Minha relação com Borderlands é um tanto complicada. Anos atrás, comprei a versão completa do primeiro jogo, lá no PS3. Joguei muito. Fiz a campanha e todos os DLCs e adorei a experiência. Daí vieram vários jogos parecidos, como Dead Island. Eu joguei mais alguns, mas logo fiquei fatigado com o excesso de armas e sidemissions.Só fui jogar Borderlands 2 um bom tempo depois, quando comprei a Handsome Collection, já no PS4. Neste, joguei a campanha, mas nada dos DLCs, e sequer comecei a jogar o Pre-Sequel. Gosto muito do humor, dos personagens e do visual, mas o excesso de armas e a necessidade de ficar parando de jogar para comparar dezenas de estatísticas entre elas sinceramente me estressa. Não basta comparar o dano, você precisa somar isso com o dano elemental e com a rate of fire para ver se de fato aquela com maior dano é a capaz de fazer mais dano. Fala sério!

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Duas versões da mesma arma têm várias estatísticas diferentes. I’m too old for this shit!

Não à toa, o melhor Borderlands para mim é o Tales From the Borderlands, da Telltale, que tem tudo que eu gosto, e nada do que eu não gosto. Assim, é difícil dizer se eu jogaria este se não fosse escrever uma análise Borderlands 3. Mas cá estou eu. E veja só, me diverti muito mais com o jogo do que esperava.

ANÁLISE BORDERLANDS 3

Borderlands 3 definitivamente não reinventa a roda. Ele é imediatamente familiar para quem jogou os anteriores. Embora não traga grandes novidades, é aperfeiçoado. Por exemplo, agora você pode usar fast travel a qualquer momento e não dá para outro jogador roubar seu loot a não ser que você ativamente escolha esta opção (e por que você faria isso?).

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Os quatro novos heróis.

Eu escolhi jogar com Fl4k, o robozão que está em primeiro plano na imagem acima. Antes de começar, tinha lido que ele era o personagem mais divertido para quem planejava jogar sozinho, o que é meu caso. Isso se deve ao fato de que ele está sempre acompanhado por um animal, que ajuda no combate e chama a atenção dos inimigos.Embora eu não tenha me arrependido da escolha, devo dizer que os pets são os piores acompanhantes de IA que já encontrei. Eles parecem ser programados para entrar sempre na sua frente. Assim, bloqueiam completamente seu campo de visão, entram no meio da sua mira, impedem de ativar objetivos e mesmo de olhar as estatísticas de uma nova arma que acabou de dropar. O botão de ação é o quadrado, e quando o animal está na sua frente, a ação é sempre substituída por “tocá-lo”, impedindo que você faça qualquer outra coisa.

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Gostaria de dizer que isso é uma exceção e que quase não acontece, mas a verdade é que escolhi esta imagem entre dezenas muito parecidas.

Além disso, os animais vivem morrendo em combate, exigindo que você os salve. Depois de algumas horas de jogo, eu comecei a querer a possibilidade de simplesmente desligar os pets.

A PRIMEIRA IMPRESSÃO NÃO É A QUE FICA

Minhas primeiras horas com Borderlands 3 não foram muito legais, e a culpa não era apenas dos pets. Após a missão introdutória, apareceram algumas sidemissions. Uma das primeiras envolvia coletar antenas para o robozinho Claptrap. Imediatamente, apareceu meia dúzia de waypoints espalhados nos cantos do mapa, exigindo que eu dirigisse por toda a região para pegar colecionáveis. É o tipo de missão que não deveria existir.A coisa melhorou quando eu invadi meu primeiro dungeon. Foi uma fase legal, combinando exploração e combate e culminando em um chefe. Daí, no final dela, tinha uma sidemission. Primeiro objetivo: ativar alguma coisa no início do dungeon. Segundo objetivo: fazer o dungeon inteiro de novo coletando porcarias no caminho. Em outras palavras, era uma nova missão me obrigando a simplesmente fazer de novo o que tinha literalmente acabado de fazer.

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Rapariga, como isso me desanimou. Ao fazer essas duas missões, eu comecei a questionar se valia a pena fazer qualquer outra coisa que não fosse missão de história. Porém, me lembrava que os jogos anteriores exigiam que você fizesse as secundárias para estar no nível apropriado para continuar a história.Felizmente, embora ainda haja sidemissions pentelhas desses tipos, o jogo melhora MUITO depois deste início. Muito mesmo. Quando lembro das minhas primeiras horas com Borderlands e da opinião que tenho sobre o jogo agora, parece que estamos falando de dois jogos totalmente diferentes.

ATIRE E SAQUEIE

Acontece que Borderlands 3 é bem mais direcionado do que os jogos anteriores. Após estas primeiras horas, ele parece simplesmente ganhar foco. Começa a vir um dungeon depois de outro, e as sidequests envolvem explorar caminhos alternativos dos dungeons com histórias paralelas.

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As missões de mundo aberto normalmente envolvem dirigir.

Algumas missões ainda são estilo mundo aberto, algo semelhante a Far Cry 5, mas a imensa maioria são fases grandes, com um caminho pré-definido e um chefe no final. Para mim, isso é muito mais interessante. Ainda é comum, no entanto, popar uma sidequest que te obriga a fazer um dungeon pela segunda vez, e isso continua tão chato da décima vez quanto foi da primeira.O que faz Borderlands 3 valer a pena é quão gostosa sua jogabilidade é. Temos aqui simplesmente um FPS muito agradável e divertido, e com armas muito criativas.Há armas que insultam o jogador, outras que, ao invés de serem recarregadas, são jogadas como granadas. E, claro, temos as que fazem danos elementais, úteis em situações mais específicas.

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Algumas atiram bolinhas coloridas.

