Demon’s Souls, de 2009, é um jogo extremamente importante. Apesar de o grosso da influência ter vindo de Dark Souls, sua continuação espiritual, foi com Demon’s Souls que surgiu um novo gênero de videogames. Gênero este que, você sabe, representa exatos 84,37% de absolutamente TUDO lançado na geração Xbox One/PS4 e que não mostra sinal de parar, apesar de claros sinais de cansaço. Providencialmente, o único jogo exclusivo do lançamento de PS5 não é um jogo novo, mas um remake. E essa é nossa análise Demon’s Souls Remake.

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ANÁLISE DEMON’S SOULS REMAKE

É curioso como um jogo que tenha dado origem a uma enorme tendência cultural nunca tenha atingido o nível de popularidade de sua mais bem sucedida e famosa continuação. Demon’s Souls, originalmente exclusivo de PS3, sempre foi mais cult do que popular. Eu o resgatei como um jogo da PS Plus anos atrás, e cheguei a tentar jogá-lo. Matei o primeiro chefe, o Phalanx Demon, e deixei de lado. A vontade de jogar continuou, mas a falta de retrocompatibilidade no PS4 me desanimava a continuar no PS3.

Assim como eu, muita gente não teve oportunidade ou vontade de jogar o original. Assim, era um jogo perfeito para um relançamento. A Sony e a Bluepoint foram ainda mais longe, e fizeram um remake.

Absurdamente fiel ao original, Demon’s Souls Remake não melhora a qualidade de vida com mais checkpoints (caminho que até a From Software seguiu em seus jogos posteriores) ou a sempre polêmica (sabe-se lá por quê) seleção de dificuldade.

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Ele tem coragem apenas de mexer em coisas MUITO pequenas e presentes nos jogos posteriores, como a possibilidade de usar mais de um item do mesmo tipo de uma vez. Tirando isso, é o jogo como era no PS3, mas com um visual absolutamente sensacional e telas de loading muito curtas, quase inexistentes.

TALENTO E EXECUÇÃO

Olha só isso!

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Admito, eu não tive coragem de explorar esse caminho.

From Software, criadora do jogo original, tem um talento absurdo. Apesar de eu ter diferenças ideológicas muito fortes em relação ao que games são e deveriam ser, sempre deixei isso claro aqui. Não só os conceitos de gameplay dos Soulsborne são muito fortes (combate, exploração, level design, etc), mas o que deixa tudo isso azeitado e excelente é o absurdo talento dos artistas. O design de mundo, de criaturas, as animações. É tudo muito forte, com um senso de presença e de atmosfera que pouquíssimos outros jogos conseguem criar.

O GRANDE PORÉM

Porém, e esse é um grande porém – e que curiosamente incomoda mais outras pessoas do que a mim (ao contrário das diferenças ideológicas que eles e eu temos) – eles não são uma empresa altamente técnica. Todos os souls têm problemas de performance e mecânicas que não funcionam como foram planejadas para funcionar. Na gringa, existe até a opção “From Software jank” para se referir a esses problemas técnicos.

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Fala sério! Olha esse cenário!

Assim como Stan Lee, a From é uma excelente criadora de conceitos, mas não necessariamente consegue realizá-los completamente. Outra analogia que podemos fazer é com a música: um sujeito pode ser um excelente compositor, mas na hora de gravar as músicas, precisar de instrumentistas mais capazes para fazer suas canções alçarem voos mais altos. Ou como um arquiteto que faz um belo projeto, mas precisa de pedreiros, empreiteiros, pintores e afins para tornar realidade. A From é uma excelente criadora, mas uma construtora mediana.

A farsa de Stan Lee

Pois é exatamente isso que os jogadores receberam em Demon’s Souls Remake. A Bluepoint pegou a mesma planta que a From desenvolveu em 2009 e “regravou”. Basicamente, recriou a mesma coisa, porém sem limitações técnicas, ou pelo menos não tantas.

