Eu não sabia muito o que esperar quando comecei a pensar nesta análise Everreach: Project Eden. A editora diz que o jogo é um RPG, e as comparações internet afora colocam Mass Effect como uma grande inspiração. Será que eu teria saco para mais um RPG de centenas de horas neste momento da minha vida? O que me convenceu a dar uma chance a ele foi um vídeo da desenvolvedora onde eles dizem que não era mundo aberto. Isso deu uma animada, uma vez que é raro vermos jogos em 3D que não sigam esta linha.

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Você pode escolher o que falar, mas as semelhanças com Mass Effect não vão muito além disso.

Eu me surpreendi positivamente quando comecei minha campanha. Embora eu entenda as comparações com Mass Effect (há escolhas de diálogos e a direção de arte é semelhante), eu compararia o jogo em si mais com o excelente Vanquish. Mas calma, limite suas expectativas. Aqui não temos a qualidade, o espetáculo nem o orçamento de Vanquish. O que temos é um jogo indie esforçado e divertido que, embora tenha problemas – alguns graves – consegue divertir ao fornecer algo que simplesmente não existe mais no mundo dos games: um jogo de tiro em terceira pessoa linear e focado na história.

ANÁLISE EVERREACH: PROJECT EDEN

Pois é exatamente isso que você vai encontrar aqui. Quantos jogos que se encaixam nesta descrição foram lançados na atual geração? Gears of War 4 talvez seja um dos únicos (uma vez que até Gears 5 traiu o movimento e virou mundo aberto). Quantum Break é outro. E acho que paramos por aí. Mesmo campanhas de FPS andam raras. De vez em quando popa um Call of Duty com campanha (e nem isso é mais garantido hoje em dia), ou um Wolfenstein, mas esta geração foi triste para quem gosta de dar uns tirinhos em single player.

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Não dá para analisar jogos no vácuo. E é verdade que, se Everreach: Project Eden tivesse saído na geração passada, ele provavelmente seria afogado em meio a dezenas de jogos melhores. Ele sai, no fim de 2019, no entanto, em um cenário bem diferente, praticamente sem concorrentes. Third-person shooter é um gênero praticamente morto hoje em dia, o que torna Project Eden quase um zumbi. E sabe o que eu penso disso?

GRAÇAS A DEUS QUE ZUMBIS EXISTEM!

Na história do jogo, você controla uma moça que protege terráqueos em outros planetas. Na missão de hoje, ela vai ao planeta Eden, que está sendo colonizado. Ao chegar lá, ela descobre que os colonizadores estão guerreando, aparentemente após um ataque unilateral e sem motivos. O outro lado nada podia fazer a não ser se defender. Obviamente, é deste lado que você está, e em suas missões deve ir atrás de mantimentos e de informações para descobrir o que está acontecendo.

É uma história bem bacana. Aliás, eu diria que é o melhor aspecto do jogo. A trama é interessante, tem viradinhas que eu não consegui adivinhar, e os personagens são bacanas. Os atores não são especialmente bons, mas isso é compreensível considerando que se trata de um jogo de baixo orçamento.

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Esta bolinha flutuante te acompanha em toda sua aventura.

Eu gostei especialmente da robozinha que te acompanha em sua aventura. Você sabe, eu tenho um fraco por robôs, e ela traz ao jogo um humor bem bobinho que muito me agrada (coisas do tipo: “detectei que você está estressada, quer que eu toque uma música relaxante?”).

LINEAR COM SIDEMISSIONS

As fases são, em geral, bem lineares, mas contam com algumas sidemissions. Estas são bem simples. Você pode seguir em frente para continuar a história, ou ir para a direita e cumprir a sidemission antes. Não é nada que estrague o jogo ou tire o foco do que ele tem de bom.

Eu só não digo que este é um jogo totalmente sem perda de tempo porque ele tem alguns minigames de hacking bem chatinhos. Felizmente, em uma campanha de cerca de cinco horas, você não deve passar mais de 15 minutos nestes minigames. Diante da quantidade de bullshit que a gente tem que aguentar para jogar qualquer coisa hoje em dia, até que esta proporção não é das piores.

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Ainda assim é fato que estes minigames não deveriam existir.

RPG?

Provavelmente a editora diz que Everreach: Project Eden é um RPG porque você sobe de nível e há uma skill tree (bem elaborada até). Porém, não há loot e a coisa é bem direta. Basicamente, você escolhe se vai investir seus recursos em um escudo mais durável ou em balas mais poderosas.

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Há quatro habilidades especiais que podem ser destravadas, mas nenhuma delas faz muita diferença no jogo, e elas ficam relativamente escondidas na enorme skill tree. A gunplay está longe de ser a melhor da categoria. Para ser sincero, não é nem muito boa. Eu a classificaria como um pouco abaixo de eficiente. Mas você sabe, se quiser dar uns tiros sem ter que pegar loot ou investir dezenas de horas, não tem muita outra opção. Este é o que tem pra hoje. E isso me leva aos problemas que, sim, existem por aqui.

PROBLEMAS

Basicamente, toda a UX (user experience) tem problemas. Navegar nos menus é mais difícil do que deveria ser (as opções escolhidas nem sempre “acendem”). Não dá para mexer nas opções durante o jogo, apenas no menu principal. E isso, somado aos loadings de três minutos no Xbox One X, fizeram com que eu perdesse pelo menos uns 15 minutos só para acertar a sensibilidade da mira. Ainda pior é que as opções não salvam (embora o jogo pare por alguns segundos com a mensagem de “salvando” quando você as fecha). Ao voltar para a tela título ou reiniciar o jogo, é necessário ajustar tudo novamente, pois elas retornam ao padrão.

Mesmo andar no jogo não é especialmente agradável. A personagem é muito lenta, e consegue correr muito pouco antes de se cansar. Além disso, qualquer tipo de relevo ou detalhe do cenário impede que você ande, mesmo que seu objetivo esteja bem à frente. Isso cria a sensação de que o jogo é cheio de paredes invisíveis, a não ser que você ande olhando para o chão.

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Este ferrinho impede que você passe. Prepare-se para contornar pedrinhas, flores e diversos pequenos obstáculos para progredir.

O jogo também travou algumas vezes durante minha campanha, e os checkpoints espaçados e loads quase eternos fizeram com que eu mudasse minha dificuldade para o fácil justamente para não perder um tempo que eu não tenho esperando ou repetindo longos trechos.

HEADING FOR TOMORROW

Everreach: Project Eden até é visualmente bonito, mas é bem claro que foi feito com baixo orçamento. Não é o caso de um AA como Hellblade, e nem mesmo de um A, como The Sinking City. Eu diria que este é um jogo tão independente quanto os tradicionais metroidvanias pixelados que saem a toda hora. A diferença é que ele é muito mais ambicioso, e é justamente isso que faz a diferença, e o torna único.

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O visual é até agradável, mas não vai impressionar ninguém.

Uma pessoa satisfeita precisa de alimentos mais elaborados para ter prazer em comer. Alguém morrendo de fome consegue tirar proveito de uma folha de alface sem tempero. Nesta metáfora, eu sou uma dessas pessoas famintas, mas por um jogo de ação. E acredito que tem muito mais gente como eu, por aí. Everreach: Project Eden não é nenhum lasanhão, mas eu realmente estava precisando desta folha de alface. E você?