Análise Crackdown 3: Quack, quack, motherducker!

Às vezes a gente só quer explodir umas coisas.

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Crackdown 3 é um jogo fascinante. Anunciado lá em 2014, o que foi lançado agora em fevereiro de 2019 traz muitos comprometimentos. De um AAA system seller, ele agora tem a escala de um jogo de médio orçamento. Criativamente, eu diria que ele deve ser uma grande decepção para o pessoal da Sumo Digital, que aparentemente o planejou com altas ambições apenas para serem puxados de volta ao chão pelo cruel peso da realidade.

Porém, o mercado mudou desde o seu anúncio. Hoje, quase todo AAA é um RPG de mundo aberto. Crackdown 3, por outro lado, traz um mundo aberto, mas é bem simples. Ele é bem focado no lado lúdico da coisa. De sair por aí causando explosões, em uma power fantasy que era comum no fim dos anos 2000, mas que é bastante rara hoje, quando todo mundo quer ser difícil como Dark Souls.

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Por fim, temos a própria estratégia da Microsoft. Crackdown chega após uma longa escassez de jogos first-party, que parecia ser quebrada apenas pelos Forza anuais. Agora a Pequenomole parece mesmo focada em vender seu serviço Xbox Game Pass, espécie de Netflix para games, onde Crackdown 3 está disponível para assinantes desde o primeiro dia.

Talvez, como um jogo vendido a preço cheio, Crackdown 3 pene para alcançar seu lugar ao sol. Mas ele parece estar sendo bastante apreciado pelos assinantes da Xbox Game Pass. Será que este serviço no futuro vai focar em apresentar jogos com campanhas menores, mais preocupados em uma diversão rápida, do que em obrigar os jogadores a investirem centenas e centenas de horas? O tempo dirá.

MAS ISSO É O QUE EU TENHO A DIZER

Particularmente, eu sinto bastante falta de jogos mais curtos, com campanhas autocontidas. Eu gosto de pegar um jogo, jogá-lo até o fim, e ir para o próximo. Não tenho nenhum interesse em ficar voltando para um jogo que já terminei semanas e meses depois para encontrar novos conteúdos pingados.

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Sim, eu sei que temos um monte de indies pixelados em 2D que têm estas características, mas eu gosto também de superproduções. Jogos com visual impressionante, atores, músicas orquestradas. E esta descrição hoje em dia serve basicamente para longos RPGs de mundo aberto ou jogos como serviço, estilo Destiny / Division / Anthem.

Crackdown 3 está longe de ser o que de melhor a geração atual pode produzir, em termos técnicos. Mas não há dúvidas de que ele é um jogo de Xbox One, e não de algum console 8-bit. E isso, para mim, o torna especial.

ANÁLISE CRACKDOWN 3

Eu nunca joguei os primeiros Crackdown e sempre tive a sensação de que eram jogos de mundo aberto altamente genéricos. Digo mais, eu provavelmente não teria curtido se tivesse jogado quando de seus lançamentos originais. Mas a diversão descompromissada é algo que está em extinção nos games atuais.

Crackdown 3 é a definição de um jogo testosterona total. Sua história é o básico do básico e quase não aparece. Existe uma organização malvada. Você é da organização do bem. Destrua a malvada. Pronto.

Para isso, você pode escolher uma jogar com uma grande quantidade de damas e cavalheiros badass que vão sair pelo mundo explodindo tudo. Assim, se você não gosta de explosões, este jogo não é para você. Mas digo mais, se você não gosta de explosões, este site não é para você. Aqui nós apreciamos coisas que fazem bum!

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Aqui nós apreciamos coisas que fazem bum!

E fazer bum é tudo que você faz em Crackdown 3. Praticamente não existem missões de história propriamente ditas. O que há são atividades de mundo aberto. Você pode precisar entrar numa base inimiga e destruir veículos. Ou destruir máquinas. Ou simplesmente matar inimigos. De qualquer forma, coisas vão explodir.

O visual de Crackdown 3 não é especialmente impressionante. Ele com certeza não tem cara de um AAA de 2019. Isso não quer dizer que ele é feio. Trata-se de um jogo bastante colorido e cheio de cores vivas e isso muito me agrada. As explosões, em especial, vêm em todas as cores e tamanhos, e há tantas delas o tempo todo que, se você jogar no escuro, as paredes da sua casa vão parecer uma danceteria.

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Crackdown 3 é bem colorido.

O mapa é um círculo relativamente pequeno.

Então eu simplesmente fui fazendo a volta no sentido horário, cumprindo estes objetivos. Ao longo do caminho, foram aparecendo umas carinhas no mapa. Cada carinha representa um dos chefes da organização malvada. Você pode ir direto atacar a malvadona-mor, mas é claro que seu trabalho será mais fácil e agradável se primeiro você destruir os minions.

Estas missões são o mais próximo de um modo história que Crackdown 3 tem. Normalmente elas envolvem escalar um prédio altíssimo e, no topo, lutar contra um chefe.

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Um dos chefes é um emoji. Crackdown 3 não se leva a sério.

