Lembra que na minha análise Elden Ring, eu comentei o quanto conversei com o Daniel Villela durante a produção dela? Pois então, quando ele comentou que Elden Ring seria o GOTY, eu falei “Olha que o Kirby vem aí”. Bully que é, ele desdenhou de mim. Pois então, agora que estou escrevendo minha análise Kirby and the Forgotten Land, é hora de responder. A nova aventura da bolinha rosa mais fofa do mundo é ou não o jogo do ano?

KIRBY E O CORRALES

Sabe, se você ler minha conversa com o Daniel, pode deduzir que eu sou um grande fã do Kirby. Eu sou, sim, fã da Nintendo, e de jogos de plataforma. Mas a série do Kirby não está entre minhas preferidas. Eu joguei o Star Allies de Switch, por exemplo, e não me divertiu tanto. E aquele jogo de luta, Kirby Fighters 2, eu nem joguei – quem escreveu sobre foi o Daniel, veja só. Mas você sabe, plataforma 3D é meu gênero de games preferido. E minha viril e barbuda intuição masculina dizia que o novo jogo da bolinha rosa fofinha seria sensacional!

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Uma imagem como essa coloca um enorme sorriso na minha cara.

E não deu outra, meu amigo! Por algum motivo, eu achava que Kirby and the Forgotten Land seria mundo aberto. Mesmo assim, eu ainda botava muita fé nele. Olha como Bowser’s Fury é legal! Mas descobrir que não, é apenas um jogo de plataforma 3D em fases tradicionais, deixou-me ainda mais feliz e empolgado.

ANÁLISE KIRBY AND THE FORGOTTEN LAND

É isso. Kirby and the Forgotten Land é um jogo de plataforma 3D em fases, e é bem tradicional. Você com certeza já jogou outros assim. Seja o delicinha Astro Bot, o divertido Sackboy: A Big Adventure ou, claro, o Super Mario 3D World – que talvez seja o mais semelhante. E eu amo isso, pelos poderes de Myiamoto!

Basicamente, Kirby and the Forgotten Land traz uma câmera mais ou menos isométrica e fases lineares cheias de colecionáveis e outras missões que incentivam a exploração. Toda fase tem três, quatro ou cinco Waddle Dees escondidos para salvar, e algumas outras missões independentes. Assim:

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Um raro caso em que cumpri todas as missões na primeira tentativa.

Cada missão recompensa com um Waddle Dee, e as três últimas são sempre secretas. Elas são reveladas quando você cumpre parte de seus objetivos, ou uma invisível é revelada cada vez que terminar a fase. Na maior parte dos casos, minhas explorações já revelavam as missões, mesmo que eu não as cumprisse totalmente. Foram poucas as fases que depois de jogar uma vez continuavam com missões secretas.

No final de cada mundo, você precisa ter um certo número de Waddle-Dees liberados para desbloquear o chefe e poder avançar. Isso pode ficar muito chato, eu sei. Mas, pelo menos para mim, não travou o progresso em nenhum momento. Eu sempre cumpria a meta de resgates muito antes de terminar todas as fases do mundo.

ANÁLISE KIRBY AND THE FORGOTTEN LAND: FAMILIAR E FAMINTO

Pela descrição acima, você já deve fazer uma excelente ideia de como é Kirby and the Forgotten Land. Ele definitivamente não reinventa a roda. Simplesmente coloca todos os gimmicks e fórmulas de um plataforma 3D tradicional no gameplay conhecido da nossa bolinha rosa preferida.

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Por obséquio, dá para parar de me esmagar, caro símio gigante?

Ou seja, aí entra a jogabilidade única pela qual conhecemos os jogos do Kirby. Ou seja, o herói é bem simples, podendo apenas pular e aspirar. A pegada é que comer um inimigo que tenha poderes faz Kirby copiar esses poderes. Um cosplay completo, com chapeuzinho e roupinha.

Tem 12 transformações totalmente diferentes, que podem transformar Kirby and the Forgotten Land em um jogo de tiro, em um hack and slash e em vários outros estilos conhecidos de gameplay. Como a jogabilidade é simples, descobrir cada uma dessas habilidades é uma delícia. Afinal, em geral basta apertar alguns botões e você imediatamente saca seus novos poderes.

Além disso, todas têm pelo menos três evoluções. São upgrades que você compra com moedas e outros colecionáveis. Algumas vezes, simplesmente melhoram a habilidade, aumentando força e velocidade dos ataques. Mas em alguns casos a coisa é mais complexa, e exige escolher: prefere o ataque mais rápido ou o mais forte? Ou, quem sabe, o que acerta mais longe?

IT’S ME, KIRBY (AND THE FORGOTTEN LAND)!

Boa parte das habilidades normais já foram vistas em jogos anteriores. Mas Kirby and the Forgotten Land traz uma grande novidade, chamada de Mouthful Mode.

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Ka-blam! Ou seria Car-blam? Sacou? Hein, hein?

Além das cópias tradicionais, que podem ser usadas até você escolher trocar, inclusive entre as fases, há power ups mais específicos. Estes envolvem comer alguma coisa maior, como um carro ou uma máquina de refrigerante. Essas novas habilidades trazem gameplays únicos, que podem ser usadas em pedaços específicos das fases. E acrescentam ainda mais variação a um jogo já absurdamente variado.

