O Retorno das Três Luzes Vermelhas do Xbox 360

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Um dos textos delfianos que mais traz mensagens à minha caixa postal é o que tratou da morte do meu Xbox 360 com as fatídicas luzes da morte, three red lights, 3RL ou como você quiser chamar. Sim, esse aqui (se você não leu, clica aí para saber tudo que aconteceu antes do que vou relatar aqui). O motivo é óbvio: muita gente o colocou em muitos fóruns de games e praticamente qualquer pessoa que procure pelo problema internet afora, vai encontrar aquele texto. Aqueles que encontrarem, contudo, vão ver que a história deixou de ser atualizada. Isso teve um motivo, e eu vou contar tudo agora.

Após o contato com a assessoria da Microsoft, eles disseram que iriam me ajudar, mas pediram para eu não colocar isso no site, pois seria uma exceção. Não falaram para eu tirar o texto (até porque isso seria ilegal), nem nada assim e foram realmente simpáticos e amigáveis.

Como eu falei no texto em questão, na ocasião de sua publicação, meu Xbox 360 estava em uma loja da Santa Efigênia, para orçamento. A assessoria sugeriu cuidar do envio do meu videogame para os EUA e me disseram que em 10 dias úteis eu estaria com ele novinho em folha. Como a gente sabe, ele estava na garantia, o problema é que a garantia é local e eu tinha comprado o console através de uma revenda estadunidense autorizada (nada de contrabando ou ilegal). Assim, eu teria a garantia lá, mas não aqui no Brasil. A Microsoft, portanto, ajudaria apenas com o transporte, já que enviar por conta própria, pelo correio, além de não ter garantia de retorno, iria sair mais caro do que se comprasse outro. Eles sabiam desde o início que o console já tinha sido aberto para orçamento e essa ajuda foi uma proposta deles que eu, é claro, aceitei.

Combinamos de virem aqui em casa pegar a ordem de serviço da “assistência técnica” que estava com o console e em seguida irem lá buscar. O “transportador” que veio aqui me mostrou a to do list dele que continha algo tipo “pegar na Sta Efigênia número X e levar para a número Y”. Isso me deixou um tanto inseguro, mas o cara me garantiu que se referia a outra coisa. De qualquer forma, me preocupou o suficiente para citar este detalhe aqui e deixar possíveis conclusões para o leitor.

Eles pegaram o console e me confirmaram que estava tudo encaminhado. Assim, os 10 dias úteis passaram e nada. Depois de um grande atraso, finalmente a pessoa da assessoria que estava cuidando do caso, teve alguma informação sobre meu querido videogame moribundo. Ele disse que o videogame estava aberto, mexido, com sei-lá-o-quê na placa e que por causa disso não iriam consertar. Mas, hein? O.o

Até o momento em que eles pegaram o console na Efigênia, o cara nem tinha me passado um orçamento. Ele provavelmente tinha aberto, mas não tinha autorização para modificar nada. Ainda assim, não tinha nada que eu poderia fazer. É possível que o cara tenha realmente bichado meu videogame ou quem sabe até ele tenha sido levado para o tal outro número da rua que o bichou de vez. Como não posso acusar nenhuma das partes com certeza, embora tenha achado tudo deveras estranho, agradeci a ajuda da assessoria, que sugeriu que eu comprasse um nacional. Na época, o nacional nem HDMI tinha, e custava o triplo do que custaria se pegasse um Elite importado de forma particular e legalizada, como fiz com o outro. Disse para o nosso amigo que estava considerando pegar um Elite. Ele então disse que, se desse algum problema, para eu entrar em contato com ele antes de qualquer coisa, pois tentaria me ajudar.

Isso me tranqüilizou e, embora eles não tenham cumprido a parte deles na promessa (de arrumar o console), resolvi cumprir a minha e não atualizar mais o texto em questão. Aliás, isso foi essencial para eu ter decidido comprar OUTRO Xbox 360, ao invés de um PS3. Em algum momento de janeiro de 2008, já estava com o meu Elite com o milagroso chip Falcon (ou seria uma placa? Sei lá, isso é indiferente aqui), lutando para esquecer o trauma dos meses sem videogame, mas com bastante receio de que acontecesse de novo.

