Num país tão violento como o Brasil, não é de se admirar que haja tanta gente disposta a encomendar as mortes de desafetos pelos mais variados motivos. Alguns deles ridiculamente bestas, mas isso não vem ao caso. Para realizar o serviço, entra a figura do matador de aluguel, o popular pistoleiro.

O Nome da Morte é baseado na história real de Júlio Santana, um destes pistoleiros, que admitiu ter matado nada menos que 492 pessoas e, durante toda sua carreira como matador, passou apenas um dia no xilindró, porque o Brasil é um país tão nonsense que nem o Monty Python seria capaz de inventá-lo.

Ele segue o caminho de um drama, mostrando o início da carreira de Júlio, quando é introduzido no ofício pelo próprio tio, ele também um pistoleiro. A partir daí ele tem de lidar com a consciência pesada, em oposto ao bom dinheiro que recebe para apresuntar os outros.

Delfos, O Nome da Morte, CartazE à medida que sua contagem de corpos vai aumentando, ele vai construindo uma vida normal ao redor de si, formando família e por aí vai. Na verdade, ele seria um sujeito bastante comum e mundano. Mas ao invés de sair todo dia de manhã para trabalhar num escritório, ele vai aos mais diversos locais meter chumbo nos seus alvos.

A condução do filme é boa, entrecortando este drama psicológico do personagem com as cenas dos serviços. Os diálogos são bem construídos, as atuações são boas e o grande destaque fica para o André Mattos, como o tio que coloca o sobrinho na vida de pistoleiro, equilibrando bem humor negro da profissão com carinho genuíno pelo sobrinho.

Contudo, o longa também não é nada de mais. Se utiliza da batida ferramenta narrativa de começar por uma cena forte para depois voltar no tempo e ir contando a história do começo até chegar de novo naquele ponto. E o pior, o ponto em questão nem é o clímax do filme (como geralmente ocorre nesses casos), mas deveria ter sido.

Ele passa desse ponto e continua, indo terminar de maneira meio brusca, do nada. Achei que faltou um desenvolvimento na forma de encerrar a história, ao invés de simplesmente “largá-la” do nada. Assim como também achei que poderia focar ainda mais na questão psicológica do protagonista, que muitas vezes acaba até deixada de lado.

Delfos, O Nome da Morte

Gostei do que assisti no geral, e ele tem mais predicados do que defeitos. Contudo, ele não vai ficar muito tempo na minha memória, faltando algum fator mais forte para fazê-lo se destacar na multidão, Foi isso que quis dizer dois parágrafos acima, quando escrevi que ele não é nada de mais.

O Nome da Morte é um bom filme nacional com um tema capaz de agradar o delfonauta que gosta de uma temática mais violenta, ainda que seja um drama, e não um filme de ação. Mas está longe de ser marcante e, por isso, a não ser que você queira muito vê-lo na tela do cinema, eu esperaria para conferi-lo na televisão mesmo, que já está de bom tamanho.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
critica-o-nome-da-morteTítulo: O Nome da Morte<br> País: Brasil<br> Ano: 2018<br> Gênero: Drama<br> Duração: 98 minutos<br> Distribuidora: Imagem<br> Diretor: Henrique Goldman<br> Roteiro: Henrique Goldman e George Moura<br> Elenco: Marco Pigossi, Fabiula Nascimento, André Mattos, Matheus Nachtergaele, Martha Nowill, Tony Tornado e Augusto Madeira.