Homem-Formiga

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E a fase 2 da Marvel no cinema está oficialmente encerrada, delfonauta. Com Homem-Formiga, uma espécie de epílogo após os eventos bombásticos de Vingadores: Era de Ultron, o estúdio diminui a escala (literalmente!) com uma aventura mais descompromissada e apresenta mais um de seus heróis virtualmente desconhecidos do grande público.

Só que, diferente de Guardiões da Galáxia, que apresentou um grupo de heróis que até os nerds desconheciam, este aqui não aproveita para apresentar também um novo aspecto do universo Marvel como Guardiões fez com o lado cósmico da Casa das Ideias. Homem-Formiga, embora mais integrado com a cronologia que o estúdio vem desenvolvendo desde o primeiro Homem de Ferro, também passa a inevitável sensação de mais do mesmo.

A essa altura você deve saber das desavenças criativas que afastaram Edgar Wright da direção, o que poderia sinalizar problemas na produção. Wright ainda está creditado como um dos roteiristas e até o astro Paul Rudd ganha crédito de escritor, o que mostra o quanto o pessoal deve ter metido a mão no texto depois da partida de seu diretor original. Felizmente, não temos aqui uma colcha de retalhos, mas sim uma história sólida e coerente, embora derivativa e pouco empolgante.

VOU CHAMÁ-LO DE ANTHONY

O Dr. Hank Pym (Michael Douglas) é o criador da Partícula Pym, que energiza o traje do Homem-Formiga e permite a quem vesti-lo encolher de tamanho, tornando-se uma espécie de arma viva com propósitos de infiltração e furtividade. Como ele sabe que essa tecnologia seria muito perigosa se caísse em mãos erradas, ele sai de cena levando consigo suas descobertas.

No entanto, Darren Cross (Corey Stoll), seu antigo pupilo, está muito próximo de replicar com sucesso seu experimento, e o cara não é exatamente um bastião da moral. Pym então recruta o ladrão de bom coração Scott Lang para assumir seu lugar como Homem-Formiga e roubar a tecnologia de Cross para que ela não vá parar com quem não deve.

Pegando a estrutura dos filmes de roubo, tipo X Homens e Um Segredo, e misturando com fartas doses de comédia, o longa consegue ser uma aventura de ação simpática e muito engraçada. Na verdade, ele é o mais abertamente cômico dos filmes da Marvel. Ele sem dúvida vai garantir muitas gargalhadas do espectador, seja com as piadas estilo fan service que ela tão bem sabe como incluir em suas produções, seja com as trapalhadas dos personagens (destaque para os comparsas de Scott Lang).

Ao mesmo tempo em que é uma boa escolha não levar a sério em nenhum momento um sujeito que encolhe de tamanho e controla formigas, também é visível que, se seguisse por um caminho um pouco mais ousado, ou mesmo um apenas não tão repetitivo, poderia ser ainda mais bacana.

Sua estrutura de roteiro é o típico longa de origem dos super-heróis. E, francamente, já deu no saco ver sempre o mesmo filme apenas com personagens diferentes. Ele é basicamente o primeiro Homem de Ferro na forma como a história é conduzida. E, por mais que o primeiro filme do ferroso tenha sido legal na época, a Marvel já lançou coisas muito melhores desde então. Assim, para quê dar um passo atrás?

Os dramas pessoais dos personagens (a relação tanto de Scott quanto de Hank com suas respectivas filhas e a tragédia no passado de Pym) não empolgam e arrastam o filme pra baixo, fazendo-o demorar um pouco para realmente pegar. Já o vilão é praticamente uma cópia em todos os sentidos do Obadiah Stane do já tão mencionado primeiro Homem de Ferro,

Darren Cross não tem qualquer motivação a não ser um ego gigante e a vontade de faturar uma grana de quem estiver disposto a pagar. É um daqueles vilões sem profundidade, malvado porque ele é assim e pronto. Também não há razão para ele se tornar o Jaqueta-Amarela, exceto lutar com o herói no clímax do terceiro ato para seguir o roteiro padrão dos filmes de super-heróis. O confronto é até bacana, mas está lá só para cumprir uma regra.