Um exemplo, você pode escolher jogar a 1440p/60fps ou 4K/30fps. É uma limitação, mas seja qual for sua escolha, é exatamente isso que você vai receber, sem as flutuações de framerate tão comuns nas criações da From.

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Quem é o próximo?

Os mesmos atores também voltaram para regravar e reproduzir suas mesmas linhas, da forma mais semelhante possível. A trilha sonora também traz as mesmas músicas, regravadas, mas praticamente iguais. O grosso das mudanças é mesmo no aspecto visual e técnico.

JOGANDO DEMON’S SOULS REMAKE

Mas e se você nunca jogou Demon’s Souls e não se interessa por toda essa história de bastidores? E se você quer apenas saber se é uma boa compra para botar seu novo e brilhante PS5 para funcionar? Pois a notícia é boa. Apesar de soulsbornes serem o gênero mais comum dos games hoje em dia, é bem raro algum dos covers chegar perto da qualidade dos originais (Nioh é uma ótima exceção).

Em Demon’s Souls, você vê muito do que viria pela frente na série. Mas vê também muitas coisas que seriam melhoradas. Um desses casos – e o que mais me afetou – é a carência de checkpoints e atalhos. Cada fase de Demon’s Souls tem um checkpoint no início dela. Você precisa atravessá-la por completo e matar o chefe sem morrer para avançar.

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Às vezes popa um chefe no meio do caminho, mas se você vencê-lo, ele não volta mais.

Algumas poucas fases têm atalhos entre pontos avançados e o início, o que é uma mão na roda, mas não um benefício consistente. Nas primeiras fases, isso é relativamente comum, mas depois se torna tão raro que, quando você encontra um, até se surpreende. Isso é uma questão para mim.

Demon’s Souls Remake nem é tão difícil quanto os outros jogos da série. Porém, morrer causa uma perda de progresso considerável. E é um saco ter que jogar uma fase inteira de novo só para tentar uma revanche contra um chefe. Digo mais, não fosse por isso, se a Bluepoint tivesse simplesmente trocado os checkpoints da sala do chefe (eles aparecem quando você vence um grande demônio) para a sala anterior, o jogo ficaria imediatamente muito, MUITO – e, sem exagero, MUITO MESMO – superior. A ponto de que talvez se tornasse meu soulsborne preferido.

ACIMA DE DARK SOULS

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Isso porque ele tem muitas características que o colocam, para mim, acima de Dark Souls. Eu já falei por aqui antes que meu jogo preferido da From é Bloodborne. Pois eu vejo agora que, em muitos aspectos, Bloodborne foi um retorno às origens. Por exemplo, o lado RPG é simplificado tanto em Bloodborne quanto em Demon’s Souls. Nesses jogos, é totalmente viável jogar com a mesma arma e a mesma roupa durante toda a aventura.

E, de fato, eu usei 75% da roupa inicial da minha classe até o final do jogo. Isso porque eu era um personagem focado em mágica, então não tinha endurance para armaduras parrudas. As melhores que eu encontrava eram mais pesadas, e portanto diminuiriam minha mobilidade. Eu literalmente só troquei a parte do peito por uma armadura mais pesada, mas que ainda mantinha minha mobilidade. Tivesse trocado luvas ou botas, teria passado dos 50% do peso e ficaria mais vulnerável.

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A mesma coisa sobre a arma. Eu li que a melhor arma para um mago era a Crescent Falchion +1 e, uma vez que a encontrei, a usei até o fim, fazendo upgrades nela de acordo. E, dessa forma, eu nunca me senti underleveled, algo que aconteceu com maior ou menor frequência nos três Dark Souls. Nesses jogos, sempre acontecia da minha arma deixar de ficar eficiente e eu ter muita dificuldade de achar uma nova que minhas estatísticas me permitissem usar.