Pois aconteceu. Sábado, 28 de junho de 2008. O demo de Lego Indiana Jones apareceu na Live e o baixei imediatamente, pois era o próximo jogo que queria comprar. Baixei e, uns dois minutos depois de começar a rodar, a tela ficou cheia de pontinhos. Desesperado, desliguei o bicho, esperei alguns segundos e liguei de novo. Apareceu na tela a mensagem “E74, contate a Microsoft”. Ao mesmo tempo, a única luz vermelha que não acende nas 3RL (a do quarto quadrante), piscava em vermelho. Esta é a página da Microsoft sobre o problema.

Como era sábado, e só podia contatar a assessoria na segunda, dei uma pesquisada. Pelo que encontrei em fóruns, é um problema de vídeo, que poderia ser do cabo ou do console. Testei com o cabo do console morto e deu na mesma. Ou seja, era do console. Ou seja, meu Xbox 360 Elite com fabricação de novembro de 2007 e o milagroso Falcon confirmado, deu 3RL em uns cinco meses (o anterior pelo menos durou um ano). Ou melhor, deu 1RL. Falei com uma assistência técnica e o cara disse que esse 1RL é um erro típico do Elite com placa Falcon (para facilitar a redação, vamos supor que seja uma placa). O cara ainda disse que constantemente pega Falcons para arrumar. E pior: quando dá 3RL no Falcon, segundo o cara, é pior, mais difícil de arrumar, e mais caro. Ou seja, não tem jeito. Falcon ou não Falcon, o Xbox 360 ainda é o videogame mais bichado da história.

De qualquer forma, estava relativamente tranqüilo. Da outra vez, quase sem contato prévio, a assessoria da Microsoft me ajudou (ou pelo menos tentou). Dessa vez, o console nunca tinha saído da minha casa (ou seja, não foi mexido nem aberto por ninguém), estava também na garantia e eu já sabia até com quem falar na assessoria. Entrei em contato com o nosso amigo, que me agradeceu por falar com ele antes de qualquer coisa, pediu para mandar um e-mail descrevendo o problema e disse que iria falar com a MS e me retornaria.

Há muito aprendi que não se pode confiar em brasileiros. A coisa mais comum por aqui é alguém dizer que pode contar com ele e, na hora que você realmente precisa, dá para trás. Por causa disso, quando recebi a resposta, não me surpreendi ao dar de cara com uma negativa, dizendo que a Microsoft avaliou meu caso e não pode fazer nada por mim.

Ainda tentei conversar com ele, ver se não podia fazer alguma coisa, sugeri comprar apenas o console nacional com garantia, já que não preciso de HD (tenho dois!), controles (tenho três) cabos (já tenho dois de cada) e muito menos os jogos do Kit nacional. Ele disse que falaria com a empresa para ver o possível e me retornaria sem falta até quarta, 9 de julho. Este texto está sendo escrito na quinta, 10, e até agora (e o momento desta publicação) – grande surpresa! – nada.

Neste ponto, quero deixar claro uma coisa: a assessoria da Microsoft em nenhum momento foi antipática ou grosseira comigo (assim como o atendente da empresa também me tratou muito bem quando liguei para lá, conforme relatado no texto anterior) e eu até acredito que eles tentaram ajudar da forma que podiam em ambas as vezes. Só que, como assessoria, o máximo que eles podem fazer é intermediar e, se a Microsoft não quer ajudar (veja bem, não é que não pode, é que não quer, pois é óbvio que eles têm como arrumar ou trocar o console sempre que quiserem), não tem muito que eles possam fazer além de tentar controlar os danos do cliente em meio à imprensa.

Ok, as leis de garantia não EXIGEM que eles consertem ou resolvam os problemas de clientes que compraram algo no exterior, mas também não impedem. Qualquer pessoa com um pouco de maturidade (ou um semestre de marketing básico) sabe que muitas vezes é melhor fazer algo que você não é OBRIGADO a fazer para deixar outra pessoa – no caso, um cliente que gastava bastante em produtos originais – feliz. Ainda mais no caso da Microsoft, que já está com sua imagem fragilizada graças ao fato de ter colocado um produto prematuro e problemático no mercado.