O carrinho da imagem acima, o mais divulgado pela Nintendo, é uma delícia. Ele possibilita passar pelas fases em alta velocidade, atropelando tudo que está pelo caminho. Outro que gostei muito é a lâmpada, que ilumina seu caminho, mas atrai inimigos. E ainda tem fases de voo e de montanhas-russas. Simplesmente não teve uma transformação do mouthful mode que eu não tenha gostado. E sempre que via que era hora de uma delas, dava um sorrisão de expectativa pelo que me esperava.

O PROBLEMA NINTENDO – EXCESSO DE CONTEÚDO

Embora eu seja muito fã dos first parties da Nintendo, todos trazem um problema sério para mim. São jogos que se recusam a acabar. Depois de todas as campanhas, seja de Super Mario ou de Yoshi ou de Donkey Kong Country, sempre dão um jeito de continuar depois dos créditos através de remixes. Isso sem falar no conteúdo secundário que rola durante a campanha – pense nos cometas de Super Mario Galaxy.

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Kirby Jones!

Em geral, tudo que sai do escopo de “campanha principal” nesses jogos eu considero bem inferior. E Kirby and the Forgotten Land tem tudo isso. Durante a campanha, há fases menos elaboradas com limite de tempo, normalmente focadas em uma única habilidade. Essas dão estrelinhas necessárias para evoluir as habilidades, então não são exatamente opcionais.

UMA NOVA DIFICULDADE DESBLOQUEÁVEL

E depois que você rola os créditos, tem uma desculpa de história para abrir um novo mundo. Isso poderia ser legal, afinal, são mais fases e as fases são ótimas. Porém, este novo mundo pega cada um dos mundos principais e combina todas as fases em uma única grandona – cada mundo vira uma fase. Essas fases são remixadas para ficarem mais difíceis. E Kirby and the Forgotten Land é um jogo bem fácil, a ponto de que muita gente pode considerá-lo fácil demais. Então essas versões remixadas podem até agradar mais do que as originais. O chato é que elas usam filtros meio monocromáticos. Isso tira parte da alegria contagiante da campanha principal.

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Tem uma bolinha rosa queimando meu bumbum!

Porém, ao invés de deixá-las inacessíveis apenas para os que terminaram o jogo, elas podiam ser simplesmente uma opção de dificuldade. Kirby and the Forgotten Land já tem duas. A normal (que é bem fácil) e uma ainda mais fácil. Deixar o modo hard destravado desde o início para as muitas pessoas que não gostam de Kirby por ser fácil demais acabaria popularizando mais o jogo. Seria tipo uma versão reversa de se Elden Ring tivesse uma opção mais fácil. Acredito que eu mesmo teria jogado nessa dificuldade desde o início se pudesse.

Particularmente, como alguém que tem TOC e é completista, seria bem mais gostoso jogar as fases direto no hard e terminar o jogo, do que se sentir obrigado a jogar tudo uma segunda vez ou então ficar com a sensação de que “não terminei a história”. E isso é um problema que tenho com os jogos da Nintendo há bastante tempo.

ANÁLISE KIRBY AND THE FORGOTTEN LAND É MUITO DELICINHA!

Essa é minha única crítica negativa mais forte sobre o jogo, e é uma já antiga. Porém, assim como qualquer outro jogo first party da Nintendo, Kirby and the Forgotten Land é uma delicinha. Cada fase é um enorme prazer, cheia de surpresas e cenários lindíssimos.

Kirby and the Forgotten Land é lindo, meu camaradinha! Porém, ele também mostra que o Switch está tecnicamente limitado, mesmo para os jogos da Nintendo. Isso porque tudo que fica um tanto distante da câmera, é animado com metade da taxa de quadros – e o jogo em si já roda a apenas 30 fps.

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Você enxerga bem longe, mas o que fica longe parece um show de slides.

Isso é muito perceptível e faz com que qualquer coisa que esteja em segundo ou terceiro plano fique com um jeito de stop motion. Algo parecido com aquela cena famosa de Jasão e os Argonautas, sabe?

Isso pode até ser legal, se o jogo for planejado para ser assim. Mas em Kirby and the Forgotten Land foi claramente uma limitação técnica. E, dessa forma, fica um tanto feinho.

KIRBY AND THE FORGOTTEN LAND É O ANTI-ELDEN RING

Essa é uma comparação que pensei durante toda minha campanha. E não é apenas pela dificuldade. Kirby and the Forgotten Land é um jogo muito conveniente. Os loads são tão rápidos e estilosos que muita gente vai jogar sem nem perceber que são telas de carregamento. Dá até para pausar (quem diria que em 2022 alguns jogos aceitariam ser pausados, né? A tecnologia é mesmo uma coisa impressionante).

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E se o Kirby virasse uma montanha-russa?

Mas em especial, a simples sensação de jogar é totalmente oposta. Elden Ring, com sua alta dificuldade e recusa em ser pausado, fazia com que eu pedisse para que minha família não viesse falar comigo enquanto jogava. Ele exigia atenção total. Kirby and the Forgotten Land, ajudado pelo fato de que é fofinho ao extremo, fazia com que a minha filhinha ficasse do meu lado enquanto jogava. Ela pedia para eu contar a história, mostrar quem era amigo, torcia para o Kirby comer todo mundo. Se Elden Ring foi um jogo que me tornou mais antissocial com as pessoas que amo, Kirby and the Forgotten Land as aproximou de mim. E eu amei isso, assim como amei Kirby and the Forgotten Land. O mundo precisa de mais fofura!