Returnal PC chegou. De todos os games da Playstation cujo lançamento eu cobri no PC, este era o que mais me animava, pessoalmente falando. Acontece que não sou da master race. Eu gosto mesmo de jogar no console, na minha TV grande e poltrona reclinável. Porém, a quantidade de babaquice – aka o ingrediente especial do chef José Marques – anda tão grande nos games atualmente que, diante de um futuro sombrio em que não seria mais possível para mim jogar videogames, precisei comprar um PC.

Returnal, você deve lembrar, foi o game que inspirou a metáfora original do chef José Marques. Aquele jogo que tinha tudo para ser sensacional, mas o chef resolveu cobrir seu prato delicioso com uma imensa quantidade de urina, só para ser babaca. Returnal é o melhor exemplo disso. Um jogo que se esforça tanto em ser babaca, mas que tinha um potencial tão grande, que desde que cobri o lançamento no PS5, ele se manteve instalado no meu console. Eu tinha esperanças de que um dia a Housemarque fizesse uma atualização que limpasse o xixi, como aconteceu com Sifu.

Returnal, Housemarque, Sony, PS5, Delfos, Windows, PC
Sinceramente não acredito que fui capaz de vencer este chefe sem usar cheats no PS5.

Esta atualização nunca veio. Mas agora Returnal chegou ao PC. E o PC tem uma enorme vantagem! Quando a desenvolvedora insiste em ser babaca, os fãs aparecem para limpar o xixi. Assim, no dia do lançamento, usando o app WeMod, já estava disponível uma grande quantidade de cheats, que vão da vida infinita à possibilidade de aumentar sua carteira de recursos. Finalmente poderíamos saborear Returnal sem as limitações (aka xixi) impostos por uma desenvolvedora mais disposta a aumentar o tempo de jogo do que de divertir seu público. Mas antes de entrarmos no Returnal sem o ingrediente especial, vamos falar da performance.

RETURNAL EM UMA RTX 3070 E 16GB RAM

Nas primeiras vezes que rodei Returnal, ele me mostrou uma mensagem dizendo que meu computador estava abaixo dos requisitos mínimos. Estranhei, pois normalmente consigo jogar em configurações mais pintudas do que é possível no PS5. Mas até aí, Miles MoralesSackboy e todos os outros jogos de Playstation que cobri no PC, saíram também para PS4. Returnal é o primeiro que eu cubro no PC que estava disponível APENAS no PS5. Porém, como sou extremamente destemido, coloquei tudo no máximo, e mandei rodar o teste que o próprio jogo disponibiliza.

Returnal, Housemarque, Sony, PS5, Delfos, Windows, PC
Durante o teste.
Returnal, Housemarque, Sony, PS5, Delfos, Windows, PC
Resultado do teste.

Para minha surpresa, com tudo no máximo ele rodou muito bem. Você pode ver acima que a média de FPS foi de 103, chegando a um máximo absurdo de 195. Isso na resolução 1440p, a máxima suportada pelo meu notebook, e tudo no épico, inclusive todas as opções de ray tracing.

E de fato ele começou muito bem. Na primeira fase, era comum o game ficar a mais de 100 fps. Porém, ele apresentava stutters frequentes, que pareciam não afetar a taxa de quadros. O sistema ainda me mostrava sempre acima de 60, mas havia pausas perceptíveis na ação. Não sei se é o caso da temida shader compilation que aflige tantos games de PC. Mas da primeira vez que você roda Returnal, ele fica alguns minutos justamente fazendo isso, supostamente para que não aconteça depois. De qualquer jeito, esta foi minha experiência. Segundo a Digital Foundry, esses stutters estão ligados principalmente ao ray tracing e um patch está sendo desenvolvido.

PERFORMANCE DIMINUINDO

Curiosamente, a performance diminuiu bastante nas outras fases. Se na primeira ele ficava quase todo o tempo acima de 100 FPS, depois ele começou a ficar perto do 60 em média, com longos trechos que chegavam a bater nos 30. De vez em quando, ele chegou a fazer menos de 30, mas não era comum. O stutter, no entanto, era frequente. Eu cheguei a diminuir a resolução para 720 e não vi ganhos de performance nem de stutter. Não tentei desligar o ray tracing, no entanto. Pensei que o peso da resolução alta seria maior, e se isso não ajudou, o ray tracing também não ajudaria.

Returnal, Housemarque, Sony, PS5, Delfos, Windows, PC
Minhas configurações em Returnal.

O mais estranho é que o stutter e as perdas de performance não aconteciam especialmente em momentos de combate épico, em que milhares de partículas explodiam na tela. Pelo contrário, o jogo dava essas travadinhas especialmente em momentos de navegação. Quando entrei no portal que leva para a segunda fase, ele virou um slideshow por uns 30 segundos. Neste caso, provavelmente estava relacionado ao carregamento da segunda fase, mas foi a pior performance que encontrei no jogo.

Inclusive, uma coisa legal é que Returnal permite mostrar temperatura de GPU, taxa de quadros e porcentagem de uso do CPU e GPU. Resolvi manter essa informação em todas minhas capturas, para aqueles mais interessados nos aspectos técnicos de um game de PC. Achei bem curioso como minha GPU estava sendo usada quase totalmente o tempo todo, enquanto a CPU dificilmente chegava a mais de 5%. Claramente Returnal é um game muito mais pesado para a placa de vídeo.

