Entrevista coletiva com a equipe do filme O Coronel e o Lobisomem

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Sinceramente, amigo delfonauta, nunca tinha visto tanta gente famosa no mesmo lugar. A sala de conferências de um grande hotel no Itaim, São Paulo, que serviu de base para a coletiva com atores e equipe de O Coronel e o Lobisomem, mais parecia uma filial da toda poderosa Rede Globo. Sente só: estavam presentes os atores Tonico Pereira, Pedro Paulo Rangel, Andréa Beltrão e Lúcio Mauro Filho, além dos protagonistas Diogo Vilela, Selton Mello e Ana Paula Arósio. Compondo o pessoal que fica atrás das câmeras, estavam lá os produtores Guel Arraes e Paula Lavigne, o diretor Mauricio Farias e as grandes surpresas, os músicos Caetano Veloso e Milton Nascimento, responsáveis pela trilha sonora.

Após assistirmos a um vídeo de 4 minutos sobre a execução dos efeitos especiais (a maioria deles bem toscos), Paula Lavigne comentou como foi produzir um filme com efeitos digitais, algo que ainda é novidade no cinema brazuca. “(depois de O Coronel e o Lobisomem) acabei jurando nunca mais fazer um filme com efeitos especiais. Mas eles não deixam a desejar, são de nível internacional”. Discordo completamente. As cenas do lobisomem ficaram particularmente constrangedoras. Mas o trabalho dela é vender o peixe, então está perdoada.

Guel Arraes, que dessa vez apenas produziu o filme, que tem a cara dele (daí eu ter a forte suspeita dele ter dirigido por controle remoto), lembrou que essa é a terceira vez que ele trabalha com grande parte das pessoas envolvidas na produção. As duas anteriores foram em O Auto da Compadecida e Lisbela e o Prisioneiro. Disse ainda que foi uma parceria inédita entre ele e o diretor estreante em cinema, Mauricio Farias. (mais uma evidência: um cara sem experiência anterior na telona dirigindo um filme desse porte? Acho que não…). “O grande acréscimo no terceiro foi a entrada do Mauricio”.

Perguntada sobre porque vende o longa remetendo-o aos filmes de Guel Arraes (novamente, O Auto da Compadecida e Lisbela e o Prisioneiro – Caramuru parece ter sido esquecido), Paula Lavigne rebateu: “quando vendo o filme remetendo a esses dois, é para remeter a um padrão Guel de qualidade. Este não é exatamente uma comédia, é uma outra onda. Então não é uma comparação”.

Mas e como foi para o Mauricio dirigir seu primeiro filme? E com efeitos especiais ainda por cima: “Foi um prazer e os efeitos foram uma parte importante que ajudou a contar a história. Mas os atores são o maior expoente do filme”. Sobre o uso de chroma key (o famoso fundo azul ou verde): “não foi nada difícil. Eu já trabalho na TV há anos (atualmente ele é o diretor da série A Grande Família). Foi tranqüilo. Os jovens aceitam o 3D como algo comum”.

Não é só Mauricio Farias que estreou no cinema, este filme também marca a estréia oficial de Ana Paula Arósio nos longas. Antes disso, ela tinha feito apenas duas pequenas pontas em Per Sempre e Celeste & Estrela. “Fiquei encantada com a personagem (a prima Esmeraldina). Comédia é muito bom de se fazer e mesmo não tendo experiência no gênero, estou muito bem amparada. Estou muito feliz”.

A seguir, Farias explicou a escolha do texto: “o livro é uma obra-prima, um texto maravilhoso, extremamente engraçado. A idéia de fazer o filme veio do Guel, ele me convidou. Adaptar o livro por si só já é um desafio que justifica sua adaptação. O roteiro não é uma transposição, mas mantém o espírito”. Guel complementou: “fundimos diversos personagens do original”.

Tonico Pereira disse que a obra foi o primeiro livro que leu na vida e lembrou que na primeira versão do filme, de 1979, interpretou o lobisomem.

Pedro Paulo Rangel recordou que já tinha feito o mesmo personagem (Seu Juquinha) quando Guel adaptou a história para um especial da Globo. Terminou lembrando que este foi o último filme de Francisco Milani, morto recentemente.

Andréa aproveitou a deixa e dedicou seu trabalho ao falecido comediante. No filme, eles atuam juntos, como pai e filha. “Me lembra muito a dobradinha que a gente fez em Armação Ilimitada”.