O resultado é que eu estou com dois Xbox 360 comprados legalmente (inclusive no segundo paguei mais de 400 reais em impostos de importação – e ainda assim saiu metade do preço do kit nacional), algumas dezenas de jogos originais (inclusive alguns bem caros – só em Rock Band paguei mais de R$ 1.000,00) e uma conta Gold na Xbox Live, onde estou constantemente comprando músicas e jogos Arcade. Como disse no texto anterior, a meu ver eu sou exatamente o tipo de cliente que a MS deveria querer manter. Eu gasto bastante investindo no meu console, pois faço questão de ajudar a indústria dos games a crescer aqui no Brasil. E isso deixa ainda mais doloroso quando, apesar de tudo isso, quando você precisa de algo tão simples, eles simplesmente cospem na sua cara.

Ah, sim. E eu sou jornalista, talvez a profissão que mais mereça o subtítulo de “formador de opinião”. E eu tenho um site. E esse site é acessado por bastante gente. E esse “bastante gente” é EXATAMENTE o público-alvo da Microsoft em relação à linha de produtos Xbox 360. Sem falar que muita gente me considera entendido no assunto e me procura para ajudar a decidir qual videogame comprar. E mais, nossa linha editorial é 100% parcial. Ou seja, eu – e qualquer outra pessoa – posso dar aqui minha opinião sincera sobre qualquer produto livre das amarras da grande mídia que depende de anunciantes.

Essas são coisas que deveriam ter sido analisadas pela Microsoft. Talvez a mixaria que ela gastaria arrumando meu problema devesse ter sido encarado como um investimento, pois sem dúvida é inferior aos danos que um texto como esse pode causar. Claro, não estou tendo delírios de grandeza. A Microsoft é a maior empresa do mundo e deve até saber o que significa FNORD. Qualquer dano que o DELFOS cause nela vai ser mínimo (e eu nem quero causar danos, estou escrevendo este texto apenas para responder às dúvidas do público). Ainda assim, são maiores do que os de um cliente normal. Afinal, além de eu ser um cliente normal e honesto, que investia uma boa quantia mensal no seu videogame, ainda tenho condições de falar a boa parte do público-alvo da empresa. E tenho certeza que algumas pessoas que lerem isso vão pensar duas vezes antes de comprar seu Xbox 360 – e os que já compraram, principalmente achando que o tal Falcon resolveria tudo, vão ficar com uma pulga atrás da orelha.

Agora que contamos tudo que aconteceu, vamos à parte opinativa e aos passos para o futuro. A Microsoft perdeu completamente a minha confiança, não apenas nos videogames, mas em absolutamente qualquer produto. Eu tenho hoje um teclado e um mouse da marca, mas se um dia quebrarem ou derem problemas, eu sem dúvida vou preferir comprar um Logitech para substituí-los.

Quanto ao videogame, eu devo arrumá-lo em alguma assistência técnica não credenciada (ou faço isso ou uso o bicho como peso de papel), mas nunca mais vou comprar absolutamente nada para ele, nem jogos, nem acessórios. No dia seguinte ao problema relatado aqui, comprei um Wii e é possível que compre um PS3 no futuro para atender minhas necessidades mais hardcore. Contudo, meu Xbox 360 será usado a partir de agora apenas para jogar o que eu já tenho.

Além disso, sempre que alguém me consultar para saber qual comprar, a dúvida vai ficar entre o PS3 e o Wii (nem nas gerações futuras vou indicar ou considerar comprar algo da MS). A Sony pode não estar nem aí para lançar seus videogames por aqui, mas pelo menos não cuspiu na cara de um cliente fiel duas vezes!

Gostaria de tranqüilizar aqueles que já fizeram a besteira de comprar um 360 (e de comprar um monte de jogos originais), mas tudo que tenho a dizer é: senta e chora, meu amigo. O que você tem ligado na TV é uma bomba-relógio. Aproveita enquanto pode e recomendo não gastar mais nem um centavo nele. A questão não é SE ele vai quebrar, mas QUANDO. Pelo menos se for o nacional, você vai poder arrumá-lo repetidamente durante três anos (todo mundo que conheço nessa situação tem que mandar o console de volta a toda hora, de tanto que ele quebra), embora depois disso seja por sua conta. Se você importou por conta própria, como eu: danou-se, pois a MS não se importa com seus clientes a não ser que a lei a obrigue a repará-los. Como a gente ficou nessa brecha de desamparados, somos obrigados a chorar mais ainda, mesmo não tendo feito nada de errado, nem legalmente nem moralmente. Se seu console for contrabando, aí é outra história. É um produto ilegal e pronto, mas não é o meu caso e também não conheço ninguém nessa situação.

