É comum que alguns filmes tenham boas ideias, mas nem sempre consigam explorá-las bem. Ou às vezes tomam um direcionamento diferente do que se imaginava de início. No caso de Pequena Grande Vida, essas duas coisas acontecem, o que é uma pena, pois ele tinha tudo para ser bem melhor do que o resultado final.

Na trama, é descoberto um método científico capaz de encolher pessoas. Isso é encarado como uma potencial solução para o problema da superpopulação e do consumo dos recursos naturais do planeta. Afinal, pessoas com poucos centímetros de altura consomem bem menos que as de tamanho normal.

E como um incentivo extra para que elas passem pelo processo de miniaturização, como elas não ocupam tanto espaço e precisam de pouca quantidade de recursos, tudo para elas é incrivelmente barato. Assim, qualquer pessoa comum pode viver como rico nas comunidades em miniatura.

Matt Damon acha que essa é uma boa para ele e passa pelo processo. E aí começa a jornada da história. O trailer fazia parecer que se trataria de algo como uma sátira social ou uma dramédia sobre a nova pequena vida do amigo do Ben Affleck. E de fato ele explora essas coisas.

Mas também apresenta muito mais, e esse, no fim das contas, resulta em seu maior problema. Esta é daquelas produções que pega uma boa ideia e tenta explorar todos os seus aspectos, ao invés de focar em apenas um. Até aí, desde que essa execução seja bem feita, não teria problema.

Delfos, Pequena Grande Vida, Cartaz

Só que ele atira para todo lado e acaba sem coesão, sem desenvolver direito nenhum dos aspectos da história, resultando em algo um tanto esquizofrênico, subdesenvolvido e bem longe de ser tão legal quanto poderia.

Começa como uma dramédia, passa para um slice of life do Matt Damon se adaptando à nova vida, muda para uma história de amizade e chega até a pincelar tons apocalípticos, com algumas críticas sociais e um tom ambientalista. Nada devidamente desenvolvido, é claro.

Daí, obviamente você vai gostar muito mais de determinadas partes que de outras. Eu gostei muito do início, por exemplo, mas depois de uma hora de filme ele começou a cair bastante no meu conceito. O fato de ele ser bem longo (consequência dessa vontade errônea de abraçar cada possibilidade) acaba não ajudando em nada. Tivesse uma hora e cinquenta, até poderia limar muitos dos excessos da história, ganhando mais coesão e qualidade.

Uma pena, pois a ideia de Pequena Grande Vida é mesmo boa e ele é simpático em vários momentos. Contudo, sua grande falha em não definir um rumo para a história, em não saber exatamente o que ele quer contar, o prejudicaram bastante. Eu diria que por conta disso não vale o ingresso do cinema, mas para assistir em casa pode ser que valha a pena dar uma chance.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
pequena-grande-vidaTítulo original: Downsizing<br> País: EUA<br> Ano: 2017<br> Gênero: Dramédia/Ficção Científica<br> Duração: 135 minutos<br> Distribuidora: Paramount<br> Direção: Alexander Payne<br> Roteiro: Alexander Payne e Jim Taylor<br> Elenco: Matt Damon, Christoph Waltz, Hong Chau, Kristen Wiig, Udo Kier, Jason Sudeikis e James Van Der Beek.