Devil May Cry 5 saiu do forno há alguns dias e já fez um barulho inacreditável. O jogo é a continuação da série original, que parou em Devil May Cry 4, lançado em 2008. Desde então, os fãs do Dante ficaram meio órfãos. Digo “meio” porque a Capcom renovou a série com o reboot DMC: Devil May Cry de 2013, desenvolvido pela Ninja Theory.

Não me entenda mal. DMC é um jogaço, mas tem um Dante de cabelo curto e moderninho, além de ter dado o indesejado Ctrl + Z na franquia. Devil May Cry 5 volta com o Dante verdadeiro, Nero e tudo que conhecemos. E, olha, vou te dizer: não tinha ideia do quanto eles faziam falta.

Devil May Cry 5: saboroso com pouca gordura

Devil May Cry 5 começa com o manjado evento apocalíptico tão comum na série e em jogos de hack and slash. Mais uma vez, um demônio barra-pesada invade o plano terrestre. Nero, Dante e o novo personagem “V” (aliás, o “misterioso V”) terão de se unir para vencê-lo.

No começo, Devil May Cry 5 parece familiar… até demais. Você começa a jogar com o Nero, o pulo, os golpes e os combos são iguais aos de Devil May Cry 4. O som de “bipe” dos menus é do primeiro jogo. Aqui e ali, você encontra as esperadas pitadas de nostalgia.

Continue a jogar e você perceberá, em pouco tempo, um gosto diferente. Você espera por um sabor, mas ele não está ali. A Capcom entendeu o que faz um Devil May Cry ser um Devil May Cry. Já falei isso uma vez, mas os primeiros jogos tinham umas coisas nada a ver. Felizmente, nada das distrações pentelhas deles estão aqui.

Nero corta um demônio no meio
Sem o braço, Nero pode usar os Devil breakers. Sim, este é um Mega Buster do Mega Man, um bônus da versão deluxe!

Devil May Cry 5 sabe que o melhor da série é o combate. Há exploração, com cenários muito bem pensados, por sinal. Mas quase nunca você precisa de alguma coisa além da sua espada para seguir em frente. O Dante até diz, quando consegue abrir uma passagem depois de um obstáculo menos claro: “isso foi o máximo que pensei em um bom tempo!”

No geral, as boas características dos outros Devil May Cry (inclusive do DMC) permaneceram. As que não eram boas, caíram fora. É com muito prazer que confirmo: não há puzzles no jogo inteiro. E, além disso, a câmera fixa está finalmente extinta na série canônica.

Nero observa a árvore do submundo em Devil May Cry 5
Se a imagem não é suficiente, reforço: este jogo é bonito demais.

Este jogo poderia ser “mais um Devil May Cry”, com gráficos de última geração, e provavelmente a maioria das pessoas ficaria satisfeita. Porém, Devil May Cry 5 traz algumas coisas realmente novas e inesperadas para a série.

Devil May Cry 5 não é apenas um best of Dante

Vamos lá. São três os protagonistas com quem você joga. Obviamente, há incontáveis combos e habilidades para adquirir com cada um deles.

Nero perdeu o braço demoníaco de DMC 4. No lugar, ele utiliza braços mecânicos, chamados de “devil breakers”. Existem diversos tipos no jogo, cada um com um efeito, que varia de eletrocutar, perfurar e até parar o tempo. Eles podem quebrar e, por decisão do jogador, explodir nos inimigos.

Esta habilidade muda muita coisa, uma vez que você só escapa de algumas situações com ela. Fora isso, ela causa dano alto e aumenta as chances de você conseguir ranks S.

Dante e o outro personagem que você controla são totalmente diferentes. O “misterioso V” é uma ruptura do que você espera do gameplay de Devil May Cry, uma vez que ele usa demônios para atacar os inimigos.

O misterioso V em um local misterioso
Quase qualquer captura do misterioso V é misteriosa. Mas sério, que personagem legal. É um cara tatuado que usa uma bengala e invoca demônios!

É isso mesmo: você joga como um summoner aqui. Além de V, você controla à distância dois demônios: um pássaro e uma pantera negra. Há ainda um terceiro demônio overpowered, que é invocado com o devil trigger. Este age por conta própria.

