Ultra Age é algo raríssimo. Trata-se de um hack and slash em fases lineares. E embora ele tenha influências claras de alguns jogos do passado, como Devil May Cry, traz também boas e criativas ideias que o tornam único. Será que deu bom? Você descobre isso na nossa análise Ultra Age.

ANÁLISE ULTRA AGE

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Assim que você começa Ultra Age, vai sentir que ele é um Devil May Cry de baixo orçamento. E as influências vão muito além do protagonista ser um jovem com uma espadona maior que ele. Convenhamos, as animações de corrida e pulo são tão parecidas com as do Dante que parecem ter sido simplesmente clonadas.

Felizmente, não demora para ele mostrar a que veio. Após o tutorial, a espadona de Age (o herói) é quebrada. Porém, Helvis, o robozinho que o acompanha, descobre que consegue transformar cristais em espadas. Essa é a pegada.

CRISTAIS, ESPADAS E BREATH OF THE WILD

Ao longo de toda a campanha, você encontra cristais diferentes. Cada um deles pode ser transformado em um tipo de espada. São seis espadas no total, cada uma com estatísticas, árvore de upgrades e golpes mais ou menos únicos. A questão é que elas têm durabilidade. E aí está outra coisa legal de Ultra Age. Vou até fazer um suspense popando aqui uma imagem de porrada.

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Ao contrário de Breath of the Wild, a durabilidade das armas de Ultra Age é quase um upgrade. Acontece que quando elas estão perto de quebrar, você pode apertar um botão que a destrói com um golpe invencível que faz um montão de dano. Além de ser muito legal usar este golpe, os cristais são comuns o suficiente para não ser necessário ficar “economizando armas”.

Sim, a durabilidade de espadas lembra imediatamente Breath of the Wild. Mas na prática isso funciona mais como a munição de um Gears of War. Ou seja, você precisa consumir para atacar, mas nunca está de fato em risco de ficar indefeso.

ANÁLISE ULTRA AGE E OS TIPOS DE ESPADA

São seis tipos de espada, e quando você encontra cada uma pela primeira vez, o jogo explica sua usabilidade. As mais importantes são a katana e a claymore. A primeira faz mais dano em criaturas biológicas, e a segunda em máquinas. Todos os inimigos presentes em Ultra Age se encaixam em uma dessas categorias.

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Os problemas talvez comecem aí. Todas as outras espadas, embora tenham suas vantagens, fazem muito menos dano do que se você usar a apropriada para o inimigo em pauta. Há uma, por exemplo, que atira. Mas Ultra Age é criado para combate corpo a corpo. Outra, a elétrica, é capaz de paralisar as máquinas, mas ela faz muito menos dano do que a claymore, então essa vantagem não compensa o uso. E como você sempre tem katanasclaymores suficientes, não tem muito porque usar as outras. Veja abaixo um pequeno vídeo do combate usando a claymore.

A única espada que usei mais além dessas duas foi a charged claymore. Ela é uma versão mais fraca da claymore, mas quando ataca máquinas enche uma barra. Quando está completa, é capaz de destruir paredes que são essenciais para avançar. Então essa está mais para uma chave do que para uma arma propriamente dita.

Seria legal que todas as seis espadas fossem úteis? Seria. Mas não foi isso que me desanimou. Mesmo focando minhas pancadarias nas duas principais, eu ainda me diverti muito nas primeiras fases. Os problemas reais começaram quando encontrei os…

BUNKERS? DUNGEONS? SEI LÁ COMO CHAMAR!

De tempos em tempos você entra em uma área mais fechada. Essa área, ao contrário das fases tradicionais, constrói o mapa conforme você explora. O problema é que ela envolve quadrado depois de quadrado, cada um com uma, duas ou três saídas. Tem toda a cara de ser procedural, embora não tenha conseguido confirmar isso até o fechamento dessa matéria.

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Você vai aleatoriamente seguindo um caminho até encontrar a saída.

Esse bagulho que você vê no meio da imagem acima é um teleporte. Como sempre tem um checkpoint só antes de entrar nesses dungeons, deduzi que, ao morrer lá dentro, você podia usar os teleportes como checkpoints, para continuar próximo de onde morreu. Não é o caso. Morrer apaga o mapa e desativa todos os teleportes previamente ativados. Assim, eu sinceramente não entendi para que eles existem. Fiz a campanha inteira sem usá-los nenhuma vez. E isso me leva ao problema principal.