Eu adoro a criatividade das armas, embora o excesso de estatísticas me incomode. Se Borderlands seguisse o estilo de Resistance, com armas divertidas, mas cada uma com um funcionamento específico, e não com um monte de características aleatórias, este seria um FPS perfeito para mim.A verdade é que a combinação de estatísticas aleatórias, excesso de loot e espaço de inventário limitado se juntam para serem assassinos de diversão para mim. Quando eu terminava uma missão, e chegava a hora de analisar todo meu loot, eu tinha ataques de ansiedade e de tédio. Simplesmente não via a hora de voltar a correr e atirar.

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Olha quanto loot! Vai ser um saco comparar tudo isso!

Outra possibilidade para deixar o loop mais agradável é que, ao invés de cairem armas novas a toda hora, e a maioria ser uma porcaria, só dropassem quando fossem de fato upgrades. Acredito que isso deixaria o jogo muito mais legal para todo mundo.

HUMOR

Eu adoro o humor de Borderlands. Li muitas críticas neste aspecto, dizendo como ele é imaturo. Eu discordo fortemente. Ele me lembra South Park, o que eu sei que não agrada todo mundo, mas eu acho genial e muito inteligente.

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Esta, por exemplo, é uma piada geek que exige um repertório que nem todo mundo tem.

Eu adoro os personagens e seus comentários. O robozinho Claptrap, por exemplo, definido pelo jogo como “uma torradeira com ansiedade” não falha em me arrancar gargalhadas. Ele passa o jogo todo construindo uma companheira e, ao instalar um módulo de experiência humana nela, ela diz que se sente feliz, e logo depois triste e desesperada. Claptrap responde: “Calma, pela minha experiência, você só vai se sentir assim o tempo todo”.Isso é imaturo? Eu não diria isso. Pelo contrário, é o tipo de humor que vem do sentimento direto de quem escreveu. A maioria das pessoas não entende a quantidade de humoristas em depressão que acabam se suicidando, mas quem já estudou o assunto sabe que o comediante precisa da dor muito mais do que o poeta. E Borderlands 3 tem um monte de piadas assim. Como via de comparação, o que eu considero humor grosseiro e imaturo é o dos filmes dos irmãos Wayans que fazem piadas baseadas em vômitos e fluidos corporais, não refletindo sobre a condição humana.

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O texto desta placa é outro exemplo de humor que considero inteligente.

A história não é especialmente elaborada. É bem parecida com os anteriores, envolvendo caças a cofres (você é, afinal, um vault hunter). Mas o legal é que traz de volta boa parte dos personagens conhecidos. Tanto os protagonistas que antes eram jogáveis quanto os NPCs preferidos estão de volta. E o legal é que ele leva em consideração o que aconteceu em Tales From the Borderlands e inclusive traz de volta boa parte da galera que estrelou aquele jogo.

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A Lilith, do primeiro jogo, agora aparece até em live-action.

Nem todos os atores estão de volta, no entanto. O mais marcante é a mudança no dublador de Claptrap, que acusou o CEO da Gearbox de abuso. O substituto faz um bom trabalho de imitação, mas dá para perceber que não é a mesma pessoa dublando.

VISUAL E PERFORMANCE

Eu também gosto muito do visual de desenho animado característico da franquia, e cada vez mais raro em games. Borderlands 3 não tem gráficos tecnicamente impressionantes, mas pelo eterno Duke Nukem, como é estiloso!

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Olha só que cenário bacana!

O curioso é como ele roda mal, apesar da simplicidade técnica. Borderlands sempre foi bonito – e continua. Porém, é inegável que não há uma evolução gráfica considerável dos jogos da geração passada para este. A cara é basicamente a mesma, o que torna imperdoável coisas como as texturas aparecerem apenas quando você está extremamente perto de algo.Além disso, há quedas de framerate e “gaguejos” frequentes, especialmente quando você abre uma loja ou o inventário. É incrível como tantos anos depois, em uma nova geração de consoles, e sem grande avanço visual, não deram um jeito de melhorar a performance.

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Artisticamente, eu gostaria também que mais do jogo acontecesse de dia. A iluminação é dinâmica, mas tenho a impressão que a noite dura duas vezes mais do que a luz do sol. Além disso, alguns dos planetas, como Eden-6, vivem em um estado nublado perpétuo. A pena é que o visual cel-shaded e cartunesco fica bem mais atraente quando está claro e colorido.

A ARTE EM SER DO CONTRA

Eu sei que as opiniões que eu expresso aqui no DELFOS dificilmente são iguais às do resto da mídia. Porém, acho que nunca uma resenha minha foi tão contrária à dos outros sites. Veja, por exemplo, esta análise do Kotaku, site do qual gosto muito e que costuma ter uma opinião bem semelhante à de outros veículos.Na tabela do que ele gostou tem: monte de loot, monte de sidequests. Exatamente as coisas que eu mudaria em Borderlands 3. Na verdade, depois que a história te leva de volta para Pandora, tem uma quantidade tão grande de sidequests que fiquei com a impressão que o jogo seria infinito. E eu gosto que meus jogos acabem.No que ele não gostou tem: piadas e Claptrap. Duas coisas que eu não só gosto muito, como considero mais características à franquia do que o excesso de loot.

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Quem curte South Park vai reconhecer este veículo. Ei, pelo menos é melhor do que lidar com as companhias aéreas!

Particularmente, acho isso legal. Como alguém que faz quase exclusivamente textos opinativos, eu gosto de ler pessoas que discordam de mim. Afinal, meus argumentos eu conheço, então é muito mais interessante ler argumentos opostos.Pelo menos em algo todo mundo concorda: o gameplay de Borderlands 3 é muito divertido. E você? Gosta do humor, do excesso de loot ou simplesmente ama muito tudo isso (ou odeia tudo)?