd. Ah, era tão legal quando o cinema dava espaço para pessoas com aparências normais, como o Rick Moranis… quando não precisava ser todo mundo lindo de morrer... Você lembra disso? Hollywood com certeza quer esquecer.

Este é um filme que é muito fácil dar algo considerado spoiler sem querer. Por exemplo, a identidade do avô das crianças protagonistas. Fica claro literalmente na primeira cena quem é, e apenas um dos quatro atores que fizeram os Caça-Fantasmas original morreu. Você consideraria isso um spoiler? Eu não, mas por via das dúvidas não vou falar o nome do personagem.

CIÊNCIA É O PIERCING NOS MAMILOS DA ACADEMIA!

O que eu posso falar é que esse tipo de história funciona melhor quando os personagens conhecidos são parte importante da trama, não apenas easter eggs. Posso exemplificar sem spoiler nenhum. Nos primeiros minutos de filme, aparece a Janine. Mas ela tem apenas aquela cena, sumindo logo depois. Ela não está lá para avançar a história, mas só para fazer você falar “olha, é a Janine”. Esse tipo de easter egg funcionava bem no filme anterior, de 2016, porque era uma história independente. Mas como uma continuação oficial, a Janine merecia maior destaque.

Gears of War 4 fez isso bem. Sim, a participação de Cole e Baird são apenas easter eggs, mas o Marcus Fenix é um personagem vital para o jogo. O mesmo podemos dizer da continuação que a HBO fez para Watchmen, onde o Doutor Manhattan, o Ozymandias e a Espectral são super importantes, mesmo que não sejam os protagonistas. Se você vai seguir por esse caminho, é assim que tem que ser. Não precisa voltar todo mundo, claro, mas quem volta precisa fazer um impacto, não ser só um enfeite.

CRÍTICA GHOSTBUSTERS MAIS ALÉM E O CAMINHO ERRADO

Ghostbusters Mais Além sofre do mesmo problema pelo qual critiquei Duna. Ele é mais preocupado em construir do que em contar. Em outras palavras, Ghostbusters Mais Além é uma promessa. Seria um bom episódio piloto de uma série de TV, mas como filme é falho.

Crítica Ghostbusters, Ghostbusters, Delfos, Sony
Isso é o que você quer ver aqui, certo? Pois prepare-se.

Ele fica muito tempo desenvolvendo o mundo, e muito pouco com ação, fantasmas e humor, que é o que todo mundo quer ver. O filme já deve estar quase na metade quando aparece o primeiro fantasma. Quando a menina finalmente atira os raios de próton pela primeira vez (curiosamente a cena acima) já dá para ver as cores da conclusão.

Lembro das críticas que meu colega Carlos Cyrino fazia ao DCU, onde dizia que eles ficavam tanto tempo na origem que nunca apresentavam os personagens que todo mundo queria ver. Lembro especificamente de ele me falar que o Superman morreu sem ficar pronto. É mais ou menos assim por aqui. Vemos os embriões do que podem vir a ser os novos Caça-Fantasmas, mas não é neste filme que eles mostram a que vieram. Sim, eles encontram a Gozer e tudo mais, mas Caça-Fantasmas mesmo eles não viram.

QUANDO O FILHO ILEGÍTIMO É MAIS LEGÍTIMO

Curiosamente, o filme de 2016, que tenta reviver a franquia com uma turma nova, totalmente independente dos clássicos, funciona bem melhor como um filme propriamente dito. Afinal, ele é engraçado, divertido, tem um monte de fantasmas e cenas de ação. Goste ou não dele, é uma história completa, satisfatória. Não é só um “primeiro capítulo” de algo que quer ser maior, embora, como sempre acontece em Hollywood, ele obviamente queria ser maior.

Veja, todas essas críticas não significam que eu não gostei do filme. Ele até diverte, embora muito menos do que você espera dessa franquia que, desde os anos 80, é sinônimo de diversão. Talvez fosse melhor se, ao invés de ser co-roteirizado pelo Jason Reitman, o tivesse sido por Dan Aykroyd. Afinal, o cara é co-criador dos personagens (ao lado do falecido Harold Ramis). Ele entende do conceito, entende como contar uma boa história nesse mundo. O Jason Reitman… bem, ele é um bom diretor, e eu gosto muito dos filmes dele, mas sangue não garante legitimidade para nada e seus filmes são todos MUITO diferentes do Caça-Fantasmas original.

CRÍTICA GHOSTBUSTERS MAIS ALÉM: A CULPA É DO BILL MURRAY

Como um fã de Caça-Fantasmas, eu fico pessoalmente – e de forma até injusta – chateado com o Bill Murray. Afinal, Dan e Harold vêm tentando reviver os Caça-Fantasmas há literalmente décadas e o Bill que ficava empatando tudo (isso está bem registrado aqui no DELFOS, da época em que fazíamos notícias). Só foram convencer o cara a voltar ao papel para aquele jogo AA de 2009, Ghostbusters – The Game, que acabou sendo a única continuação oficial da história até agora. E o seu Harold morreu pouco depois, em 2014.

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E claro, eu sei que é injusto porque o Bill Murray não é obrigado a voltar para um personagem que considera passado. Ele está muito ocupado dublando o Garfield, afinal de contas. E tá vendo, mesmo quando eu tento dar passe livre para o cara, eu mostro minha chateação.

CRÍTICA GHOSTBUSTERS MAIS ALÉM: NUNCA É TARDE DEMAIS

Com Bill Murray ou sem, com Harold Ramis ou sem (esse vai ter que ser sem mesmo), não acho que é tarde demais para os Caça-Fantasmas voltarem. E não vejo problema em ser uma nova turma. Afinal, mesmo os 3/4 ainda vivos do grupo já são bem velhinhos. Ghostbuster Mais Além certamente é um passo nesse caminho. Tipo, ele existe. É um primeiro passo, e pouco além disso. Vamos torcer para que, em eventuais próximos filmes, quem quer que seja a equipe criativa acerte o tom, e mostre o que os fãs querem ver. E não me refiro a easter eggs, mas a desenvolvimento real de história.

WHO YOU GONNA CALL?

Caça-Fantasmas

 

Ghostbusters, o game de 2016