Bacurau vem conquistando honras importantes e inéditas para filmes brasileiros, como o grande prêmio do júri do Festival de Cannes. Ele também tem grandes chances de representar o Brasil na próxima cerimônia do Oscar. O mais legal é que, embora ele se passe no sertão brasileiro, sua temática é bem mais pop do que as imagens denunciam.

CRÍTICA BACURAU

Bacurau é uma cidadezinha minúscula. Daquelas que tem apenas uma rua, sabe? Praticamente uma vila. Eles vivem na seca e têm que lidar com as vicissitudes da região. A primeira meia hora da projeção faz pensar que esta será a temática e, para ser sincero, é bastante entediante.

Bacurau, Crítica Bacurau, Sônia Braga, Delfos

Felizmente, a coisa dá uma virada de 180 graus quando um caminhão pipa chega à cidade com buracos de bala. Pouco depois, dois motoqueiros do sul aparecem fazendo perguntas, e os cidadãos ficam cabreiros. Este é o momento em que o filme se torna realmente interessante.

Bacurau, Crítica Bacurau, Sônia Braga, DelfosTrata-se de uma cena bem lenta e focada nos diálogos, mas com uma construção de tensão enorme. Lembra aquele jogo de cartas no Bastardos Inglórios em que tudo está aparentemente amigável, mas você fica esperando as coisas irem pro beleléu? É por aí.

Aliás, tanto em temática quanto em narrativa, Bacurau tem muito de Tarantino. Ele chega, inclusive, a literalmente refilmar uma cena famosa de Kill Bill Vol. 2. E esta não é a única referência pop do filme. Entre outras, há, por exemplo, uma escola chamada João Carpinteiro. Desnecessário dizer que as influências dos diretores são exibidas orgulhosamente. E são nomes que eu sei que os leitores do DELFOS admiram.

GRINGOS ASSASSINOS

Apesar da cena recriada de Kill Bill, eu diria que a história e a narrativa de Bacurau têm mais a ver com outro filme do Tarantino: À Prova de Morte. O perigo sofrido pela pequena vila vem de gringos de alto escalão armados até os dentes que resolvem matar brasileiros por esporte.

Uma das cenas mais marcantes é quando eles começam a tirar sarro de um brasileiro que se diz branco. “Branco mexicano, talvez”, um deles exclama. Isso deixa claro como eles se sentem superiores a suas vítimas.

Não pense, no entanto, que este é um filme de ação ou de terror. Também não espere uma comédia, como as obras de Tarantino – embora ele brinque bastante com humor em momentos pontuais. O que mais temos em Bacurau e o que ele faz de melhor são justamente as cenas de diálogos que dão o tempo necessário para a tensão crescer até ficar palpável. Daí minha comparação com À Prova de Morte que, como você deve se lembrar, envolve basicamente duas longas cenas de diálogos.

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Há problemas narrativos, no entanto. Há coisas que não fazem sentido (por que aquele caboclo atirou no coleguinha?) e o final, depois de tanta construção, acaba sendo corrido e insatisfatório.

Isso diminui a experiência como um todo, mas não tira de Bacurau o fato de ser um filme nacional bem diferente. Eu o colocaria, inclusive, lado a lado ao excelente O Animal Cordial.

É o Brasil mostrando que também sabe fazer cinema de gênero, mais pop sem ser novelesco. E é o tipo de filme que faz qualquer delfonauta que se preze querer ir ao cinema.

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Nota:
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
critica-bacurauPaís: Brasil / França<br> Ano: 2019<br> Duração: 2h11m<br> Diretor: Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho<br> Roteiro: Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho<br> Elenco: Udo Kier, Sônia Braga, Karine Teles e Chris Doubek.