OVERLEVELED

Se tanto, em Demon’s Souls Remake, eu fiquei overleveled. Quer dizer, olha os vídeos abaixo, que mostram minha batalha completa contra dois dos chefes mais avançados do jogo. O Penetrator, em especial (que parece nome de música do Massacration) tem fama de ser um dos mais desafiadores do jogo, e eu o venci na primeira tentativa em segundos.

Como comparação, veja este vídeo contra a Armor Spider, uma das primeiras chefes do jogo. Eu precisei chamar um coleguinha para me ajudar, e olha a diferença de dano dos meus ataques em relação aos dele.

E se quiser rir da minha cara, aí embaixo tem um vídeo em que eu matei o chefe e morri ao mesmo tempo. #FML

VIVA A LINEARIDADE

As pessoas costumam realçar como o level design de Dark Souls é excelente, e é verdade. Elogiam como é tudo conectado, e isso é simplesmente lindo. Demon’s Souls é um tanto mais simples. Ele tem cinco mundos, quatro deles divididos em duas fases e um chefão pintudo, e um deles, o primeiro, com quatro fases. As fases dentro do mesmo mundo são contínuas. Você atravessa a sala do chefe e continua explorando. Porém, cada mundo é totalmente independente.

Nioh também é assim, e eu até acho legal, se não necessariamente melhor ou pior do que um grande mundo todo conectado (o que sem dúvida é bem mais trabalhoso). O que eu acho realmente legal aqui é que o level design se destaca em um aspecto totalmente diferente de Dark Souls.

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Pausa para fazer suspense.

Dark Souls é aberto, com um milhão de caminhos para seguir a todo momento. É comum que vários deles se encontrem antes do chefe, mas isso dá uma sensação frequente de perdido. Demon’s Souls, por outro lado, é bem mais linear. O level design ainda é excelente, com segredos e um tremendo apelo visual, mas em geral você sabe para onde ir para prosseguir. Assim, ele é um jogo focado na ação, com o combate de um soulsborne, que é justamente algo que eu sugeri como um caminho viável nesse texto.

MAIS RÁPIDO E DIVERTIDO

Isso, a meu ver, deixou a ação melhor, o jogo mais divertido, e diminuiu a frustração. Afinal, quando o caminho é claro e não há necessidade de decorar o que você fez para avançar, repeti-lo se torna menos exaustivo, e você pode simplesmente saborear a jornada e o combate (que, você sabe, eu sempre achei excelente).

Talvez o principal ponto contra ele, na verdade, seja quão familiar ele é. Como o mundo dos games hoje é feito basicamente de covers de Dark Souls, jogar em 2020 o que deu início a tudo é como ouvir o Eddie Van Halen tocando Eruption depois de ter ouvido centenas de versões de outros guitarristas. É interessante? É, mas é algo que você já conhece e que já viu feito antes muitas outras vezes.

UM JOGAÇO FRUSTRANTE

Ainda assim, o jogo é frustrante. Explorar a fase pela primeira vez é muito mais legal do que quando você só quer vencer o chefe para progredir, e tem que fazer o caminho todo de novo. Assim, eu usava sem dó as ferramentas que o próprio jogo me dava para progredir. Coisas como subir o save para a nuvem e resgatar ao morrer para impedir ter que fazer a fase toda pela vigésima sétima vez.

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É trapaça? É, mas convenhamos que não deveria ser necessário. Como sempre digo aqui, meu tempo é valioso – e acredito que o seu também é. Assim, tudo que podemos fazer para tornar nosso gametime mais divertido é válido. E só assim, com esse tipo de trapaça, eu me sinto confortável para recomendar Demon’s Souls Remake para qualquer pessoa.

Abra mão de uma vaga ideia de moralidade e trueza e jogue Demon’s Souls Remake com ou sem trapaças, como ele te divertir mais. Daí sim é um excelente jogo, com qualidades absurdas, um combate excelente e uma atmosfera envolvente.

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