Bem-Vindo a Nova York

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Ao delfiano que sempre fantasiou ver o Obelix com sua gloriosa pança de fora, fazendo festinhas regadas a prostitutas de luxo, suas preces foram atendidas e Bem-Vindo a Nova York foi feito para você! Abro essa resenha de maneira bem-humorada apenas para dar uma descontraída, visto que o longa aborda na realidade um assunto bem pesado.

Gérard Depardieu é Devereaux, um poderoso banqueiro internacional viciado em sexo. Vício esse que ele acalenta com as já citadas noitadas movidas a muitas prostitutas. Até aí problema dele, mas a coisa sai do controle quando ele abusa sexualmente de uma camareira de hotel, parecendo acreditar piamente que habita o mesmo universo onde se passam os filmes pornôs e, portanto, todo mundo que aparece à sua porta quer automaticamente transar com ele.

Ele é preso e, por ser uma figura importante, com aspirações até a concorrer à presidência da França, o caso ganha muita notoriedade. E vale dizer que a trama do filme foi inspirada por um caso real, ocorrido com o ex-diretor do FMI, Dominic Strauss-Kahn, que recebeu a mesma acusação em 2011.

O longa segue o gênero “estudo de personagem”, dedicado a mostrar como age e pensa uma figura repugnante como Devereaux, que não vê qualquer problema em seus atos, arranjando justificativas estapafúrdias para seu comportamento, escorado em ótima atuação de Depardieu.

Contudo, o filme é bem irregular durante toda sua condução. Enquanto a primeira meia hora basicamente só mostra o cara fazendo farra com as suas quengas, como se para estabelecer a índole do personagem, essa introdução bem poderia ter sido um pouco reduzida. A narrativa fica melhor a partir do momento em que ele é preso e fica com o proverbial “fiofó” na mão.

Tudo volta a esfriar quando sua bilionária esposa (Jacqueline Bisset) entra em cena para livrar a cara do marido com seu dinheiro, tratando aí da condescendência que recebe da própria mulher, ela também possuidora de interesses políticos, e mais interessada em enterrar o escândalo para não manchar a imagem pública da família do que na justiça em si.

E embora o casal protagonize diálogos surreais sobre o tema, essa parte não é tão interessante quanto o miolo do filme, embora em nenhum momento ele fique chato de se assistir. Mas há claramente uma divisão em três partes e a do meio para mim foi superior.

Bem-Vindo a Nova York não é um filme para todo mundo, e é preciso ter estômago para acompanhar a história de um dos sujeitos mais – por falta de uma palavra melhor – escrotos a protagonizar uma película, completamente fora da realidade do mundo e de seus próprios atos. Se você gosta desse tipo de trabalho que vai a fundo no retrato de um determinado tipo de personagem, vale a pena.

Este longa será exibido dentro da Mostra Imovision 25 Anos em São Paulo, no Reserva Cultural, no dia 27 de julho, às 21h30. E também no Festival de Paulínia, no mesmo dia, às 21h, no Theatro Municipal Paulo Gracindo. A previsão de estreia no circuito comercial é para novembro.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
bem-vindo-a-nova-yorkPaís: EUA<br> Ano: 2014<br> Gênero: Drama<br> Duração: 125 minutos<br> Roteiro: Abel Ferrara e Chris Zois<br> Elenco: Jacqueline Bisset; Gérard Depardieu, Drena De Niro e Amy Ferguson.<br> Diretor: Abel Ferrara<br> Distribuidor: Imovision<br>