Esta é nossa crítica Air A História Por Trás do Logo que, ao contrário do que o título promete, não conta a história do logo da Nike, mas do modelo de tênis Air Jordan. Quando os seres humanos chegaram à Terra, começaram a fazer documentários sobre si mesmos e declararam guerra às árvores. Este fato histórico incontestável está em um dos livros da série O Guia do Mochileiro das Galáxias.

Douglas Adams morreu antes de ver a conclusão natural desse pensamento. Os documentários se tornariam cinebiografias. E, uma vez que não sobrasse mais nenhuma pessoa digna de nota para ganhar este tratamento, obviamente a gente começaria a cinebiografar modelos de tênis. Não criação de empresas. Modelos de tênis mesmo. Produto único.

CRÍTICA AIR A HISTÓRIA POR TRÁS DO LOGO

Permita-me ser direto: este tipo de história só me importaria menos se incluísse um rei gago. Eu até entenderia um filme sobre a Nike. Certamente há uma história em como a empresa se tornou uma das maiores do mundo. Ainda mais se algum cineasta resolvesse abordar o trabalho análogo à escravidão que a empresa emprega em países subdesenvolvidos. Mas fazer uma história inteira em cima de um modelo de tênis, lançado por uma empresa que já era uma das maiores do mundo em sua área? Suspiro… Serão duas longas horas.

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A primeira impressão ainda foi péssima. Air começa com algumas cenas históricas dos anos 80. Coisas como comerciais antigos, sabe? Que costumam não estar bem preservados e por isso têm uma qualidade de imagem baixa. Quando um desses arquivos mostra a cara do Matt Damon, cai a ficha: o filme é intencionalmente feio. Este design sujo e sem cores foi intencionalmente colocado na pós-produção para dar a ele a cara de algo mais antigo. E convenhamos, é complicado ir até um cinema para ver um vídeo em qualidade inferior ao que meu celular consegue gravar.

CRÍTICA AIR E A REVIRAVOLTA

Era uma batalha quase perdida para Air. Eu sinceramente não esperava que ele fosse dar a volta por cima. Mas deu e, veja só, acabou me entretendo. Moderadamente, mas entreteu. O foco do filme é nas investidas da Nike, já uma empresa multibilionária, tentando dominar, TAMBÉM, o mundo do basquete. Porque, como a Stephanie Sterling fala, as empresas estadunidenses não querem muito dinheiro. Elas querem todo o dinheiro.

Só que elas querem todo o dinheiro sem investir o necessário para ganhar isso. A estratégia da empresa é usar 250 mil dólares para patrocinar três jogadores de segundo escalão. Daí o Matt Damon sugere usar todo esse dinheiro para contratar um único de primeiro: Michael Jordan, que ganhou fama única e exclusivamente por ter participado do filme Space Jam.

A empresa toda resiste. O próprio Michael Jordan resiste, pois gosta mesmo é da Adidas (o filme se passa em um mundo em que a Adidas é maior que a Nike, por mais que hoje isso pareça absurdo). O longa é sobre o Matt Damon apostando sua carreira para dar dinheiro de alguém que não quer dar (o dono da Nike) para alguém que não quer receber (Jordan). Parece até aquele meme que você mostra essa sinopse e daí “escrito e dirigido por George Lucas”. Mas obviamente, a gente sabe que o tênis Air Jordan existe, então o Mateus Damião está destinado a cravar seu final feliz nesta história.

CRÍTICA AIR: MELHOR DO QUE PARECE

É, de fato, uma história boba e sem importância (ricos ficando ainda mais ricos, apesar de lutarem contra isso a todo momento). Mas o filme faz um bom trabalho em mostrar que, pelo menos para as pessoas envolvidas, tudo é bem importante.

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As apostas são altas o tempo todo para Sonny, o personagem do Matt Damon, em especial. Como o próprio Michael Jordan não tinha interesse em fechar com a Nike, o agente sequer aceitava passar a oferta do protagonista para ele. Isso leva o teimoso Sonny a procurar por formas alternativas de chegar no atleta. E é relativamente engraçado o caminho que ele precisou tomar.

MICHAEL JORDAN APARECE EM AIR?

Esta é uma pergunta comum em discussões sobre o filme. A resposta mais clara é dúbia. Isso porque, há sim, um ator contratado para fazer o papel do Michael Jordan. Mas ele não mostra a cara, e aparece de costas mesmo nas cenas em que não faz sentido nenhum estar assim (tipo todo mundo olhando para um lado e ele para outro). É uma opção de cinematografia no mínimo curiosa. Não me parece difícil deixar um jovem ator parecido com o atleta, e ele é tão conhecido que não há motivo para fazer mistério com seu rosto. O Jordan real aparece em imagens de arquivo, mas não em cenas filmadas para Air.

Sabe, eu saí do cinema até surpreendentemente satisfeito com o que tinha visto. Após a primeira impressão negativa, isso se dissipou e eu não mais fiquei entediado. Felizmente, ao colocar meus pensamentos nestas maltraçadas na sua frente, percebo que apenas saí satisfeito porque as expectativas eram muito baixas.

Air – A História Por Trás do Logo é um filme nada. Competente, porém genérico, previsível e sem ambição. Talvez traga algum interesse maior para entusiastas de basquete. Ou de tênis. Especialmente de tênis. Você é um deles?