PARECE COISA DO DAVID COPPERFIELD

Evangeline Lilly, como Hope, a filha de Hank Pym, por sua vez, parece estar presente só para embelezar o filme, visto que, no fim das contas, ela tem pouco a fazer e seu papel claramente poderia ter sido melhor desenvolvido ao invés de permanecer só no clichê de ficar se estranhando sem motivo com Scott.

As cenas de ação são boas e os efeitos de encolhimento e do uso das formigas são competentes, embora não exatamente de encher os olhos. Contudo, o humor ajuda a dar um ganho considerável a essas sequências. E uma cena onde Scott tem que roubar um treco antes da missão principal é particularmente divertida e um dos pontos altos da película.

O diretor Peyton Reed é do tipo invisível, mas não daqueles que trabalha tão bem que você não nota seu dedo, e sim daqueles sem personalidade mesmo. Não fossem as fartas doses de humor que dão uma boa levantada na película, ela seria bastante genérica. Dá para imaginar que com Edgar Wright no comando, certamente poderia render algo mais especial.

Da forma como está, Homem-Formiga é aquele trabalho que não compromete e diverte, mas veio depois de uma sequência de ótimos filmes da Marvel e está vários degraus abaixo deles no quesito qualidade, o que pode gerar frustração em boa parcela dos fãs.

Como um encerramento despretensioso para mais uma fase da Marvel nas telonas, serve razoavelmente bem. Contudo, mostra que essa trama de origem padrão já deu o que tinha que dar. E corre o risco de pagar por isso ao apresentar um personagem pouco ou nada popular de forma tão burocrática, embora ainda funcional. No entanto, para os novos personagens que serão apresentados na fase 3, convém mudar essa fórmula e demonstrar um pouco mais de ousadia.

Homem-Formiga estreia no dia 16 de julho nos cinemas brasileiros.

CURIOSIDADE:

– Temos novamente duas cenas pós-créditos e ambas são bem legais. A primeira aponta um possível caminho para uma continuação e a segunda dá um vislumbre do que vem por aí em escala maior.

LEIA TAMBÉM AS RESENHAS DOS FILMES QUE LEVARAM A ESTE MOMENTO:

Homem de Ferro – Onde tudo começou.
Homem de Ferro 2 – Agora com ainda mais Tony Stark.
O Incrível Hulk – Até por favelas cariocas o gigante esmeralda passou.
Thor – E não é que o deus do trovão é meio fanfarrão?
Capitão América: O Primeiro Vingador – Apresentando a última peça que faltava na fase 1.
Os Vingadores – The Avengers – O filme de super-heróis mais esperado da história.
O Hulk de Ang Lee – Não faz parte da história, mas, ei, é o Hulk!
Homem de Ferro 3 – Has he lost his mind? Can he see or is he blind?
Thor: O Mundo Sombrio – A fanfarronice está de volta.
Capitão América 2: O Soldado Invernal – O Sentinela da Liberdade está de volta. E dessa vez é pessoal.
Guardiões da Galáxia – Somos como o Kevin Bacon.
Vingadores: Era de Ultron – Toninho Stark e seus superamigos estão de volta.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
homem-formigaPaís: EUA<br> Ano: 2015<br> Gênero: Ação/Ficção Científica<br> Duração: 117 minutos<br> Roteiro: Edgar Wright, Joe Cornish, Adam McKay e Paul Rudd<br> Elenco: Paul Rudd, Michael Douglas, Evangeline Lilly, Corey Stoll, Bobby Cannavale, Michael Peña, Judy Greer e Hayley Atwell.<br> Diretor: Peyton Reed<br> Distribuidor: Disney<br>