Um tempo atrás, brinquei no Twitter do DELFOS que quando a Microsoft comprasse a Activision, as campanhas de Call of Duty iam virar mundo aberto cheios de objetivos secundários. Minha inspiração para isso foi, é claro, o terrível Gears 5. Pois contemplai meus poderes proféticos. Faz pouco mais de um mês que a compra fechou, e cá estamos com Call of Duty Modern Warfare III, a pior campanha de Call of Duty da história, e muito disso se deve ao fato de que virou EXATAMENTE O QUE EU PREVI.

Sim, sim, eu sei que a compra fechou há muito pouco tempo para que a Pequenomole de fato tivesse alguma influência no jogo. Mesmo assim, pela primeira vez na história, especialmente desde que eu passei a focar apenas nas campanhas de Call of Duty para minhas análises, eu realmente sofri jogando. Depois de cada fase, olhava um guia para ver quantas ainda precisaria suportar.

Contraste isso com minha tradicional atitude, em que eu começo a campanha com um sorrisão, certo de que vou ter uma das melhores experiências videogamísticas do ano. (Suspiro). Bom, vamos à nossa análise da campanha de Call of Duty Modern Warfare III.

ANÁLISE CALL OF DUTY MODERN WARFARE III: A CAMPANHA

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Meu código de review de Call of Duty Modern Warfare III chegou bem tarde, a ponto de que eu já não senti a empolgação tradicional que sinto ao receber esta série. Acontece que boa parte da imprensa, e até os usuários, já tinham cantado a bola de quão ruim era a campanha. E lendo detalhes, eu já sabia que eles fizeram com ela exatamente o que temia.

Curiosamente, a primeira fase me causou uma excelente impressão. Uma invasão em uma cadeia para liberar um prisioneiro misterioso. Ela foi intensa, cheia de cenas de ação empolgantes e gameplay variado. Foi, literalmente, daí pra baixo. Até a cutscene que veio a seguir demonstra que nem mesmo a história seria boa. Isso porque ela mostra o vilão matando o líder da operação que o tirou da cadeia só porque ele questionou seu plano. Modern Warfare não mostra seus heróis exatamente como bonzinhos, mas convenhamos que o líder de um exército, revolução, ou o que quer que seja, não inspira lealdade se trata assim seus subordinados. Isso é simplesmente um roteiro maniqueísta e mal escrito. Pode fazer algum sentido para o Doutor Destino, mas não para uma história de pessoas e conflitos políticos reais.

Porém, a história era literalmente o de menos. Nos Modern Warfares anteriores, eu tinha sérias reservas com a história e o revisionismo histórico que ela apresentava. Mas os jogos eram simplesmente sensacionais, a ponto de que a história do mau e mal escrita não incomodava. Pelo menos a de Modern Warfare III é compreensível, e as cutscenes são lindas. Mas as fases… ah, as fases…

CALL OF DUTY DEIXOU DE SER CONTRACULTURA

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Uma típica fase de Modern Warfare III.

Eu costumava falar por aqui, até em tom de provocação, que Call of Duty era contracultura. Isso porque todo jogo de tiro atualmente era focado em mundo aberto, limpar mapa e armas classificadas por cores. Mesmo sendo totalmente o oposto disso, Call of Duty estava sempre entre os mais vendidos do ano e, apesar de boa parte do público comprar apenas pelo multiplayer, as repercussões de Modern Warfare III deixam claro quão importante a campanha era para vários de nós. Pois bem, olha isso.

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Você sabe, melhor que uma arma roxa, só uma dourada. Como na vida real.

Isso não é montagem, meu amigo. As fases padrão de Modern Warfare III te colocam em um pequeno mapa aberto, tipo um quadrado. Daí colocam alguns ícones de objetivos, que você pode fazer em qualquer ordem, e espalham uma quantidade absurda de colecionáveis – armas, no caso – codificadas em qualidade por cores. Pegue as armas e equipamentos e, quando você morrer, e começar a missão do zero (checkpoints são raríssimos), poderá alterar seu loadout com armas, itens e habilidades que desbloqueou no mapa. Alguns troféus, inclusive, só podem ser conquistados depois que você encontrar equipamentos específicos e reiniciar a fase do zero.

É tipo uma mistura de Borderlands com Crysis com PUBG, mas sem um centésimo da qualidade de nenhum desses. E todos estes jogos, ativamente, tentaram fazer coisas diferentes de Call of Duty. Por que, agora, Call of Duty arruína sua reputação tentando imitar games que vendem décimos do que qualquer COD anual vende? Sinceramente, não sei. E nem levo em consideração o fato de que Modern Warfare III foi supostamente planejado para ser um DLC e desenvolvido às pressas. O problema aqui é conceitual, e não poderia ser resolvido com um aumento de escopo ou mais tempo no forno. Sim, o jogo até poderia ser menos pior, mas de forma alguma seria bom. Seria, no máximo, um Crysis piorado, e com esta comparação estou sendo deveras generoso.

