Maldito seja o Cyrino! Pois é, amigo delfonauta. Meu colega Carlos Cyrino, que esteve no DELFOS de 2005 a 2019, escreveu muitas das nossas críticas de cinema nesse período. Dentre elas, está Assassinato no Expresso do Oriente, filme do qual o objeto desta crítica Morte no Nilo, é continuação. Até aí tudo bem. No período em que éramos colegas, eu cobri muita série que ele cobriu antes e vice-versa. Mas a questão aqui é outra.

Assassinato no Expresso do Oriente: uma nova versão para um velho mistério

Eu não assisti a Assassinato no Expresso do Oriente. E, enquanto assistia a Morte no Nilo, como sempre acontece, fui fazendo anotações mentais do que falar na crítica. Fazer piadas com o bigode do protagonista era um desses planos. Outro era falar da familiaridade da trama e do fato de que isso provavelmente vinha pelo fato de o longa ser baseado em um livro famosíssimo de uma das mais populares escritoras de todos os tempos (Agatha Christie, claro).

Crítica Morte no Nilo, Morte no Nilo, Kenneth Branagh, Gal Gadot, Agatha ChristieSó que, antes de sentar para escrever, resolvi reler a resenha do Cyrinóide. E veja só, ele falou exatamente das mesmas coisas. Maldito seja meu eterno colega, me plagiando muitos anos antes de eu ter a ideia. Maldito, eu digo!

CRÍTICA MORTE NO NILO

Morte no Nilo é uma daquelas continuações totalmente independentes, comuns na literatura. Ela traz de volta o famoso detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh) e seu vistoso bigode (El Bigodón del Infierno) e daí coloca os dois em um novo caso, com novos personagens e um novo elenco.

Em Morte no Nilo, Poirot e seu bigode estão passando umas férias no Egito quando são abordados por um casal formado pela Mulher-Maravilha (Gal Gadot) e um suposto canibal da vida real (Armie Hammer). Eles acabaram de se casar, e suspeitam que a ex do suposto canibal os está stalkeando e pode cometer algum crime.

Para fugir da suposta doida, o suposto canibal e a heroína principal da DC resolvem usar uma parte infinitesimal da sua vasta fortuna para levar todos os convidados do casamento para um cruzeiro pelo Nilo. Delícia.

SÓ QUE DAÍ ACONTECE UMA MORTE NO NILO

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O triângulo amoroso.

Pois é, o que parecia uma idílica lua de mel e um slice of life na vida das pessoas mais ricas do mundo (em certo momento, a Gal Gadot diz que poderia comprar o Egito para se livrar da doida) vira uma história de mistério. E é aí que a coisa engrena. Acontece que a tal morte do título acontece exatamente aos 70 minutos de filme. É um tempo considerável para algo que na verdade é apenas o primeiro ato.

Em roteiro, é comum dividir a história em três atos, sendo que o primeiro e o último ocupam 25% da duração, enquanto o ato dois, o cerne, o desenvolvimento da história, fica com 50%. Aqui essa fórmula mágica foi alterada, dando ao primeiro ato 50% da duração e fazendo os dois atos restantes ficarem com 25% cada. O resultado disso é aquela incômoda sensação de “onde esse filme quer chegar?”, de “nada acontece”, sabe?

Depois do assassinato é que a coisa se torna familiar, mas também mais envolvente.

WHODUNIT

Você já viu esse tipo de história muitas vezes, em comédias, desenhos e até outros filmes mais sérios. Tal é o escopo da influência da nossa amiga Agatha. E Morte no Nilo é exatamente o que você espera. Um grupo de pessoas da alta sociedade estão presas em um barco onde aconteceu o assassinato. Um detetive está a bordo e, com a ajuda do seu bigode tremendão, eles devem solucionar o mistério antes do barco chegar em um porto.

A investigação é o mais legal do filme, especialmente porque o bigode em questão é muito carismático. Ele entrevista um a um todos os presentes no barco, e literalmente acusa todos eles de terem cometido o crime. Não sei se a intenção disso era ser engraçado, mas eu ria muito a cada nova acusação. Como costuma ser nesse tipo de história, todos são suspeitos, e no final das contas o criminoso vai ser o menos suspeito dentre eles.

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Claro, você já viu essa história muitas vezes. Caramba, até Scooby-Doo seguia essa fórmula. Então acaba tendo grande possibilidade de matar quem é o culpado. E essa é parte da graça do filme mesmo. Será que você, mero espectador, será capaz de solucionar o crime antes de alguém capaz de cultivar tamanho bigode?

Particularmente, eu não fui capaz de montar a história inteira, como Poirot faz no final do longa, mas eu matei quem era o assassino antes mesmo do assassinato acontecer. Isso não afetou meu aproveitamento do filme, claro. Na verdade, gostei muito de toda a parte da investigação, tendo ficado entediado apenas no primeiro ato (que é metade do filme). No final, saí do cinema satisfeito. Morte no Nilo não é um filme inesquecível, mas é aprazível. E, se ganhar outra continuação, minha crítica a ele provavelmente vai começar com algo do tipo: “Maldito Corrales! Plagiou minha ideia pra esta crítica anos atrás!”.

CURIOSIDADE:

Morte no Nilo começa com um flashback. Uma história de origem. Sabe de quem? Do bigode. E eu não estou brincando.