A grande sacada é que os monstros podem ficar inertes. Eles regeneram de vida rapidamente apenas quando V está próximo. Mais: eles não podem finalizar os inimigos. Cabe a você dar o golpe de misericórdia. Assim, a graça de jogar com V envolve escolher entre ficar próximo da ação e ser eficiente no ataque, ou ficar à distância e seguro enquanto seus bichos fazem o trabalho por você.

Calma, eu não me esqueci do Dante. Ele sabe deixar espaço para os novatos terem destaque suficiente durante a história. Quando ele se torna jogável, é aquela apelação de sempre, com os estilos clássicos de Devil May Cry 3 e outras novidades. Sem spoilers, basta dizer que ele está mais badass do que nunca.

Dante estica os braços e demonstra por que é um fanfarrão
Quando Dante chega, ele tem tantos poderes e habilidades que dá até medo de jogar com ele. Agora, imagina o medo dos demônios…

Devil May Cry 5 é sobre risco-recompensa

Como disse, Nero, o “misterioso V” e Dante são muito diferentes. Em comum, eles têm de se arriscar para conseguir o querem. Este parece ser um dos principais temas de Devil May Cry 5, o de risco-recompensa. As implicações disso estão tanto no gameplay quanto na história.

Esta ideia funciona tão bem porque o jogo não é punitivo. Esta é outra característica ruim dos originais que felizmente foi deixada de lado. Aqui, tentar mais uma vez, caso você falhe, é sempre encorajado.

Em especial, o design e as animações dos inimigos, além da forma como eles são introduzidos, ajudam o jogador a saber como atacar. Todas as armas funcionam com todos os inimigos, mas algumas delas são mais efetivas contra alguns deles.

Neste quesito, os chefes são um espetáculo à parte. Com barras de vida extensas, eles convidam o jogador a usar tudo o que sabe para vencê-los. Nunca têm modos invencíveis, ou precisam de algo específico para ficarem vulneráveis.

O misterioso V finaliza um inimigo poderoso
V executa os inimigos depois que seus bichos fazem o trabalho sujo, mas pelo menos ele faz isso com muito estilo!

A propósito, eu imagino que a história não seja o seu principal motivo para querer jogar Devil May Cry 5. De qualquer forma, este quinto jogo sabe contar uma delas muito bem.

Não é só a história, na verdade. Tudo parece bem amarrado: a história, a jogabilidade e a expectativa do jogador sobre essas coisas. Os desenvolvedores tiveram um zelo enorme por detalhes, e tudo com muito humor. É só ver o que acontece quando você interage com uma cabine telefônica, por exemplo!

Devil May Cry 5, então, é raiz sem ser burro

Vale dizer: Devil May Cry 5 é o mais acessível da série, mas isso não significa que ele seja fácil. O que podia ser simplificado, foi. Os tutoriais são simples, mas os comandos para executar os golpes, não.

O que achei muito legal é que, apesar de este jogo ser voltado para fãs da série, ele dá espaço para quem quer ter a experiência com a história, ou com a diversão dos combos. Como sempre, existe uma opção de combos automáticos, por exemplo, mas mais do que isso, o jogo é descomplicado e fácil de acompanhar.

Dante fica preso em Devil May Cry 5
Mas é claro que o Dante não está preso de verdade aqui. Ele está pensando apenas no próximo “chupim filho da mãe” que ele vai matar!

É possível terminar o jogo tranquilamente entre 12 e 15 horas (no meu caso, foram 13) e experimentar um pouco de tudo que o jogo proporciona. Esta é uma tremenda demonstração de respeito ao tempo do jogador, infelizmente tão incomum hoje em dia.

Quem é fã hardcore, com toda certeza irá voltar. Além de ter a chance de voltar às missões para coletar os itens que faltaram, dá para refazer algumas com outro personagem. Há também novas habilidades, modo de dificuldade e outras customizações para testar (na versão deluxe, tem cenas em live-action e você pode trocar músicas que tocam nas batalhas por temas dos jogos clássicos).

