Esta é nossa análise Soulstice, jogo que por muito pouco eu não peguei. O título me fazia pensar que era um soulsborne, e estou um tanto saturado do gênero, especialmente da dificuldade que sempre o acompanha. Os vídeos de gameplay pareciam legais, mas não tenho mais idade para ficar batendo cabeça contra chefes intransponíveis.

Daí resolvi pesquisar se ele tinha opções de dificuldade. E tinha. Então resolvi cobrir. Meu amigo, meu irmão camarada, ainda bem que o fiz. Apesar do nome, Soulstice não tem quase nada a ver com um soulslike. Ele copia outro clássico do hack and slash, mas um totalmente diferente.

ANÁLISE SOULSTICE – DEVIL MAY CRY LIKE

Soulstice é muito, muito parecido com Devil May Cry/Bayonetta. A atitude exagerada e cômica dos games dirigidos por Hideki Kamiya não está aqui. Mas o gameplay segue tintim por tintim estes clássicos, tão influentes, mas tão pouco copiados (pelo menos em comparação com Dark Souls).

Análise Soulstice, Soulstice, Modus Games, Delfos

O ataque principal fica no Y. Tem um monte de armas, mas elas não têm estatísticas e todas podem ser selecionadas a qualquer momento, com um ou dois toques de botão. Inimigos são fracos a armas específicas. Tem desafios secretos que envolvem coisas como matar X inimigos sem sair da área designada em Y tempo. Estes recompensam com upgrades e podem ser tentados novamente pelo menu a qualquer momento.

Soulstice é dividido em fases totalmente independentes e lineares, combinando combate, puzzles e exploração. O que o separa de games como Ultra Age, e o aproxima de suas inspirações, é a qualidade geral de tudo. O combate é delicioso e estiloso, mas o bacana é que os gráficos são dignos de um AAA, o que não é sempre que vemos fora das grandes empresas.

ANÁLISE SOULSTICE: LINDO, MAS NÃO PERFEITO

Análise Soulstice, Soulstice, Modus Games, Delfos
Lindo demais!

Os cenários de Soulstice são lindos e extremamente detalhados. Mas também não há muita variação. Você sempre está explorando construções cinzas, à noite, enquanto chove ou neva. De perto, nas cutscenes, os personagens também não são tão elaborados quanto os de um Devil May Cry 5, mas convenhamos que talvez esperar isso não seja exatamente justo.

O que mais importa é que o game é bonito, gostoso de jogar, com grande variedade de inimigos. E ainda inclui pausa e opções de dificuldade, o que a gente sabe que são duas coisas inexplicavelmente cada vez mais raras em jogos de ação hoje em dia.

ANÁLISE SOULSTICE E AS IDEIAS PRÓPRIAS

Análise Soulstice, Soulstice, Modus Games, Delfos
Soulstice é bastante cinza, mas é muito bonito.

Apesar de a inspiração em Devil May CryBayonetta ser clara como água, Soulstice traz influências de outros games também. A principal diferenciação de seu combate são os escudos coloridos. Assim como Guacamelee e tantos outros, você pode criar escudos de duas cores (azul e vermelho), e alguns inimigos só são vulneráveis quando estiverem dentro do escudo apropriado.

Não é nada que você não tenha visto antes, mas quando combinado às fraquezas de cada tipo de NPC contra certas armas, deixa o combate mais estratégico do que o de outros hack and slashes parecidos. Você pode manter os escudos ligados por um tempinho curto até que eles fiquem sobrecarregados e inativos por alguns segundos. Então deve ligar a cor apropriada apenas quando vai atacar um inimigo que necessita dela.

Análise Soulstice, Soulstice, Modus Games, Delfos
Alguns chefes só são vulneráveis dentro do escudo apropriado.

Isso também pode afetar os desafios de plataforma.

PULA-PULA EM SOULSTICE

Os escudos não são usados apenas no combate, mas também para minar XP de pedras coloridas ou mesmo para fazer plataformas voadoras aparecerem. Inclusive, há bem mais plataforma e exploração aqui do que em Devil May Cry, o que vejo com olhos positivos.

Análise Soulstice, Soulstice, Modus Games, Delfos
Algumas plataformas só ficam sólidas com o escudo ativado.