TROFÉUS E PROBLEMAS TÉCNICOS A RODO

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O que realmente ficaria melhor com mais desenvolvimento seriam os problemas técnicos. Você a essa altura já sabe que os troféus de PS5 aparecem como um DLC de Modern Warfare II, o que significa que não há platina. Mas e se eu te dissesse que você pode cumprir os objetivos e mesmo assim não ganhar seu troféu? Por exemplo, em uma dessas fases abertas, eu precisava destruir três helicópteros e há um prêmio para explodir cada um deles com uma arma diferente. Eu fiz isso e não popou o bling. Em outra, você precisa pegar um crachá em X segundos. Eu fui direto lá desde o início da fase, fazendo tudo no menor tempo possível (o jogo exige esperar o dono do crachá entrar numa casinha pra poder pegar sem alarmes) e adivinha? Nada de bling!

Isso sem falar em casos que são simplesmente um gamedesign muito infeliz, como na fase da imagem acima, em que você tem alguns minutos para chegar e ativar uma alavanca. Mas ao chegar lá, recebia a mensagem de que inimigos estavam muito próximos, mas não tinha ninguém dentro da casa comigo. O único NPC nos arredores – do lado de fora e bem longe – era um sujeito de armadura, uma esponja de balas que precisa de mais de um minuto para ser vencido, e por isso passei por ele correndo. O problema é que não havia tempo suficiente para matar o desgraçado e ainda chegar na alavanca. Eu sinceramente nem sei como consegui passar daí, e nunca mais quero jogar esta fase de novo.

CALL OF DUTY MODERN WARFARE III É O ANTI CALL OF DUTY

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A fase do avião é bacana.

Dez anos atrás, Killzone Shadowfall foi extremamente mal recebido por pegar uma série de tiro cinematográfica e cheia de adrenalina estilo Call of Duty, e transformá-la no wide linear de um Crysis. Por que diabos Call of Duty, então, faria este mesmo erro hoje, mas sem nem prezar pela qualidade? Afinal, as fases de “combate livre” de Modern Warfare III são muito mais desafios tradicionais de multiplayer do que de fato wide linear. E para isso já temos o modo Zombies.

Dito isso, há aqui traços do que Call of Duty foi um dia, e não me refiro às ideias políticas nojentas, embora, sim, tenha isso a rodo também. Falo das fases narrativas e altamente dirigidas, como a própria que abre a campanha. Em outra, bem curtinha, mas muito boa, você deve tentar sobreviver em um avião que está sendo raptado por terroristas.

Tem momentos de qualidade e diversão salpicados na campanha, sim. Estas nunca alcançam o ápice da fase de abertura, ou dos games anteriores, mas são capazes de entreter e divertir, duas qualidades que as missões de “combate livre” simplesmente não possuem. O problema é que, assim como em The Messenger, se você sabe que depois da parte divertida vem uma pentelha, acaba não se divertindo direito nem na parte boa. Eu, pelo menos, fico na ansiedade de me livrar logo de todas as partes chatas, ao invés de curtir as boas.

AINDA VALE ACOMPANHAR CALL OF DUTY DEPOIS DESSA?

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A política é nojenta como sempre foi, mas algumas fases ainda divertem.

É muito irônico que Modern Warfare III tenha saído em 2023, um mês depois de uma briga de mais de um ano para que os concorrentes e governos “deixassem” a Microsoft comprar a Activision. Briga esta que girou em torno da Sony – especialmente – dizendo que simplesmente não conseguiria competir se perdesse acesso a Call of Duty. A questão é: depois de Modern Warfare III, será que alguém ainda quer Call of Duty? Obviamente, enquanto a série ainda estiver vendendo, claro que querem. Mas arrisco dizer que o jogo deste ano vai repercutir por algum tempo, e o próximo que sair, independente de quão bom seja, vai vender bem menos do que o normal. Isso porque a confiança foi quebrada. Campanha de Call of Duty era garantia de qualidade. Não é mais.

E esta quebra de confiança não é como quando Black Ops IV simplesmente cortou a campanha. Talvez, aliás, tivesse sido melhor ter deixado de fora, uma vez que o nome Modern Warfare sempre foi ligado a excelentes campanhas, que foram até relançadas sem o multiplayer. É por isso que a Activision resolveu fazer jogos novos com os mesmos nomes. Não foi pelo multiplayer, mas pela campanha, que iria aproveitar personagens conhecidos como Price, Soap e Gaz. Além disso, alimentando a narrativa de que este era um DLC, um Modern Warfare II.V, a história simplesmente não termina, sendo apenas, e no máximo, um interlúdio.

QUEIMANDO O NOME CALL OF DUTY MODERN WARFARE

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Então queimar o nome do fim da trilogia com uma campanha que queima o filme é como se o Robert Plant tivesse resolvido encerrar aquele show de reunião do Led Zeppelin que aconteceu em 2007 soltando um grande e literal cocozão mole em cima do palco. Isso faria com que o retorno do Led Zeppelin fosse lembrado para sempre com um gosto amargo e uma decisão incompreensível. E é exatamente assim que o nome Modern Warfare será lembrado agora.

Faixa bônus para a edição japonesa desta análise: olha o tamanho que os jogos de Call of Duty estão ocupando no PS5 atualmente! Apagar três jogos libera 675GB. Como lembrete, o SSD que vem no PS5 tem apenas 664gb de espaço usável. A coisa realmente saiu do controle.

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