Hora dos astros do filme falarem um pouco. Diogo, sobre seu personagem, Ponciano: “é um personagem muito rico, super brasileiro. Ele tinha que ter aquele temperamento, como um Barão Munchausen da roça”.

Selton, sobre como foi trabalhar com Vilela: “é ótimo trabalhar com o Diogo. Tinha uma coisa de maquiagem muito forte, de caracterização. Não foi fácil. A cabeça da minha geração foi o TV Pirata, onde o Diogo trabalhou”. Complementou dizendo como foi a experiência de interpretar um lobisomem. “Não foi divertido (risos), tive que usar uma roupinha meio Tartarugas Ninja” (mais risos) – Se a declaração de Selton o deixou com saudades das criaturinhas mutantes, leia resenhas sobre os jogos aqui e aqui. “Não sabia se ia estar pagando mico, mas o resultado ficou bonzaço (SIC)”.

Uma jornalista/fã, pergunta por que a parceria musical entre Caetano e Milton não ganhou mais espaço no filme. Segundo ela, os dois foram mal aproveitados. Pouco depois ela iria se arrepender profundamente de ter dado sua opinião…

O diretor respondeu educadamente: “Milton e Caetano com certeza teriam mais espaço. Eles se juntaram quando o filme estava quase pronto. Não tinha muito espaço para a música no princípio. Quando eles entraram (no projeto) a gente tentou abrir mais espaço”.

Se o diretor foi educado e tentou responder da melhor maneira possível, não podemos dizer o mesmo de Paula Lavigne, que teve uma atitude digna de sua xará de sobrenome, a temperamental Avril. Visivelmente incomodada com a declaração da jornalista, deu um pequeno chilique e passou a defender com garra a trilha sonora, entrando num bate-boca com a coitada que durou alguns minutos e rendeu a alegria dos jornalistas presentes, sedentos por sangue.

Quando as coisas se acalmaram, Milton Nascimento falou um pouco sobre o trabalho de criar a trilha. “Todos os personagens têm uma música. Comecei a compor por causa do cinema”. Terminou dizendo que um dos atores mais importantes e que mais o inspirou não estava presente. Trata-se do galo Vermelhinho, uma das melhores atuações de todos os tempos, comparando-se à da cadela Baleia em Vidas Secas.

A seguir, Caetano Veloso assumiu o microfone, e, quando todos pensavam que ele ia terminar o serviço de sua ex-mulher, atacando impiedosamente a infeliz jornalista (lembre-se que o músico tem fama de odiar jornalistas e de ter chiliques sempre que entra em contato com eles), eis que ele a defende. Surpresa, um momento de sensatez entre a insanidade! “O comentário da jornalista não merecia tanto reparo, tanta defesa. Também fiquei entusiasmado com as músicas do filme”, querendo dizer que também gostaria que houvesse mais canções da parceria na película. A jornalista, após o ataque de Lavigne, deve ter lavado a alma, afinal, não é todo dia que se é defendido por Caetano Veloso.

Para quem, assim como nossa colega de profissão, quer ver mais Milton e Caetano juntos, uma boa notícia. Eles farão uma série de shows juntos, onde apresentarão as músicas do filme e também outras composições conjuntas.

Veloso ainda terminou a coletiva com uma das melhores xavecadas que eu já ouvi, mas que infelizmente só pode ser executada por compositores. “As canções saíram dos olhos de Ana Paula Arósio”. Mestre!

Depois dessa, mais nada poderia ser acrescentado. Encerrada a entrevista, veio a já tradicional sessão de fotos. Após os cliques, os astros foram almoçar (hum, almoço…), afinal eles também são filhos de Deus (aquela entidade mística que criou todo o universo), embora muito mais afortunados que os pobres jornalistas, que seguiram seus caminhos, felizes por terem encontrado numa tarde, mais gente entrevistável do que se esperava, afinal, o convite para a coletiva não especificava quem estaria presente. Assim, todos os repórteres que compareceram, tiveram, no mínimo, uma grata surpresa. E isso já é bem mais do que geralmente ocorre nesses eventos.

Certo, tinha muita gente conhecida, o papo foi legal, mas e o filme, é bom? Qual é a história? Devo parar de fazer perguntas agora? As respostas para essas questões (pelo menos as duas primeiras), você encontra amanhã, com a resenha do filme. Até lá.

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