Lá na época de outrora mais conhecida como 1992, eu joguei muito Alone in the Dark no PC. Na verdade, ao contrário de Resident Evil, que só fui jogar mesmo depois de velhoAlone in the Dark foi parte importante da minha infância e adolescência. Aliás, sempre vale lembrar que, embora o game da Capcom tenha inventado a expressão survival horror, o game normalmente considerado o pontapé inicial no gênero foi justamente este. E agora temos um novo com o mesmo nome (literalmente o terceiro game que leva este título, sem números ou subtítulos). Então vamos chamar o assunto de hoje de Alone in the Dark 2024.

DAVID HARBOUR E JODIE COMER

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Alone in the Dark 2024 faz algo incomum para os games: pega atores que conhecemos do cinema e da TV e os utiliza não apenas em vozes, mas em aparência. Em outras palavras, o jogo é estrelado por David HarbourJodie Comer. E veja só, eu nem me lembrava que o game original tinha uma mulher protagonista. Curiosamente, só fui me lembrar ao ver as skins retrô que a edição enviada para nós pela THQ Nordic inclui.

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E jogar com estas skins deixa o jogo bizarramente engraçado.

Alone in the Dark 2024 é uma reimaginação do original, mas é um novo jogo. Tem menos aqui do jogo de 1992 do que, por exemplo, o remake de Resident Evil 2 tem da sua inspiração. A história é semelhante, mas os puzzles, fases e itens são novos.

Como no original, você pode jogar com Edward Carnby ou Emily Hartwood. As duas campanhas são um pouco diferentes, e você vai querer jogar as duas. Porém, há também muito conteúdo que aparece em ambas. De novo aí a melhor comparação são as campanhas de Leon e Claire em Resident Evil 2.

AND WHEN I’M WALKING A DARK ROAD

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A jogabilidade é mais ou menos o esperado de um survival horror. A campanha combina exploração, quebra-cabeças, tiroteio com munição limitada e porrada com armas que quebram. Porém, estes pilares são mais independentes aqui do que em um Resident Evil.

Boa parte do jogo acontece na mansão Decerto, e esta é a parte mais tradicionalmente survival horror. Há várias portas trancadas e você vai e volta pelas áreas então abertas no objetivo de abrir mais e encontrar mais dicas. Por outro lado, esta exploração cerebral é combinada com momentos lineares e mais focados na ação. Áreas pelas quais você passa apenas uma vez. Eu particularmente gosto dessa combinação.

TUDO NA MÉDIA

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Alone in the Dark 2024 é mediano. Ele não faz absolutamente nada especialmente bem, mas também nada realmente mal. O combate é funcional, mas não é especialmente gostoso. O jogo é meio feinho, mas tem alguns momentos que realmente impressionam. O melhor talvez seja o level design, que é bacana.

A maior qualidade dele, para mim, é que é apenas um jogo. Não é uma loja. Não é um segundo trabalho. É apenas um jogo, que você compra, joga por alguns dias e deixa de lado, a não ser que queira reviver a campanha. É incrível dizer isso, mas em 2024, obras como esta são muito mais raras do que deveriam ser.

A MALDIÇÃO DO AA

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Não é assim que reflexos funcionam.

Durante toda minha campanha eu fiquei pensando. Provavelmente num mundo ideal, Alone in the Dark 2024 pretendia competir com um Resident Evil Village. Porém, é bem claro para quem entende um pouquinho de games que isso não estava no escopo. A THQ Nordic não investiu o dinheiro necessário para tal, e falta experiência para a Pieces Interactive fazer algo tão ambicioso. Será que realmente competir com a maior produção dos games de terror tenha sido uma boa ideia diante dos fatos? A THQ Nordic queria uma Ferrari pelo preço de um Fusca.

Penso que talvez teria sido mais inteligente pegar este orçamento e fazer algo mais retrô. Um survival horror com câmera fixa e distante, mas com visual modernizado. Fazer com Alone in the Dark o que Streets of Rage 4 fez com a franquia da Sega, sabe? Convenhamos que, por mais que eu gostasse de ver Streets of Rage 4 em 3D, acho muito difícil que ele ficasse tão bom e impressionante quanto o existente.

ALONE IN THE SURVIVAL HORROR

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Alone in the Dark 2024 tem alguns cenários muito bonitos, mas não impressiona por muito tempo.

Acredito que isso seria o suficiente para que Alone in the Dark 2024 parecesse um revival mais ambicioso e se tornasse mais querido do que esta tentativa de ser um AAA moderno sem a experiência e o dinheiro necessários.

Pois hoje em dia é muito claro quando faltam essas coisas em um game. Mas é mais tranquilo fazer algo impressionante quando a ousadia é menor. Em outras palavras, é mais fácil impressionar quando você mira mais baixo. E a repercussão de games como Signalis mostra que há muita gente interessada em survival horrors no estilo clássico. Porém, todos os survival horrors neste estilo que temos são bem independentes. Algo com o orçamento deste poderia chamar muita atenção se tivesse colocado seus esforços nos lugares apropriados.

MAS VOLTEMOS A ALONE IN THE DARK 2024

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Então eu sinto que Alone in the Dark 2024 foi uma aposta no lugar errado. Ele tentou competir com o rei do gênero, mas com orçamento de burguesia, se é que você entende minha analogia. No final das contas, ficou mais parecido com Sinking City e The Chant do que com Resident Evil. E acho que dessa forma vai acabar sendo considerado mais um reboot frustrado dessa série que nunca conseguiu se modernizar depois dos games clássicos.

Dito isso, eu ainda gosto do que foi feito aqui. Prefiro mil vezes este estilo Alone in the Dark 2024 do que um Avatar Frontiers of Pandora, transbordando de conteúdo e de dinheiro. Isso porque o conteúdo aqui é bem mais sucinto (a campanha do Edward durou oito horas para mim, e ainda pretendo fazer a da Emily), mas não tem nada de copy paste ou de encheção de linguiça.

Como falei antes, Alone in the Dark 2024 é um jogo que você compra, joga até o final, se diverte, e vai para a próxima. Como os games nunca deveriam ter deixado de ser.