Baseado em Conta Comigo, clássico da Sessão da Tarde, acho que esta é a primeira vez que falamos de um longa filipino aqui no DELFOS. Bem-vindo à nossa crítica Nintendo e Eu.

CRÍTICA NINTENDO E EU

Nintendo e Eu é um filme sobre o fim da infância de um grupo de meninos que hoje estariam bem próximos da minha idade (talvez um pouco mais velhos). Eles estão começando a se interessar por garotas e acreditam que a circuncisão será o momento em que se tornarão homens.

Daí entra o Nintendo do título, que não se refere à marca Nintendo, mas ao videogame que desde então passou a ser chamado de Nintendinho. Como quase toda criança dos anos 80, eles gostavam muito do Nintendinho, e tiveram sua infância marcada pelo videogame.

CRESCENDO COM UMA MÍDIA

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Inclusive, isso me fez pensar como eu e pessoas da minha idade (que hoje estão próximas dos 40) crescemos junto com essa mídia eletrônica. Os consoles de 8-bit eram totalmente focados em crianças. Os de 16 ficaram mais adolescentes. Sonic tinha atitude, afinal. Ele não era um fofo bebezão como o Super Mario. Depois os games ficaram machos e violentos, até chegar aos temas sérios e mais maduros comuns hoje.

Se você está próximo da minha idade, e especialmente se for homem, o amadurecimento dos games provavelmente acompanhou o seu próprio. Eventualmente, os games passaram a receber de braços abertos as mulheres e pessoas mais diversas, mas a gente sabe que o processo de amadurecimento acompanhou especialmente os homens.

Hoje, na maturidade, ainda temos jogos lúdicos. Afinal, mesmo adultos, a gente ainda gosta de brincar. Nintendo e Eu me levou a refletir como minha vida acompanhou a mídia dos games. Ou melhor, como os games como linguagem acompanharam o meu próprio amadurecimento. E isso é algo raríssimo, um privilégio claro da minha geração. O que nos leva ao título original. Death of Nintendo, ou Morte do Nintendo. Isso não representa a empresa ou o console, mas o fato de que a infância dessa geração estava muito ligada ao Nintendinho.

CONTA COMIGO, NINTENDO E EU

Crítica Nintendo e Eu, Nintendo e Eu, Death of Nintendo, DelfosFeito este interlúdio, a verdade é que você não deve assistir a Nintendo e Eu esperando um filme sobre videogames. Ele é, como já deve ter ficado claro, um filme sobre o fim da infância e início da adolescência. Videogames são parte disso, como eram da vida de todos que viveram a época. Mas são uma pequena parte.

Você pode dizer que nada acontece em Nintendo e Eu. E é verdade. Os meninos passam por relacionamentos, amadurecimentos, mas não há grandes conflitos ou aventuras. É um slice of life, um quadro daquele período mágico em que a infância está acabando. Um período em que nada acontece, mas tudo que acontece parece extremamente importante.

Talvez a coisa mais marcante em Nintendo e Eu é que ele usa efeitos sonoros de games da Nintendo para representar coisas do cotidiano. E isso dá um charme bem especial ao longa, mas fico pensando como a extremamente litigiosa Nintendo pode reagir ao ver seus efeitos sonoros usados em uma cena de masturbação.

MEGA DRIVE E EU

Na verdade, Nintendo e Eu é um filme lento, em que as coisas demoram a acontecer. Quando acontecem. O tédio faz parte dele. Como na infância. Mas isso também é parte do que o torna mágico.

Durante a sessão, admito que eu não estava gostando muito do que estava vendo. Porém, ele cresceu consideravelmente. Ao terminar, eu já senti que gostei. Passei as horas seguintes pensando na minha própria infância e no meu amadurecimento, e como isso foi refletido na mídia games ao longo da minha vida. Ao fim desse processo, quando sentei para escrever esta crítica Nintendo e Eu, já estava com o filme guardado num lugar especial do meu coração.

A infância é universal. Talvez o videogame da sua infância tenha sido o Playstation e não o Nintendo, mas os conflitos e desafios encarados pelos meninos de Nintendo e Eu com certeza terão um paralelo em sua vida. Está longe de ser um Sessão da Tarde hollywoodiano, mas Nintendo e Eu é uma interpretação diferente de um gênero sensível e bonitinho que retrata um período tão marcante em nossas vidas, em que absolutamente nada acontece.