Quantum Break

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A Remedy Entertainment é a criadora de Alan Wake, mas antes disso, eles combinaram narrativa com gameplay de um jeito inédito no primeiro Max Payne, de 2001.

Semana que vem, seu novo jogo chega às lojas. Trata-se de Quantum Break, que tenta criar uma nova forma de narrativa nos games em uma época em que já temos muitos jogos focados exclusivamente na narrativa.

Ao contrário dos jogos da Telltale, no entanto, o foco aqui não é na tomada de decisões. Há alguns momentos específicos nos quais você deve, sim, tomar decisões, mas são poucos. A maior parte do seu tempo em Quantum Break será passado explorando cenários altamente realistas, e ocasionalmente trocando uns tiros e usando poderes de controle do tempo.

O TEMPO É UM OVO

Uma máquina do tempo com cálculos errados acaba “quebrando” o tempo. A partir de então, o tempo simplesmente para ocasionalmente, e eventualmente sabe-se que ele vai quebrar de vez, e parar de avançar, causando o fim da vida como a conhecemos.

Uma corporação enorme chamada Monarch sabia que isso aconteceria e tem planos para lidar com isso. Você é Jack Joyce (Shawn Ashmore, o Homem de Gelo dos filmes dos X-Men), irmão de William (Dominic Monaghan, o Charlie de Lost), cientista que teve um papel vital na criação da máquina do tempo.

Jack estava presente no momento que o tempo quebrou, e isso lhe deu superpoderes, incluindo a possibilidade de continuar se movendo quando o tempo para. Assim que o acidente acontece, ele começa a ser caçado por soldados da Monarch e a partir daí toma para si a missão de descobrir o que está acontecendo e como resolver o problema e evitar o fim do tempo.

A história de Quantum Break merece muitos elogios. Ela lembra clássicos da ficção científica, especialmente aqueles escritos por Philip K. Dick.

Além disso, como toda boa história envolvendo viagens no tempo, ela traz regras específicas para como as viagens devem funcionar e sobre a possibilidade ou não de alterar o passado. Para completar, tudo é permeado com explicações científicas que, se obviamente não são reais, pelo menos soam convincentes o suficiente e têm uma lógica própria que dá a sensação de que isso realmente poderia acontecer.

JOGANDO E ASSISTINDO

Não pense em Quantum Break como um jogo de ação. Pense nele como uma excelente história de ficção científica. Acontece que a maior parte do jogo você vai ficar simplesmente andando de um lado para o outro em busca de e-mails, audiologs e coisas do tipo que desenvolvem o mundo e sua história.

Cá entre nós, eu considero que passar boa parte do seu tempo com um jogo lendo textos não é a melhor forma de se aproveitar da força narrativa da mídia. Mas o fato é que se você ignorar os muitos textos espalhados pelo jogo vai ter um aproveitamento muito inferior da história, que é o grande trunfo de Quantum Break. Além disso, se você não ler os e-mails, não vai ver que existe na história um personagem chamado Manuel Porretta.

Ocasionalmente, inimigos vão aparecer, tornando o jogo um TPS com uma mecânica de cobertura semelhante a Tomb Raider. Você sabe, aquele esquema de o personagem se abaixar sozinho quando estiver atrás de algo que pode protegê-lo. No entanto, ao contrário de no jogo da Lara Croft, aqui isso não funciona tão bem e pelo menos em uma ocasião eu morri porque o personagem não se abaixou quando deveria.

Para dar um sabor extra para os tiroteios, você tem poderes que envolvem controlar o tempo. Teleporte, escudos, um negócio bem parecido com o famoso force push de Star Wars e talvez o mais único: a possibilidade de congelar o tempo ao redor de um inimigo, mandar um monte de tiros ali e, quando o tempo continuar, ele leva todos os tiros de uma vez, estratégia essencial para os inimigos mais resistentes.

Porém, verdade seja dita, as cenas de ação de Quantum Break não são tão únicas nem tão saborosas como as de shooters mais dedicados a isso. Além disso, elas são realmente raras e sempre bem curtas, com exceção de no último ato, que rola um tiroteio mais longo e mais intenso.

Mas tudo bem, porque se você quer dar tiros, realmente Quantum Break não é o jogo mais indicado. Você deve jogar este jogo se estiver a fim de uma excelente história de ficção científica. E isso se reflete até mesmo na forma que sua história é contada. Afinal, temos aqui…

UMA SÉRIE EM LIVE-ACTION

Entre cada um dos atos do jogo, você terá a possibilidade de assistir a uma série filmada que elabora o que os outros personagens que não são os protagonistas estavam fazendo. Em outras palavras, a história de Jack e seus aliados mais próximos é contada no gameplay e em cutscenes tradicionais em CG, enquanto todo o resto é contado com atores reais em cenas não interativas.

Cada episódio dessa série é relativamente longo, chegando a passar dos 30 minutos, e dado sua proposta de desenvolver os outros personagens, Jack, Will e os outros protagonistas quase não dão as caras em suas versões filmadas. Há outros atores conhecidos, no entanto, inclusive um que também participou de Lost ao lado de Dominic Monaghan.

