O diretor Jason Reitman e a roteirista Diablo Cody já duplaram duas vezes antes. A primeira parceria rendeu o excelentíssimo Juno. A segunda gerou o decepcionante Jovens Adultos. Neste, a dupla virou um trio, com o adendo da atriz Charlize Theron. Pois os três estão de volta em Tully que, como é tradicional na obra do diretor, é um longa bastante humano.

Aqui, conhecemos Marlo (Theron). Mãe de dois filhos, um deles com problemas mentais, ela resolve procriar mais uma vez. Obviamente, isso deixa a vida da mulher, que já era pesada, ainda mais exaustiva. Não ajuda muito o fato de o marido Drew (Ron Livingston) deixar tudo nas costas da patroa. Sem dúvida se trata de um personagem no qual, creio eu, muitas mulheres vão projetar seus próprios companheiros.

Tully, Charlize Theron, Delfos
Uma cena bem comum em casas com crianças pequenas.

Seu irmão, então, sugere a contratação de uma babá noturna e se oferece para pagar por ela.

ENTRA TULLY

A babá em questão é Tully (Mackenzie Davis), uma moça simpática, inteligente e que poderia muito bem render a este longa o título Uma Babá Quase Perfeita. Aliás, vale destacar a curiosidade: o título original do Uma Babá Quase Perfeita é Mrs. Doubtfire. Ou seja, tanto ele como este carregam como título o nome das babás em questão, embora ambos sejam bem diferentes.

Tully tira um enorme peso das costas da mamãe de terceira viagem, que volta a finalmente aproveitar novamente a vida. Pela primeira vez em anos, ela tem tempo livre, e consegue dormir. E de quebra, as duas acabam criando uma amizade.

Tully, Charlize Theron, Delfos
Apesar de cansativa, a maternidade pode ser muito fofa.

Felizmente, ao contrário de Jovens AdultosTully coloca a parceria Reitman/Cody de volta nos eixos. Não é uma comédia leve e fofa como Juno, mas tem algumas boas piadas e o fator identificação é altíssimo, como costuma ser padrão nos filmes de Reitman.

Particularmente, para mim a identificação acabou sendo ainda maior do que o normal, uma vez que eu sou um papai de primeira viagem. E, admito, já joguei videogame enquanto a patroa cuidava da pimpolha.

Tully, Charlize Theron, DelfosApesar de ter rolado uma forte identificação minha com os conflitos do filme, tenho certeza que isso seria bem mais forte para mulheres. Esta é, afinal de contas, uma história contada do ponto de vista feminino.

MAS…

Tully tem um problema. Um problema perfeitamente evitável e que puxa o filme para baixo como um espírito que arrasta Alison Lohman para o inferno.

Trata-se de uma viradinha que rola próxima ao final que é inesperada pelo simples fato de ser totalmente desnecessária e fora de contexto.

Para piorar, é EXATAMENTE a mesma viradinha de um filme importantíssimo lançado em 1999. Inclusive, eu sequer posso dizer o nome do filme em questão aqui ou você já mataria a charada de Tully. O troço é tão desnecessário que, quando subiram os créditos, esperava que aparecesse na tela a frase “A film by M. Night Shyamalan“.

Desnecessário, aliás, é pouco. Tully não é um filme de viradinha. O gênero é outro. Este não é um suspense, é uma história slice of life e é quando foca nisso que brilha. Eu gostei do longa como um todo, mas o final me fez sair da sala com um gosto amargo na boca, mais ou menos como aconteceu em Vingadores: Guerra Infinita. E, assim como no filme da Marvel, era tão fácil ter evitado isso.