Você sabe que os EUA adoram fazer remakes de filmes estrangeiros, pois eles não possuem o costume de ler legendas, e sejamos francos (e sem querer generalizar), nem de assistir coisas que venham de fora. Já casos de refilmagens produzidas por outros países são bem mais raros, mas acontecem.

De cabeça eu me lembro do filme nacional Sexo, Amor e Traição (2004), que era um remake do longa mexicano Sexo, Pudor e Lágrimas (1999) e de Kiki – Os Segredos do Desejo, que resenhei no começo do ano e até mencionei como curiosidade que se tratava de uma refilmagem de um filme australiano.

Porém, o caso de Inseparáveis é mais curioso. Trata-se de uma refilmagem argentina do longa francês Intocáveis. Curioso porque não se trata de refazer um filme obscuro do qual ninguém ouviu falar, mas sim de um grande sucesso do cinema francês que também conseguiu uma bela carreira em outras partes do mundo. Fora ainda ser uma produção bem recente, afinal, ele é de 2011.

Nesse sentido, não dá para negar que a refilmagem acaba sendo desnecessária, assim como também é inegável que, ao subirem os créditos finais, isso acaba sendo um fator totalmente irrelevante, pois a versão argentina consegue a difícil proeza de ser tão boa quanto o original.

A história do ricaço tetraplégico (Oscar Martínez) que contrata um sujeito pobre (Rodrigo de la Serna, você deve se lembrar dele como o amigo do Che Guevara em Diários de Motocicleta), desbocado, mas muito gente boa para ser seu cuidador por ele não ter pena da condição do outro, ganha pequenas adaptações para a realidade argentina, mas nada que o diferencie tanto.

A memória de Intocáveis não está mais assim tão fresca na minha cabeça, mas a nova versão me pareceu praticamente igual no andamento da história e nas situações apresentadas. Enquanto assistia, ia imediatamente me lembrando da sua fonte.

Outra coisa que seria um baita desafio para este remake era o fato de que o original tinha uma atuação monstruosa do carismático Omar Sy, muito do sucesso do filme dependia dele. E não é que o Tito de Rodrigo de la Serna consegue ser um personagem tão carismático, bacana e engraçado quanto?

A interação dele com Oscar Martínez é perfeita, o que, numa história sobre uma improvável amizade, é essencial. Ambos estão excelentes e geram várias situações de rachar de rir, até com humor politicamente incorreto. Ambos seguram bem também as partes mais dramáticas.

Mas o principal é mesmo a comédia. E eu já disse isso e repito, qualquer coisa fica ainda mais engraçada com palavrões em espanhol! E este aqui tem um monte deles. Claro, a história também ajuda bastante, com a típica situação de personagens de universos diferentes se entrosando.

Não importa se você já viu Intocáveis e se ele ainda está fresco na memória. Inseparáveis é tão bom que consegue passar a sensação de que você está vendo essa história pela primeira vez. Fãs do longa original, do cinema argentino e de um bom filme em geral acabam de ganhar mais uma excelente opção.

REVER GERAL
Nota
Artigo anteriorMulher-Maravilha recoloca o Universo Cinematográfico DC no trilho certo
Próximo artigoEmbers of Mirrim: luz, trevas e alavancas analógicas
Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
inseparaveis-mostra-que-nao-sao-so-os-eua-que-gostam-de-remakesTítulo original: Inseparables<br> País: Argentina<br> Ano: 2016<br> Gênero: Dramédia<br> Duração: 108 minutos<br> Distribuidora: Paris Filmes<br> Direção: Marcos Carnevale<br> Roteiro: Marcos Carnevale<br> Elenco: Oscar Martínez, Rodrigo de la Serna e Alejandra Flechner.