De novo, isso não quer dizer que a série perdeu o rumo.  A curva de aprendizagem de Dante é hilária, ao ponto de quase não ser exagero afirmar que os combos dele são infinitos. Isso vale para qualquer novato, amador e talvez até para os mais obcecados pela série.

Não tem jeito: há coisas que não mudam

É impossível negar por essa análise que eu adorei Devil May Cry 5. Agora vem cá. O jogo tem alguns defeitos.

Algumas tradições do gameplay não mudaram. A que mais incomoda e afeta a experiência é o comado para evadir de ataques. Não consigo entender porque ainda é necessário travar a mira no inimigo, usar o direcional + o botão de pulo. Isso fazia pouco sentido com as câmeras fixas. Aqui, não faz nenhum. É um retrocesso que o próprio DMC havia resolvido.

O misterioso V: os demônios dele fazem o trabalho sujo
Estas são as duas principais invocações do misterioso V. Ao fundo, várias gororobas vermelhas para coletar. Yeah!

Seria muito legal também se a série fosse ambientada em lugares diferentes. Cidades em ruína e o submundo nós já vimos bastante. Os cenários das missões variam, mas nada que você não tenha visto antes em outros jogos da série.

Para progredir no jogo, é preciso coletar os orbs vermelhos e gastá-los em habilidades. No meu caso, e para quem comprou em pré-venda, o jogo já começa com vários deles. Isso de fato tornou o jogo mais divertido desde o começo.

O que me leva a outra coisa: a versão deluxe é a versão para escolher do jogo. Os bônus, como as cenas dos atores em live-action que comentei, além das armas diferentes, aumentam a diversão. Porém, é difícil aceitar pagar R$ 40,00 a mais por esses itens. Estes conteúdos deveriam estar na versão básica.

A estátua de Sparda em Devil May Cry 5 continua icônica
Não tem jeito: Sparda é icônico.

No fim, apesar das profundas melhorias e mudanças na série, uma premissa se mantém. O que se leva tantos anos para construir não é de se jogar fora, mesmo após 11 anos. E isso deixa as coisas um pouco mais previsíveis. A origem do Dante, a história dele e Vergil, a lenda do cavaleiro negro Sparda. Tudo isso você já viu tantas vezes, mas parece que estes elementos ainda são obrigatórios para Devil May Cry.

Um pouco de familiaridade não é ruim, mas a série vai precisar criar algo novo na próxima interação para continuar interessante.

Devil May Cry 5 vale a pena?

Apesar dessas pequenas ressalvas, Devil May Cry 5 é excelente. Não é um jogo preguiçoso, tampouco é um daqueles casos de jogos que perdem ritmo no final porque o orçamento acabou, ou porque as ideias se esgotaram. Sério, tem muita coisa absurda, jogabilidade nova e diversas surpresas até o jogo acabar.

Isso aí, meu amigo delfonauta, é visão. É conseguir enxergar aonde e como você quer chegar, depois, fazer exatamente o que você precisa para isso. A melhor forma de descrever Devil May Cry 5 é dizer que ele é a execução perfeita para uma reimaginação da série em 2019. Acredito que ele irá envelhecer melhor ainda, mas por ora, é um dos candidatos a melhor jogo do ano.

Leia mais:

 Aqui no Delfos, a gente gosta muito de Devil May Cry. Leia mais sobre a série nas análises e matérias abaixo.

Devil May Cry HD Collection: Dante é clássico mesmo –A nossa análise da coletânea com os três primeiros jogos. É basicamente o que penso sobre a série toda, com exceção do 4.

Devil May Cry de cabeça fria – Nessa coluna, o Corrales faz uma análise bem aprofundada sobre a série – temas, gameplay, origens. Imperdível para fãs!

DMC: Devil May Cry – O reboot de 2013. Basicamente, o Nero é o protagonista, só que ele é o Dante. Vai por mim, faz sentido.

Devil May Cry 4 – A opinião do Corrales sobre o quarto jogo na época do lançamento. Puxa, faz tempo!

Dante – o demônio fanfarrão – Se você não conhece o Dante, entenda por que ele é tão badass e por que a gente adora ele.