A taxa de falha divulgada do produto é de altíssimos 30%, mas isso é praticamente fictício, pois na vida real está próximo é de 100%. Eu conheço muita gente que tem o 360 (a maioria, infelizmente, por indicação minha). Nenhum deles teve o console livre de defeitos por mais que um ano. Os poucos que ainda têm o bicho em perfeito estado de funcionamento (como o Homero, aqui do site), compraram o dito-cujo há poucos meses. E veja o meu caso: dois consoles mortos em menos de um ano e meio. Sabe quantos Mega-Drives, Saturns e Master Systems eu comprei, em quase 20 anos de jogatina? Um de cada! E todos eles ainda funcionam perfeitamente e são ocasionalmente ligados para uma sessão nostalgia! De nada adianta jogos legais se a máquina quebra em poucos meses.

Infelizmente, essa minha postura de não comprar mais nada de Xbox 360 vai se refletir também nas matérias delfianas, pois vou ficar impossibilitado de jogar e peço desculpas aos proprietários do console, ao mesmo tempo em que prometo fazer o possível para tentar compensar isso (nem que seja jogando os games em outras plataformas, quando estiverem disponíveis). O lado bom é que você pode esperar um aumento considerável de resenhas e notícias de jogos do Wii e, no futuro, até de PS3. Pois se até o momento, o DELFOS, como um todo, se manifestava a favor do Xbox 360 em detrimento dos outros (aqui e aqui, por exemplo), isso vai mudar – e qualquer um é capaz de compreender o valor de um apoio espontâneo como este, que a Microsoft se esforçou tanto para jogar fora. Como um site opinativo (e considerando que opiniões são mutáveis), temos direito de fazer isso. Hoje vamos apoiar os outros em detrimento do Xbox 360, simplesmente porque me recuso a continuar investindo dinheiro para ajudar na divulgação de uma empresa que coloca produtos inacabados no mercado e não se importa em reparar seus erros ajudando os clientes honestos.

Só é importante ressaltar que isso não é um boicote. Caso tenhamos acesso a novos jogos do console que mereçam ser resenhados (vai que alguém faz uma doação ou se o público participar com seus próprios textos), eles serão publicados. Para falar a verdade, temos mais umas duas resenhas já prontas de jogos para o console, que vão sair de qualquer jeito. Da mesma forma, uma ou outra notícia sobre o bicho ainda deve aparecer por aqui, assim como jogos de grandes franquias, como o GTA, que apenas serão analisados em suas outras versões.

De forma alguma esse texto deve ser encarado como uma vingança contra a Microsoft, pois não é o caso. Até porque tenho noção da minha insignificância em meio ao império do Bill Gates. Encare isto apenas como um cliente insatisfeito expondo sua opinião para centenas de milhares de amigos que, por acaso, são exatamente o público-alvo do produto. Por outro lado, como jornalista com um público interessado (como fica claro pelas dezenas de e-mails semanais sobre o assunto que recebo), me vejo na obrigação de contar esta história. A meu ver, adiei muito para tornar o assunto público.

Com isso, coloco um ponto final nisso tudo e bola pra frente. Se acontecer mais alguma coisa, esse texto será atualizado, mas não espere por isso. Como sempre, incentivo os delfonautas a espalharem o link desta matéria internet afora para que mais pessoas tenham acesso à situação. Inclusive, em nome da nossa famosa Imparcialidade Parcial, vou enviar este link para a assessoria da Microsoft (pois acho importante que tenham conhecimento da existência deste texto) e, se a empresa quiser um direito de resposta, terei prazer em publicá-lo neste espaço ou em criar um arquivo específico para isso. Então se mantenha delfonado!

Atualizada 1 – 4/8/2008: Mais um defeito apareceu no meu Xbox 360, já “arrumado”. Ele agora não conecta mais na Live, pois não reconhece que o cabo de rede está conectado. Segundo a assistência, teria que trocar a peça, mas ele não tem como fazer isso, pois precisaria pegar a dita-cuja de outro Falcon. Como meu falecido console anterior não é Falcon, eu não posso utilizá-lo nem para isso.

Atualizada 2 – 3/12/2008: Só para colocar um ponto final na história. Algumas semanas depois de arrumado, o E74 voltou. Arrumou de novo e voltou de novo. Finalmente, o técnico disse que não tinha jeito e me devolveu o dinheiro. Ou seja, o E74 é um problema sem solução, o máximo que dá para fazer é voltar a funcionar por mais um tempinho.

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