EXPULSANDO O CHEF JOSÉ MARQUES

Returnal é um jogo muito next-gen. Um dos mais impressionantes disponíveis para PS5 e um dos mais impressionantes que já rodei no meu PC. É incrível a quantidade de partículas, tiros e pedacinhos que cada cena de combate coloca na tela. E o fato de ser um game com a cara da Housemarque, mas com alto orçamento, era uma das coisas que mais me deixava triste em não conseguir passar do segundo chefe. E ter que repetir mais de uma hora de jogo para tentar mais uma vez. Felizmente, o público fez o favor de limpar o xixi do seu José Marques. E agora sim!

Returnal, Housemarque, Sony, PS5, Delfos, Windows, PC
Eu nunca teria visto este cenário no PS5.

O WeMod permite dois cheats diferentes de invencibilidade. Você pode simplesmente ficar invulnerável, o que significa que todas as armadilhas e tiros te atravessam. Eu preferi ligar “vida infinita”. Assim você de fato toma porrada, cai no chão e se sente mais jogando mesmo. Só que a vida nunca acaba, então você pode jogar sem medo de perder tempo.

Embora não fosse necessário, eu continuava “tentando” desviar dos tiros. Pulando, correndo, saindo da frente. Eu sabia que não ia morrer, mas continuei jogando da mesma forma que faria no PS5. Mas você sabe, sem o estresse e a raiva por jogar tempo fora.

RETURNAL PC E O PROBLEMA DE UM ROGUELIKE

Returnal é um jogo muito bom, com um combate delicinha e um dos melhores gráficos que já vi. Porém, se você tirar a frustração e repetição de um roguelike, sobram os cenários aleatórios. Este tipo de level design nunca vai ter a qualidade de um The Last of Us, por exemplo. Não dá para fases procedurais substituírem o trabalho de um bom level designer. E isso prejudica bastante Returnal, quando jogado como um jogo de ação mais tradicional.

Returnal, Housemarque, Sony, PS5, Delfos, Windows, PC

Eu até me esforcei para explorar e fazer os caminhos opcionais. Mas nenhuma das telas é realmente excelente de explorar. Algumas até são bem elaboradas, com o mapa mostrando a saída, mas você tendo que navegar bastante para alcançá-la. Isso se torna especialmente verdade depois de pegar o gancho, após vencer o segundo chefe. Avançar dar trabalho, mas explorar não é a delícia de um jogo mais manual, como Elden Ring.

O resultado é que eu acabei jogando mais rápido do que o normal. Se em Dead Space, por exemplo, eu vou devagarinho, curtindo cada segundo, Returnal sem o risco de morte me fazia jogar como um speed run, passando correndo por todas as telas e pensando “até que enfim” quando terminava uma fase.

RETURNAL PC AINDA É IMPRESSIONANTE, MAS NÃO TANTO

Não me entenda mal. Se você tirar o xixi do seu Jose Marques, Returnal se torna um bom jogo. Mas quando o jogava no PS5, me sentindo excluído e incapaz de atingir o nível de habilidade absurdo exigido pela Housemarque, ele parecia prometer mais do que de fato cumpre.

Returnal, Housemarque, Sony, PS5, Delfos, Windows, PC

Sem a frustração do roguelike, curtido como um jogo de ação tradicional, Returnal é bom, e ainda tem um dos melhores gráficos que já vi. Mas no final das contas, não é tão delícia quanto eu achava que seria (Sifu sem o xixi, por exemplo, fica bem mais legal).

Além disso, mesmo eliminando totalmente toda a frustração, o jogo me pareceu longo demais para o que é. Em seis horas de jogo, por exemplo, ele finge que acaba, mas na verdade está na metade. E seis horas me parece uma duração apropriada para um game intenso como Returnal. O segundo ato, embora tenha também três fases, é mais curto, totalizando oito horas de jogo para mim. Acredito que com fases mais curtas, Returnal seria melhor. E lembre-se, são oito horas de jogo sem morrer. Jogando de acordo com o que a Housemarque quer, cheio de repetições, duraria muito mais.

MESMO JÁ TENDO JOGADO, ESPERAVA MAIS DE RETURNAL

Returnal, Housemarque, Sony, PS5, Delfos, Windows, PC
A casa do pântano.

Ao terminar Returnal no PC, minha sensação é que não quero jogá-lo de novo. Na última fase, além de inimigos que demoram muito para morrer e soltam um monte de tiros ao mesmo tempo, quando eles te acertam ainda causam avarias no traje. Sinceramente, depois de ver tudo, terminar Returnal sem cheats me parece humanamente impossível. Mesmo se ele tivesse checkpoints normais, não consigo imaginar um ser humano que conseguiria passar por tudo isso, nem com a vida upada ao máximo. Mas, ei, algumas pessoas conseguiram. Só não entendo como, já que me parece mais fácil tocar guitarra como o Eddie Van Halen do que terminar Returnal normalmente.

Apesar de não ser tão legal quanto achava que seria (na minha cabeça Returnal sem a frustração poderia ser um novo Vanquish – não é!), Returnal ainda é, para mim, o jogo da Playstation que mais precisava de uma versão de PC. Isso porque os jogos de Playstation normalmente não são babacas. Eles têm opções extensas de customização e dificuldade, que torna desnecessário o uso de mods. Returnal é a exceção. Assim, se você não é bom o suficiente para jogar no PS5, mas tem vontade de jogar, a versão de PC é capaz de coçar sua coceira. Como coçou a minha.