De todos os filmes com os quais a Marvel já nos presenteou nesses nove anos de UCM, os do Thor certamente são os piores (embora O Incrível Hulk também seja um forte competidor). Eu até simpatizo com o primeiro Thor, mais pela inesperada fanfarronice do que pelo filme em si, que é apenas ok. Já O Mundo Sombrio foi difícil de assistir. Se não fosse pela participação do Loki, que melhora as coisas no terceiro ato, teria sido uma desgraça completa.

Faltava uma redenção para o deus do trovão. E ela chegou. Thor: Ragnarok é disparado seu melhor filme solo, como também resulta num dos mais divertidos e descompromissados de todo o MCU.

O novo diretor, Taika Waititi, oriundo da comédia, a abraça de vez, entregando uma aventura simples, divertidíssima, visualmente caprichada e que me lembrou bastante os quadrinhos da década de 1960, em mais de um aspecto. Vou chegar neles, mas antes a sinopse.

WE COME FROM THE LAND OF THE ICE AND SNOW

Delfos, Thor: Ragnarok

Todo mundo já sabe que a ameaça do novo longa é Hela (Cate Blanchett), a deusa da morte, que decide clamar Asgard para si, destruindo quem se oponha a ela. Após um primeiro confronto com a vilã, Thor vai parar no planeta Sakaar, onde é escravizado pelo Grão-Mestre (Jeff Goldblum, hilariamente afetado) e posto para lutar em sua arena de gladiadores.

Lá, você também já sabe, ele vai reencontrar um velho colega de trabalho. E terá de fazer algumas alianças para conseguir escapar do lugar e dar um jeito de voltar para casa a tempo de impedir Hela de acabar com tudo. De maneira bem resumida, esta é a premissa básica, mas tem muito mais na história que não convém contar.

Desde a cena de abertura, o longa já se propõe ser muito mais uma comédia do que um filme de ação puramente dito. Sabe como em alguns filmes da Marvel parece que eles param as cenas de ação para enfiar alguma piadinha? Esse aqui é ao contrário. De vez em quando ele para a comédia para colocar alguma cena de ação. E isso é bom.

Delfos, Thor: Ragnarok, CartazTaika Waititi (é bem legal escrever esse nome, e melhor ainda falá-lo. Experimente) escancara o lado fanfarrão do personagem, algo usado mais como um bônus em seus outros filmes e aqui o coloca de vez no centro da ribalta. O Thor é tão piadista e trapalhão que não faria feio em meio a um outro supergrupo, este formado por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.

Chris Hemsworth abraça de vez sua excelente verve cômica e interpreta o personagem quase como se estivesse fazendo aquele seu secretário lesadão de Caça-Fantasmas. Prepare-se para rir. E muito.

E como resultado, essa é a primeira vez onde o Loki não rouba a cena. Sim, ele está presente, tem um bom tempo de tela e é legal como sempre. Mas dessa vez o Thor é simplesmente muito mais maneiro do que ele. Seja fazendo suas trapalhadas, seja partindo para a porrada.

FROM THE MIDNIGHT SUN, WHERE THE HOT SPRINGS FLOW

Não se preocupe, você que quer saber sobre a ação. O longa também está muito bem servido dela, tem alguns momentos bem estilosos de pancadaria e as tretas são bem variadas. Cate Blanchett manda muito bem como Hela, ainda que às vezes as partes onde ela entra na porradaria sejam as mais exageradas em termos de CGI.

Todos os personagens novos, tipo a Valquíria e o Skurge (Karl Urban) têm um bom tempo de tela e são bem desenvolvidos. Quem acaba perdendo muito espaço e tem suas participações reduzidas a momentos praticamente “piscou, perdeu” são os velhos amigos de Thor, tipo o Volstagg (Ray Stevenson). Nesse sentido, o roteiro poderia dar uma trabalhada melhor nesses personagens mais antigos.

