Demorou, mas enfim aconteceu. A Warner/DC finalmente entregou um bom filme do recente universo cinematográfico da editora concorrente da Casa das Ideias. Após muito bater cabeça sem nunca parecer ter um direcionamento definido, coube à terceira ponta da Trindade de seus grandes medalhões a tarefa de colocar as coisas no prumo.
Mulher-Maravilha realiza o feito apostando no simples: na força de sua protagonista, nos conceitos que ela defende e representa e no que a faz uma personagem marcante. Em suma, desenvolve a heroína mais famosa dos quadrinhos (após uma breve apresentação em Batman vs Superman) sem firulas e sem inventar moda, utilizando-se dos principais conceitos que a cercam em sua rica história nas HQs e fazendo um filme redondo e eficiente.
EU NÃO VI NENHUM AVIÃO INVISÍVEL
Temos uma história de origem, e também um filme de época. O começo é dedicado a contar a origem da princesa amazona e sua criação na Ilha Paraíso. É a parte mais comum da película, mas funciona bem ao apresentar um mundo tão diferente, isolado e idílico. E funciona principalmente quando o avião de Steve Trevor (Chris Pine) cai no mar de Themyscira e ele é resgatado por Diana.
É então que as amazonas descobrem que o mundo do qual elas vivem escondidas está mergulhado na guerra e Diana acredita tratar-se da obra de Ares, o deus da guerra. Ela parte então numa missão para devolver Trevor ao mundo do patriarcado e matar o diabólico deus, encerrando assim o conflito e a carnificina.
A princípio, a comparação mais imediata é com Capitão América: O Primeiro Vingador, pela ambientação de ambos os filmes na guerra, embora Mulher-Maravilha se passe no primeiro grande conflito mundial. O Corrales o achou uma mistura do primeiro longa do bandeiroso com o primeiro Thor graças às piadas da heroína tentando se adaptar a uma sociedade que não conhece, mas a película do deus do trovão já não me passou pela cabeça em momento algum.
Seja como for, acho que as comparações acabam por aí. O filme da amazona é mais grandioso, tem aquela grandiloquência típica da DC Comics, porém sem a mão pesada, a falta de cores e o clima deprimente que pautou as produções anteriores do estúdio.
Só o início em Themyscira já injeta toda a cor que faltou em três filmes inteiros. E mesmo que a maioria da película se passe no ambiente cercado de morte, fumaça e fuligem da Primeira Guerra Mundial, ele ainda assim consegue trilhar um caminho diferente, onde não há vergonha em ter um pouco de otimismo.
Sendo a primeira visita de Diana ao mundo dos homens, serve para que ela veja os maiores horrores de que a raça humana é capaz de cometer. Ao mesmo tempo, ao invés de perder as esperanças, ela se vê com a obrigação de ajudar, de acreditar que eles também são capazes de algo mais. Assim como Ares os estaria influenciando para o conflito, ela poderia fazer a balança pender para o outro lado.
Nesse sentido de desenvolvimento da personagem e de suas motivações, o filme é um sucesso ao entregar a Mulher-Maravilha que todos conhecem dos quadrinhos, a personagem completa e clássica. Bem diferente do Superman ainda imaturo e do Batman ancião que já foram mostrados.
COMO AS MULHERES CONSEGUEM LUTAR COM ESSA ROUPA?
Gal Gadot entrega uma atuação perfeita como a heroína, transformando sua Diana em um poço de curiosidade, maravilhamento e questionamento sobre as coisas e costumes do novo mundo, o que gera muitos momentos humorísticos. Ela também dosa perfeitamente a nobreza, os princípios mais elevados e uma dose de ingenuidade, sem nunca parecer boba ou cair no piegas.
No campo da ação, o filme está bem servido, ainda que a diretora Patty Jenkins pegue muito da identidade visual de Zack Snyder emprestada nestes momentos, com batalhas estilosas envolvendo muitas câmeras lentas. É até estranho que o resto do filme tenha uma identidade totalmente diferente e quando o pau come parece que voltamos imediatamente para o mundo cinza de Snyder. É bonito visualmente, não dá para negar, mas podia seguir de vez por caminhos próprios.
Também não precisava ter o resto daquela galera do retrato (aquele mesmo de Batman vs Superman) que não serve para nada a não ser parecer uma cópia do Comando Selvagem do Capitão América. E o vilão interpretado pelo Danny Huston poderia ser menos exagerado. Manja o cara que é tão mau que atira em seus próprios homens quando eles fazem besteira e só falta esfregar as mãos no melhor estilo Sr. Burns? Pois é, beira o caricato em vários momentos.
Também vale dizer que esta é uma história totalmente independente, com começo, meio e fim e sem qualquer ligação com o resto do universo DC, exceto o que já foi estabelecido em BvS. Assim, não espere participações de outros heróis ou ligações com filmes vindouros, pois não há nada disso aqui.
E isso é bom, era o que a DC/Warner precisava após tantos tropeços. Dar um passo atrás, deixar a construção de seu universo um pouco de lado e simplesmente se focar em algo mais básico, contar uma boa história que estabeleça uma de suas marcas mais famosas e importantes.
Neste sentido, foi muito bem sucedido, com um filme simples, competente, empolgante, e sobretudo, que apresenta a heroína por inteiro, da forma que todos a conhecem, em sua melhor versão, deixando-a pronta para filmes posteriores. Mulher-Maravilha é o primeiro grande acerto da DC, apontando um caminho melhor do que estava sendo trilhado até então. Tomara que aproveitem.
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