ANÁLISE ULTRA AGE E O PROBLEMA PRINCIPAL

Ultra Age é curtinho. Eu o joguei em duas tardes. Na primeira, fiquei bem empolgado. Parei o primeiro dia quando cheguei à fase do deserto. Quando retomei o jogo, empolgado, ele ficou MUITO chato.

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Dica: quando chegar ao deserto, pare de jogar.

A fase do deserto envolve seguir caminhos longos em uma direção, vencer um chefe, voltar todo o caminho, vencer outro chefe e repetir isso algumas vezes. Inclusive, é aí que os checkpoints começam a incomodar. Muitas vezes eles ficam duas ou três cenas de luta antes dos chefes, e exigem que você repita tudo ao morrer pro boss. Não dá para passar correndo, pois nessas lutas obrigatórias, paredes de laser te prendem na área até matar todo mundo.

Um desses casos envolvia a luta com a vilã Medea. Depois de várias tentativas e muito sufoco, eu a venci, mas fiquei sem cura e quase sem vida. Não teve checkpoint depois, mas teve lutas obrigatórias. Enfraaquecido, bati as botas. Ressuscitei várias lutas ANTES da chefe. Sinceramente, se tivesse que vencê-la de novo teria parado de jogar. Felizmente, eu tive que refazer as lutas normais obrigatórias, mas a arena da chefe estava vazia e eu pude simplesmente passar andando por ela. A partir daí, eu não me diverti mais com o jogo.

EXCESSO DE CHEFES – E CHEFES REPETIDOS

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Este chefe parece legal, mas é aí que o jogo se perde totalmente.

A fase do deserto tem um chefe final enorme. Você o vence uma vez. Ele recupera a barra de vida e a luta continua. Você o vence uma segunda vez. Ele recupera a barra de vida e a luta continua. Eventualmente, você perde. Quando volta para a batalha, descobre que tem que matar as duas primeiras vidas primeiro. Sério, por que os desenvolvedores continuam fazendo esse tipo de coisa?

Ultra Age é daqueles jogos modernos que se recusam a colocar opções de dificuldade e resolvem tunar o desafio no 11. E isso enche o saco especialmente nessa reta final, quando ele perde totalmente a inspiração. Depois de vencer a cobra, a última fase envolve três daqueles bunkers que descrevi acima. Cada um deles com um chefe difícil no final. E dois desses chefes são versões turbinadas de bosses repetidos. Morrer neles volta antes do dungeon, exigindo passar por todo o caminho e fazer todas as lutas normais de novo. Ultra Age é um jogo que dura entre cinco e seis horas. E, mesmo sendo tão curto, optaram por repetir um monte de conteúdo e colocar uma fase inteira que é totalmente filler.

Se não me falha a memória, ele tem apenas quatro fases e o tutorial. Uma delas está no demo. Daí tem a segunda que é legal. A terceira é o deserto e a quarta é essa coletânea de bunkers potencialmente procedurais.

ANÁLISE ULTRA AGE E SUAS OUTRAS INFLUÊNCIAS

Só para constar, embora a inspiração principal seja Devil May CryUltra Age também traz algumas influências de Nier Automata. Em especial, há momentos em que a câmera fica fixa, mostrando a ação de cima ou em sidescroller. Isso é normalmente usado na exploração e só em momentos muito pontuais em combate, mas é um charminho que me agrada bastante.

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A ação em sidescroller.

Visualmente, Ultra Age é bem AA. Ou seja, apesar de ser em 3D, e funcionar direitinho, ele não tem cara de superprodução. Os gráficos lembram bastante o primeiro Ninja Gaiden em alta resolução, mais ou menos como na Ninja Gaiden Master Collection.

DE BOAS INTENÇÕES

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Ultra Age é um jogo com um combate excelente e com uma ótima ideia em usar suas espadas como consumíveis e com utilidades contextuais. Isso tudo funciona muito bem e deixa o jogo único e divertido. Porém, as mecânicas precisam ser combinadas a um level design bacana. E aí que o jogo peca, com suas fases repetitivas e chefes em excesso e repetidos.

As duas primeiras fases mostram bem quão legal Ultra Age poderia ser se tivesse sido feito inteiro com mais capricho. Considerando que você pode jogar a primeira fase de graça, no demo, fica difícil recomendar a compra se o único conteúdo extra que vale a pena no jogo completo é a fase seguinte. E isso é uma pena, pois Ultra Age é um hack and slash com muito potencial. Eu certamente teria interesse em jogar uma continuação, na expectativa de que eles melhorassem os problemas deste e potencializassem o que ele já tem de bom.