Isso também me leva a uma reclamação. Soulstice usa de checkpoints automáticos. Porém, os checkpoints estão sempre imediatamente após as batalhas. Assim, se você passou cinco minutos entre uma batalha e outra explorando, pegando upgrades e solucionando puzzles, e morrer quando aparecerem novos inimigos, toda essa exploração será perdida.

Eu gosto de checkpoints automáticos, mas eles precisam ser bem pensados para que esse tipo de coisa não aconteça. Perder tempo solucionando novamente puzzles trabalhosos que você acabou de fazer para poder tentar de novo uma luta que vem imediatamente depois não é divertido. Pelo menos todos os chefes têm um checkpoint imediatamente antes da luta, o que também anda bem raro em jogos de ação atualmente (e Mega Man já fazia isso nos anos 80, é incrível como gamedesign retrocedeu nesses 40 anos).

DEVIL TRIGGER E ESTILO

Análise Soulstice, Soulstice, Modus Games, Delfos

Assim como Devil May CryBayonetta, seu combate será julgado e levará notas. O medidor de estilo aqui é chamado de “união”. Variar os ataques e vencer vários inimigos sem tomar porrada aumenta sua união. Quando ela estiver no máximo, você terá acesso a combos poderosíssimos e à possibilidade de ativar um modo superpoderoso estilo Devil Trigger.

O lado negativo da interpretação que Soulstice faz dessas mecânicas é que é difícil conseguir união máxima (assim como o estilo SSS de Devil May Cry). E muitas vezes você nem percebe que está no jeito para usar os superpoderes. Por um lado, isso permite usar o Devil Trigger com frequência, literalmente em todos os combates. Mas para isso é necessário jogar muito bem. Na prática, eu consegui usar esses benefícios pouco mais de uma dúzia de vezes na campanha inteira. Isso me faz preferir o estilo “barra de mana”, que permite usar os poderes quando estiver cheia, ou acima de certa quantidade, e que não esvazia entre combates.

NA NATUREZA E NA ARTE, NADA SE CRIA

Análise Soulstice, Soulstice, Modus Games, Delfos

Eu sou um enorme fã de hack and slashes. Na época de ouro do gênero, os principais representantes, como God of WarDevil May CryNinja Gaiden eram todos muito diferentes. Havia cópias, sim, mas também havia jogos menores que tentavam criar algo. Hoje em dia, praticamente todo jogo de ação copia a fórmula da From Software. Até mesmo o fuckin’ God of War.

Diante deste cenário, com todo mundo copiando literalmente a mesma coisa, a forma mais fácil de se destacar é copiando OUTRA coisa. Esta é a lógica de Soulstice. E se temos dúzias de bons soulsborne para jogar, Devil May Cry-likes são bem mais raros. Bons, então, praticamente não existem. Temos apenas os próprios Devil May CryBayonetta.

É isso que destaca Soulstice. É impossível jogá-lo e não pensar nos games de Hideki Kamiya. Mas se você gosta de jogos de porrada e está cansado de tantos soulsbornes, acaba sendo uma variação deliciosa.

ANÁLISE SOULSTICE: SERIA UM GOTY?

Análise Soulstice, Soulstice, Modus Games, Delfos
Consegue olhar a tela de início de fase sem lembrar de Devil May Cry?

É até estranho dizer isso, mas fazia anos que não me divertia tanto com um jogo de ação. Soulstice não cria nada, mas copia bem, e de criadores diferentes do padrão moderno. Dessa forma, devo dizer que até me diverti mais aqui do que em Devil May Cry 5. Afinal, este jogo veio sem bagagem, sem expectativas. Mas, principalmente, não teve um monte de fases com cenário pentelho, como aconteceu no game da Capcom.

Acho que desde Ryse não ficava tão feliz com a campanha de um hack and slash, a ponto de que sinceramente achava que isso nunca mais aconteceria. Mas aconteceu. E eu só tenho a agradecer à Reply Game Studios e à Modus Games por criar esta experiência de ação como não tínhamos há anos. Seria legal que Soulstice tivesse mais personalidade e mais inovações. Mas entre um Devil May Cry-like e um Soulslike, em 2022, não tenho a menor dúvida de qual a gente precisa mais.

Análise Soulstice, Soulstice, Modus Games, Delfos
Porradinha pra encerrar a resenha!