Sob o Mesmo Céu

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A vida de crítico de cinema tem umas anedotas engraçadas. Diferente de games, por exemplo, onde jogar e resenhar algo é pelo menos uma semana de trabalho, cinema é muito mais rápido. Os filmes mais longos dificilmente chegam às três horas, e assim as críticas também são um tanto mais curtas. Na prática, uma crítica de cinema é feita em menos de um dia.

Por causa disso, a turma que fala bastante de cinema aqui no DELFOS já resenhou muitos filmes. E desta forma, é comum a gente ter resenhado filmes dos quais a gente até se esquece de ter assistido.

O cineasta Cameron Crowe é bastante lembrado pelos delfonautas por ter sido o diretor de coisas legais, como Quase Famosos e Jerry Maguire. No entanto, eu sinceramente me surpreendi ao entrar na sua filmografia no IMDB e ver que ele dirigiu Compramos Um Zoológico, filme que eu resenhei quatro anos arás.

Eu até me lembro do filme, e me lembro de ter escrito a resenha, mas não tinha nenhuma memória que o Camarão Corvo era o diretor. E eu até falei dele no texto. Que puxa.

ALOHA

O delfonauta mais ligadão deve ter percebido que eu até agora não falei nada de Sob o Mesmo Céu, novo filme do sujeito, que estreia esta semana. Pois é, acontece que este é um daqueles filmes tão genéricos, tão sem razão de existir, que eu nem tenho muito o que comentar. Mas vamos lá.

Bradley Cooper faz um militar que passou por maus bocados – dentre eles ter o dedão de outro cara costurado em seu pé. Ele vai até o Havaí com uma missão que pode ajudá-lo a recuperar as glórias passadas, e que envolve convencer um sujeito local chamado de “Rei” do crime a dar sua benção ao lançamento de um satélite. A situação política no Havaí é delicada, e muito bem resumida na camiseta usada pelo tal rei, que exibe as palavras “havaiano de nascença, estadunidense à força”. Assim, é fácil entender que os militares não são exatamente queridos pelos caiçaras.

O foco do filme, no entanto, é mesmo no relacionamento de Bradley com duas mulheres. Sua ex-namorada (Rachel McAdams), agora casada com um colega (John Krasinski), e a guria designada a acompanhá-lo (Emma Stone, que está uma fofura no papel).

O principal problema do filme já está aí. Nós, aqui no Brasil, não temos a mesma relação que os estadunidenses têm com seus militares. Para a maioria de nós, o exército e derivados são um tremendo fardo no qual temos que nos alistar aos 18 anos e sacrificar bodes para não ser obrigado a servir. E aqueles que vão, acabam saindo traumatizados e não gostam de falar no ano que ficaram de prisioneiros lá. Convenhamos, qualquer coisa que sirva para a guerra não deveria nem existir. Mas claro, estamos longe de um mundo ideal, e estou saindo do tópico de hoje. O ponto é que é difícil para um brasileiro simpatizar com os protagonistas do filme.

Além disso, tem toda uma discussão no filme sobre os havaianos considerarem o céu sagrado e que não deve ter satélites armados lá, e obviamente os estadunidenses, como sempre, querem colocar armas em todo lugar e em todos os países.

Tem bastante coisa no filme sobre a cultura havaiana. Por exemplo, você sabe o que é mana? Como você provavelmente é tão nerd quanto eu, deve ter falado que é a barra que indica a quantidade de magia, normalmente localizada abaixo da barra de life. Mas no Havaí, ela significa “poder do espírito”. Outra coisa que eu não fazia a menor ideia que vinha da cultura havaiana é a palavra kamehameha, que eu podia jurar que vinha de um grupo de japoneses loiros com rabo de macaco. O tratamento dado à cultura local é a melhor coisa do filme, e digo isso mesmo sem ter um interesse especial no Havaí. Se você tem, capaz de gostar muito mais do que eu.

De qualquer forma, este é um filme que provavelmente é lançado nos nossos cinemas apenas porque o diretor ainda chama a atenção, mas se fosse comandado por alguém de menor gabarito, provavelmente passaria batido. E é exatamente isso que eu sugiro que você faça. Passe batido. Provavelmente ainda estão exibindo Mad Max na sala ao lado.