Em todo o tempo que eu escrevo sobre cinema, poucas vezes um filme me gerou tão pouco interesse quanto Ford Vs. Ferrari. O elenco e o diretor são totalmente mé para mim, e eu assisti ao trailer várias vezes (há meses a Fox o passa em todas as sessões de imprensa), e nem assim me animei. Convenhamos, não dá para esperar muito se nem o trailer de um longa te empolga. Para completar, o negócio tem 150 minutos e marcaram a cabine em um lugar deveras inacessível. Mas agora venho com uma boa notícia. Apesar de tudo, Ford Vs. Ferrari não é nenhuma bomba. Poxa vida, me arrisco a dizer até que ele é levemente superior a um filme nada.

Crítica Ford Vs. Ferrari, Ford Vs. Ferrari, Christian Bale, Matt Damon, DelfosCRÍTICA FORD VS. FERRARI

Eu não entendo muito de carros. Para mim, eles são apenas uma forma de me locomover. Porém, mesmo do alto da minha ignorância, sei que há um abismo de qualidade entre a Ford e a Ferrari. Caramba, eu até já tive um Ford, mas nunca terei um Ferrari, já que o valor que eles cobram é muito superior ao que vale um carro para mim.

E mesmo o Ford que eu tive perdia feio em qualidade e durabilidade para outras fabricantes que eu tive antes e depois. Sem dúvida, o Ford Fiesta foi o carro mais tosco e quebradeiro que eu já tive. Quase um Xbox 360 em quatro rodas (o carro durou alguns meses a mais que meus Xbox 360).

Assim, mesmo nos dias de hoje, pensar em um duelo Ford Vs. Ferrari é praticamente um Davi contra Golias. Claramente, uma das duas marcas tem uma vantagem considerável sobre a outra. E, obviamente, aqui acompanhamos a história do lado do azarão.

UMA VERDADEIRA HISTÓRIA DE AZARÃO

O filme começa com o Shane de Walking Dead sugerindo para Henry Ford II que sua empresa deveria comprar a Ferrari, e assim conseguir representatividade no desejado mundo das corridas. Acontece que eles levam um belo de um fora da companhia italiana, e daí o Fordinho fica mordido. “Não interessa quanto custe, nós vamos construir um carro melhor que o deles e vencer a Le Mans“, ele ordena a seus funcionários.

Daí o Shane vai atrás de Carroll Shelby (Matt Damon), o único estadunidense que já venceu a prova. Para vencer o desafio, ele forma uma equipe, da qual faz parte o talentoso piloto Ken Miles (Christian Bale). No resto do filme, vemos os desafios dos dois para construir um carro pintudo e ganhar a prova em questão.

Crítica Ford Vs. Ferrari, Ford Vs. Ferrari, Christian Bale, Matt Damon, Delfos

Curiosamente, seus maiores oponentes não são da Ferrari, mas da própria Ford. Na verdade o longa deveria se chamar Shelby Vs. Ford. Acontece que, embora os engravatados da gigante dos automóveis estejam investindo uma fortuna na equipe de Shelby, eles ficam constantemente atazanando a vida do cara.

Acontece que Miles é um sujeito antissocial, que os gravatas acham que não representa bem a imagem que a Ford quer passar. Assim, Shelby fica boa parte do filme discutindo com a turminha da grana para defender a presença do amigo, chegando a arriscar sua própria empresa apenas para que Miles tenha a chance de correr.

Imagino que é a mesma coisa que vem acontecendo com a Ubisoft e outras empresas de games: a turminha do dinheiro contrata pessoas talentosas para fazer os melhores produtos possíveis, mas daí acaba estragando tudo dando pitacos.

SHELBY VS. FORD

Apesar de eu não ser especialmente apaixonado por carros, achei bem legal ver a turma da Ford/Shelby debatendo como deixar a máquina cada vez melhor e pronta para a prova. Mais bacana ainda são as cenas de corrida. Elas são emocionantes, muito bem filmadas e trazem acidentes simplesmente espetaculares.

Crítica Ford Vs. Ferrari, Ford Vs. Ferrari, Christian Bale, Matt Damon, Delfos

Em filmes de esporte, é comum que o adversário trapaceie e mesmo assim acabe perdendo. Aqui acontece o exato oposto. Quem trapaceia é justamente o nosso amigo Shelby, e faz isso para prejudicar a equipe da Ferrari.

Ou seja, os pobres italianos fazem meio que o papel de vilões aqui, mas eles passam o filme todo na deles, criando seus carrinhos e apostando suas corridas. Seu único erro foi negar a aquisição agressiva da Ford.

Apesar de termos heróis com motivações questionáveis e vácuo moral considerável, o conjunto da obra consegue entreter moderadamente. Considerando a duração homérica, é digno de nota dizer que ele não me deixou entediado ou com sono. Não me empolgou, é verdade, mas diante do que esperava, até que saí no lucro.

CURIOSIDADE:

Na tremendona série 30 Rock, o Matt Damon fez um sujeito chamado Carol, e o nome dele é uma piada. Apesar de ter uma grafia diferente, me chamou a atenção que aqui ele repete o nome, e ninguém tira sarro.