Delfos, Thor: Ragnarok

Quanto ao Hulk, sua participação é na medida certa, seu tempo em tela é satisfatório e suas interações com o Thor são sensacionais, mas ele em nenhum momento rouba os holofotes, sendo sempre um coadjuvante. Logo, embora parte da história seja inspirada pela saga Planeta Hulk, não é aqui que você vai vê-la adaptada na telona. Este é um filme do Thor.

THE HAMMER OF THE GODS

E aí volto a falar sobre porque ele me lembrou os gibis dos anos 60. Porque Ragnarok tem uma história com aquele clima épico, misturando fantasia e ficção científica, levada daquela forma amalucada dos anos 60, mais numa jornada psicodélica e menos explicando o que não necessariamente precisa ser explicado.

Logo, quem espera por respostas mais elaboradas para pontas deixadas por filmes anteriores pode se decepcionar bastante. Todas essas respostas são bastante simples e, quer saber, é bom que seja assim, pois não desviam o foco da diversão do longa.

O visual colorido e cheio de detalhes, especialmente no planeta Sakaar, também lembra muito as HQs sessentistas, especialmente a arte de Jack Kirby. É como um arco de duas ou três edições, épica e com começo, meio e fim, e não aquelas megassagas intermináveis de décadas posteriores.

Delfos, Thor: Ragnarok

Thor: Ragnarok abraça de vez o lado mais engraçadão do personagem e entrega sua melhor e mais cômica aventura. Pode não ser o filme mais marcante ou aquele que mais avança a grande história que a Marvel está construindo há anos, mas certamente é um dos mais divertidos e redime o deus do trovão em uma aventura solo de qualidade. Esta terceira tentativa finalmente compensou.

CURIOSIDADES:

– Fique ligado em algumas participações especiais hilárias. E não estou me referindo ao Stan Lee, que, como sempre, fez seu cameo. Olhos abertos.

– Há as tradicionais duas cenas pós-créditos. Só que dessa vez, eu particularmente não achei nenhuma delas grande coisa.

LEIA NOSSAS RESENHAS DO UNIVERSO CINEMATOGRÁFICO MARVEL:

Homem de Ferro – Onde tudo começou.

Homem de Ferro 2 – Agora com ainda mais Tony Stark.

O Incrível Hulk – Até por favelas cariocas o gigante esmeralda passou.

Thor – E não é que o deus do trovão é meio fanfarrão?

Capitão América: O Primeiro Vingador – Apresentando a última peça que faltava na fase 1.

Os Vingadores – The Avengers – O filme de super-heróis mais esperado da história.

O Hulk de Ang Lee – Não faz parte da história, mas, ei, é o Hulk!

Homem de Ferro 3 – Has he lost his mind? Can he see or is he blind?

Thor: O Mundo Sombrio – A fanfarronice está de volta.

–  Capitão América 2: O Soldado Invernal – O Sentinela da Liberdade está de volta. E dessa vez é pessoal.

Guardiões da Galáxia – Somos como o Kevin Bacon.

Vingadores: Era de Ultron – Toninho Stark e seus superamigos estão de volta.

Homem-Formiga – Encerrando a fase 2 da Marvel no cinema.

– Capitão América: Guerra Civil – De que lado você está?

Doutor Estranho – O Mago Supremo da Terra faz sua estreia no MCU.

Homem-Aranha: De Volta ao Lar – Eu acho que o Hulk deve ser cheiroso.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
thor-ragnarokTítulo: Thor: Ragnarok<br> País: EUA<br> Ano: 2017<br> Gênero: Comédia/Ação<br> Duração: 130 minutos<br> Distribuidora: Disney<br> Diretor: Taika Waititi<br> Roteiro: Eric Pearson<br> Elenco: Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Cate Blanchett, Tom Hiddleston, Tessa Thompson, Idris Elba, Benedict Cumberbatch, Anthony Hopkins, Karl Urban, Jaimie Alexander, Taika Waititi, Clancy Brown, Ray Stevenson e Jeff Goldblum.