Power Rangers

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Quem era criança ou pré-adolescente nos anos 1990 lembra bem da febre que foi Power Rangers. Por mais tosco que fosse narrativa e tecnicamente (a diferença da qualidade das imagens das cenas de ação originais japonesas para as cenas dramáticas com os atores estadunidenses era gritante), a coisa fez sucesso.

Eu assistia, mas não era um fã fervoroso. Embora gostasse de sua qualidade trash, eu não conseguia esquecer que também foi por causa deles que novos tokusatsus deixaram de ser exibidos no Brasil. Com o sucesso de Power Rangers, a Saban passou a comprar de antemão os direitos de exibição internacional de cada nova série super sentai para transformar na próxima temporada de sua franquia.

Enfim, hoje a marca continua aí, onde cada nova temporada parece contar uma história fechada e com um novo elenco, embora não tenha mais o apelo inicial. Um momento propício para tentar dar uma chacoalhada nas coisas com esta reimaginação da equipe clássica para o cinema.

Power Rangers, o filme, surpreende justamente por fugir da tosqueira da série e não só dar o tradicional tratamento sombrio e mais adulto tão típico dos tempos atuais, como também por ser algo completamente focado no desenvolvimento dos personagens. A película é completamente levada pelas cinco pessoas debaixo das armaduras e não pela ação.

É uma decisão bastante corajosa e ousada considerando-se que se trata de um longa de entretenimento voltado para o público infanto-juvenil (e também para os saudosistas de plantão, vá lá) e principalmente ao se comparar com a série original, bastante simplória no trato dos personagens.

Esta é a força do novo longa, mas também é muito capaz de enfurecer os fãs mais puristas, pois praticamente todos os elementos da história foram bastante alterados. Talvez a principal e mais gritante é que agora os cinco adolescentes não são mais a versão Malhação gringa, os coxinhas cujo ponto de encontro era o bar de sucos de uma academia!

Agora eles são os desajustados, os rejeitados, os outsiders do colégio. Cada um tem sua história, personalidade e motivações bem definidas. E o mais legal deles é o Billy, o Ranger Azul, que não só continua sendo o mais inteligente, como também é o mais empolgado com a possibilidade de virar um super-herói.

FORMA DE UM MAMUTE DE GELO! HUM, TAMBÉM NÃO É ISSO

Assim que encontram as moedas do poder, eles ganham habilidades como super-força e a capacidade de dar longos saltos. E isso na forma humana, sem as armaduras. Essa alteração, e todo o longo trecho deles descobrindo suas habilidades e treinando, deixa o filme próximo de algo como Poder Sem Limites.

Mas claro, logo eles terão de dominar completamente seus poderes, porque Rita Repulsa está atrás de algo e não se importa em destruir a Alameda dos Anjos para conseguir. Também não deixa de ser uma bela homenagem aos seriados de tokusatsu, dos quais Power Rangers é uma espécie de filho bastardo, grande parte da história se passar numa pedreira.

É irônico que o filme peque justamente quando precisa ser Power Rangers. Primeiro, quem espera muita ação vai ter uma enorme decepção. Ele tem praticamente só uma grande cena de pancadaria e destruição e acho que você já imagina quando ela acontece. Então demora para que ela chegue.

Justamente quando entram os elementos clássicos como as armaduras e os zords que a coisa mais cai de qualidade, quase como se tivesse vergonha de assumir seu lado mais fantástico. Um bom exemplo é quando há a referência à clássica música-tema da série. Tinha tudo para ser um baita momento hell, yeah se a deixassem tocando por toda a sequência ao invés de fazer apenas um aceno e trocar para a trilha incidental sem sal.

O visual dos zords ficou bem artificial e confuso e, tirando o tiranossauro, nem dá para entender direito quais bichos eles são caso você não saiba de antemão. O Megazord, por sua vez, ficou extremamente genérico, em nada lembrando o da TV. Decepcionou nesse quesito, bem como na parte da ação com eles de armadura, com cenas curtas demais e coreografia pobre.

Como história de origem, ele é muito bom, criando personagens mais complexos e acrescentando muitos elementos a uma mitologia mais interessante que a original. Baseado nisso, estava considerando lhe dar quatro Alfredos. Mas o terceiro ato, o grande momento onde ele poderia e deveria assumir toda a fanfarronice do seriado é tão chocho que acabou perdendo meio Alfredo.

Contudo, mesmo com os erros, eu ainda considero que ele acertou mais e que os equívocos podem ser consertados facilmente em uma eventual continuação. E eu espero mesmo que façam uma, pois este Power Rangers, com o que tem de bom e ruim, de fato surpreendeu e eu gostaria de ver mais disso. Mas para isso acontecer, você precisa ir ao cinema prestigiar este. Neste caso, go go, Power Rangers!

CURIOSIDADE:

– Há uma cena no meio dos créditos finais, então não saia apressado assim que o filme terminar.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
power-rangersPaís: Canadá/EUA<br> Ano: 2017<br> Gênero: Ação<br> Duração: 124 minutos<br> Roteiro: John Gatins<br> Elenco: Dacre Montgomery, RJ Cyler, Naomi Scott, Becky G., Ludi Lin, Elizabeth Banks, Bryan Cranston e Bill Hader.<br> Diretor: Dean Israelite<br> Distribuidor: Paris Filmes<br>