Os Falsários

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Foi só o filme começar e, com menos de quinze minutos de projeção, me lembrei do Corrales no ato. O fato, obviamente, não foi gratuito. É que Os Falsários é mais um filme a explorar um dos temas favoritos do nosso compadre: os nazistas e o holocausto. Bom, em defesa desta película, ao menos seu ponto de partida é mais interessante do que o da maioria dos filmes do gênero.

Sally Sorowitsch é o melhor falsificador da Alemanha dos anos 30. De documentos a dinheiro, ele faz de tudo com perfeição. O homem é um artista. E também é judeu. Não demora muito e o cara é preso e mandado para um campo de concentração. Com o avanço da 2ª Guerra Mundial, ele é transferido para outro campo, onde o policial que o prendera, agora promovido a oficial nazista, comanda uma operação que precisa de seus talentos.

A Operação Bernhard consiste em falsificar libras esterlinas com o suposto intuito de inundar o mercado financeiro inimigo de notas falsas e assim fazer um estrago em sua economia. Claro, mais tarde, quando os nazistas exigem que Sally faça dólares, todos percebem que na verdade a operação serve mesmo é para salvar a própria economia alemã. O dinheiro falso feito pelos judeus na verdade era usado para evitar a falência do reich e alimentar a máquina da guerra.

Isso é baseado em fatos reais, e me parece nunca ter sido explorado antes, portanto, sopra uma lufada de ar fresco em um tema de fato já retratado em demasia pelo cinema. Fora esse foco, no entanto, há ainda uma interessante discussão sobre o que é preciso fazer para sobreviver. Sally está ciente do paradoxo de que está ajudando as pessoas que o trancaram (e que o tratam como menos que um animal) a levar o nazismo em frente. Mas para ele é apenas um jeito de sobreviver, um dia de cada vez, como ele define. Já Burger, um de seus ajudantes, se recusa a ir em frente justamente por isso. Ele prefere tentar organizar uma rebelião a facilitar a guerra de seus captores. A relação entre os dois e como isso se espalha para o resto dos prisioneiros é um dos pontos altos da película.

O outro é ver o que cada prisioneiro faz para manter um traço mínimo de humanidade e dignidade em uma situação tão horrível, seja para o bem ou para o mal, neste caso provocando desunião no próprio grupo. A certa altura, um prisioneiro que era banqueiro demonstra reprovação por ser forçado a trabalhar com Sally, pois este era um criminoso lá fora.

Mesmo com todos esses pontos a favor, infelizmente o filme não escapa de certos clichês do gênero. Sim, há soldados nazistas sádicos e cruéis, mortes com o único intuito de emocionar o espectador, mas que em nada servem à trama e por aí vai. Felizmente, essa cota de chavões não é suficiente para apagar o brilho do que o filme tem de bom.

Desta maneira, se você ainda não enjoou do tema (ou mesmo para aqueles que já estão cheios, mas dispostos a mais uma tentativa) e quer ver um filme que trata do holocausto por um viés pouco explorado e, por isso mesmo, mais interessante, então esta é a pedida.

Curiosidade: Este foi o vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro de 2008, o que corrobora a teoria “corraliana” de que para ganhar um careca dourado você aumenta em muito suas chances se fizer um filme com esse tema.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
os-falsariosPaís: Áustria/Alemanha<br> Ano: 2007<br> Gênero: Drama<br> Duração: 98 minutos<br> Roteiro: Stefan Ruzowitzky<br> Artista: 14 anos<br> Elenco: Karl Markovics, August Diehl e Devid Striesow.<br> Diretor: Stefan Ruzowitzky<br> Distribuidor: Europa Filmes<br>