São apenas oito dessas missões de história. O resto é apenas um parque de diversões para quem gosta de explodir coisas. E sabe o que mais? Eu gosto!

O fato de a história ser bem pouco criativa não significa que o roteiro é mal escrito. Aliás, tem uma quantidade absurda de falas gravadas por aqui. Tem um cara e uma mina que estão sempre falando com você, embora nem sempre você consiga ouvi-los com o barulho de tudo explodindo.

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O cara, chamado Goodwin, parece ser uma máquina de one-liners. Sabe aqueles momentos dos filmes do Schwarzenegger em que o Arnoldão solta um “Hasta la vista, baby“? Pois Goodwin vive soltando coisas nessa linha, específicas ao que você está fazendo naquele momento. Admito que mais de uma vez ele me fez sorrir em meio ao caos das explosões.

E TEM O TERRY CREWS!

E aqui começam as decepções. A começar pelo fato de Crackdown 3 ser “estrelado” pelo Terry Crews. Por que as aspas, você pergunta? Lembra que eu falei que quase não há história? Falo isso literalmente: há apenas duas cutscenes animadas em Crackdown 3. E Crews dá as caras apenas na primeira. Todo o resto da história é contado via desenhos estáticos, como um jogo de baixo orçamento.

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Terry Crews aparece em uma das duas cutscenes.

Estas duas cutscenes são excelentes, e o ator de Todo Mundo Odeia o Chris rouba a cena na que ele estrela, com uma performance divertidíssima. Depois disso, ele some. Quer dizer, você até pode jogar com ele, mas o jogador não é um personagem desenvolvido. É apenas uma skin, que não fala quase nada além de uns gemidos e não tem personalidade.

E vou dizer, jogar com Terry Crews não é lá muito marcante. Vamos descrevê-lo. Ele é um sujeito grandão, bombado, careca e de cavanhaque. Ora, quase todo personagem de videogame das últimas décadas tem estas mesmas características.

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Este na parede não é o Terry Crews, mas se encaixa perfeitamente na descrição também.

Assim, não espere o uso do carisma do ator como, por exemplo, Quantum Break usou seu elenco estrelado.

EXPLODINDO CHEFES

Quando você não está explodindo bases inimigas como o herói de ação bunda ruim que é, está tentando explodir chefes tão bunda ruins quanto você. Embora eu tenha gostado das fases em si, que colocam o jogador para escalar prédios com um gameplay semelhante ao de jogos clássicos de plataforma, os chefes não são tão legais.

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Prepare-se para muitas batalhas contra mechs.

A jogabilidade de Crackdown 3 é criada para que você esteja sempre explodindo coisas. Matar inimigos renova sua vida, e você está sempre tomando dano, então isso é essencial para se manter vivo.

Desta forma, você nunca sai no mano a mano com um chefe. Sempre há dezenas de minions te atacando ao mesmo tempo. Eles estão lá mais para possibilitar que você recupere sua vida do que para te matar. Porém, o caos das explosões por todos os lados, que é justamente o que torna o resto da campanha tão divertida, atrapalha bastante quando você tem que mirar seus ataques em um inimigo específico.

BALLS TO THE WALL

Uma peculiaridade de Crackdown 3 é que ele na verdade consiste em dois apps, desenvolvidos por duas empresas diferentes. O primeiro, da Sumo Digital, é a campanha, da qual falei até agora. O segundo, chamado Wrecking Zone, é da Elbow Rocket e consiste no multiplayer competitivo.

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Junte-se à Caboom, a sociedade para cavalheiros que apreciam explosões.

Até onde sei, os apps são vendidos apenas em conjunto, mas são programas independentes no seu Xbox One. O mais estranho é quão pelado é o multiplayer. São apenas dois modos de jogo, e não há nenhum sistema de progressão. Ao fim da partida, você volta para a tela título, sem poder sequer jogar novamente com as mesmas pessoas.

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O visual é bem mais simples no multiplayer.

multiplayer é onde Crackdown 3 traz seus tão hypados ambientes totalmente destrutíveis. Porém, para que isso seja possível, os gráficos, que já não são impressionantes no jogo principal, se tornam bem mais simples, beirando o low-poly.

No Wrecking Zone, você sempre consegue ver onde estão seus amigos e inimigos, mesmo através de paredes, e daí entra a destruição, pois se seu desafeto está se escondendo do outro lado de um prédio, basta derrubar o prédio.

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Este é o efeito de um prédio sendo destruído: low poly total.

Eu já não sou um grande admirador de multiplayer competitivo, mas a falta de uma progressão elimina totalmente o que torna jogos como Call of Duty tão viciantes para quem os curte.

O MUNDO CONTRA O DELFOS

Eu sei que a mídia em geral não curtiu Crackdown 3, mas este é mais um caso em que a gente vem com uma opinião diferente. O jogo está sendo muito criticado por ter gameplay de um jogo de dez anos atrás. Ora, talvez seja justamente por causa disso que eu me diverti tanto com ele.

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Às vezes a gente até pode querer ver estatísticas de equipamentos e várias opções em diálogos com NPCs, mas às vezes a gente pode só querer explodir coisas. Vida longa às explosões em videogames!