O curioso é que essa série não estará inclusa no disco do jogo. Usuários de Xbox One terão a opção de baixá-la (embora durante nossos testes isso ainda não estivesse disponível), mas a proposta é que você a assista via streaming mesmo, naquele esquema Netflix.

Eu tenho uma internet bem veloz, de 100 mega, e em geral o streaming rodou bem, com os episódios carregando rápido e com bem poucas “travadinhas”. A qualidade também estava altíssima, em alta definição e uma riqueza de detalhes impressionante, especialmente para quem, como eu, ligava jogos filmados àquele visual embaçado do Sega CD.

No entanto, talvez isso se torne menos interessante caso sua internet seja mais lenta. Mesmo sem os vídeos, o jogo ocupa dolorosos 45 gb no HD, e se incluir o download da série, pode reservar mais 75 gb.

Sempre antes de um episódio da série, o jogo traz uma pequena fase onde você deve escolher entre duas opções de caminho, que vão afetar os episódios seguintes, bem como as próximas fases de gameplay. Além disso, tem alguns colecionáveis que você pode pegar ao longo do jogo que destravam algumas ceninhas extras de alguns segundos em cada episódio.

A única coisa negativa a se dizer da história é que o protagonista simplesmente não convence. A Monarch tem um plano de como lidar com o fim do tempo e manter a raça humana viva, enquanto o herói quer recuperar um artefato que ele acredita que pode consertar tudo, mas que não tem ideia de como usar, e para fazer isso coloca em perigo o plano de décadas da sua antagonista, que tinha tudo para dar certo.

CONSERTANDO O TEMPO

Eu gostei muito do meu tempo com Quantum Break, mas admito que seus últimos minutos acabam diminuindo um tanto a excelente experiência que ele construiu até lá. A começar por um último chefe simplesmente terrível, que além de dar um salto considerável na dificuldade do jogo presente até então, ainda fizeram o favor de colocar o checkpoint antes de uma cutscene (dá para pular a cena, mas daí entra em uma tela de loading).

Além disso, quando você finalmente vence o chefe, achei o final um tanto decepcionante, deixando um monte de pontas soltas e personagens sem uma devida resolução. E por que diabos o final do jogo é feito em CG e não filmado, o que seria bem mais legal?

Uma outra grande decepção é que durante toda a história do jogo você lê textos e ouve falar sobre um tipo de inimigo que vive no fim do tempo. Você chega até a ver de relance um desses seres em ação, mas em nenhum momento chega a realmente encontrá-los, o que parece uma oportunidade perdida.

Tudo isso parece ser fruto da cultura da continuação tão presente nos dias atuais, mas Quantum Break sofre por isso, pois seu foco na história coloca um monte de sementinhas que nunca chegam a dar frutos.

Talvez o principal problema que eu tive com o jogo foi quando estava jogando pela segunda vez, para ver o quanto a história era afetada pelas minhas decisões. Quando fui retomar o jogo, ele avisou que estava sincronizando meu save com a Xbox Live e deu um erro. Quando abriu a tela título, eu não tinha mais a opção de continuar, apenas a de começar um novo jogo. Pois é, eu perdi meu save, e com ele todos os meus upgrades e colecionáveis.

Uma coisa que eu achei estranho é que, ao rodar jogos da retrocompatibilidade no Xbox One, jogos que não jogava desde 2008 quando, pelo que sei, os saves sequer eram sincronizados com a Live, ele recuperou meus saves normalmente. Como o save de Quantum Break, em pouco mais de uma semana com o jogo, simplesmente sumiu?

Não sei dizer se isso é um bug que pode acontecer com frequência ou se foi um azar bizarro da minha parte, mas perder o save é um problema grave o suficiente para merecer ser citado.

COMO CONSERTAR UM OVO?

Alguns aspectos, como o fato de ter foco na narrativa e não na ação, fizeram com que Quantum Break me lembrasse bastante The Order: 1886. Você deve se lembrar que eu gostei de The Order, mas a mídia gamer o odiou.

Esta resenha está saindo ao mesmo tempo que as dos outros sites especializados, então eu admito que não sei o que esperar da recepção do jogo. Em muitos aspectos, em especial na sua história, Quantum Break é bem superior a The Order. O que temos aqui é uma das melhores histórias que já vi em um game, mas assim como The Order, pode-se dizer que falta jogo no pacote.

Ao mesmo tempo, suas cenas de tiroteio são presentes o suficiente para talvez frustrar aquelas pessoas que gostam de jogos focados na narrativa e com gameplay quase inexistente, como os da Telltale.

Se você está no DELFOS, no entanto, imagino que você gosta de games, e também gosta de uma boa história. Então dá para recomendar Quantum Break sem medo, desde que você vá com a mentalidade certa, sem esperar um jogo de ação.

Quantum Break chega às lojas no dia cinco de abril de 2016.

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