Andre Matos – Time To Be Free

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Ele está de volta. Sim, meu caro delfonauta, Andre Matos, mais conhecido como “Musa Nissei-Sansei” ou o “ex-vocalista do Angra, Viper e Shaman” ou, aqui no DELFOS, simplesmente como Dedé, volta ao cenário musical, desta vez com um disco solo, Time To Be Free.

Talvez você esteja se lamentando pelo fato de o disco demorar tanto para chegar aqui (porque se você é um ardoroso fã dele, deve estar fazendo isso. E se esta não for sua reação, parabéns! Você é uma pessoa normal) ou mesmo sofrendo de uma profunda crise de identidade por ser brasileiro e não poder usufruir de uma vantagem como essa. Porém, saiba, meu caro delfonauta, que você não perde nada em não ouvir esse disco. Ao contrário, gaste seu precioso tempo fazendo algo mais útil à humanidade ou economize seus suados vinténs que seriam destinados à importação deste disco. Bem, faça qualquer coisa, mas não se lastime por não poder ouvir este novo dardo lançado por Andre Matos.

Pra começo de conversa, o título é bem cafona e nada original. Talvez esta seja a resposta que Dedé queria dar aos fantasmas de seu passado. Afinal, alguém com uma carreira tão incerta deve estar a todo custo tentando não repetir os mesmos erros do passado. E se olharmos o passado recente do personagem central desta resenha, notaremos que realmente ele ainda vive como se estivesse nas “outras eras”. Outra pequena coincidência inconveniente é que, por onde passou, Matos deixou um rastro brilhante, como um cometa errante. Mas diferentemente do corpo estelar, as bandas “pós-Matos” ficaram bem melhores. Isso aconteceu notoriamente com o Angra, que entrou de vez na galeria das melhores bandas de Metal Melódico depois que nosso antipático amigo caiu fora do barco. O mesmo ocorreu com o Viper, embora eles nunca tivessem tido a projeção que mereceram. E logo o mesmo pode acontecer com a outra ex-banda do Dedé, o reformulado Shaman.

Por que estou falando isto? Para incitar que uma leva de headbangers “pró-Dedé” entupam minha caixa de e-mails? Não! Para manter minha fama de jamais elogiar um lançamento? Menos ainda! Então para quê escrevo esta solitária resenha? Recorro então, às sábias palavras de mestre Yoda, “a resposta dentro desta resenha está”.

Começo dizendo que Time To Be Free é regular. Regular demais, para ser mais claro. Ou seja, é um disco de Metal genérico (mais um verbete para o Dicionário Delfiano). Entenda que Metal genérico é aquele tipo de som permeado de clichês, riffs comuns que você aprenderia na sua primeira aula de guitarra e um andamento nada inovador. Trocando em miúdos, um disco comum e fraco.

Você acha esta rotulação pouca? Pois saiba, não existe nada que seja mais desagradável para um músico do que ter seu som classificado como comum ou fraco. Exceto para os emos, é claro. Realmente, todos os meses de clausuras nos estúdios da Alemanha, escoltados pelo sempre imprevisível Roy Z, de nada serviram para o amadurecimento musical da banda.

O fato é que após uma década e meia fazendo um som parecido, Andre Matos surta, joga tudo para o alto, mais uma vez, e então decide entrar no estúdio e fazer tudo do jeito dele. E, ironicamente, o que era pra ser o exorcismo de velhos demônios ou a mutilação de uma veia inerte acaba sendo exatamente como sempre foi. Assim, a hora da liberdade que apregoa o título nada mais é que uma volta no tempo, para os dias em que Heavy Metal era chamado de “rock pauleira”. Talvez, se Andre Matos fizesse uma coletânea só com os sucessos dos tempos de Angra e Viper, as coisas poderiam soar bem melhores. Mas ele é teimoso, é do tipo “sou brasileiro e não desisto nunca”, ainda mais quando ele sabe que seus fãs japoneses comprariam até a grama em que pisasse ou a bandana imunda em que ele amarrasse sua longa cabeleira sebenta. É, mas ele nem usa bandana! E daí? O fato é que ele entrou num estúdio e gravou um disco e é pra isso que estamos aqui. Alguém pediu um faixa a faixa aí? O povo fala, e o DELFOS atende, nem que seja em parte. 😉

Menuett – a faixa que abre o disco é mais uma daquelas introduções manjadas. Não que isto seja ruim, pois dependendo do som incidental, o resultado pode ser bem interessante. Veja, por exemplo, a introdução do álbum Rebirth do Angra. Contudo, a escolha de um compasso como uma valsa de Strauss acaba soando bastante interessante. Bem, se a intenção era de fato inovar, ao menos nesta faixa eles conseguiram. Só lamento que esta valsa não tocasse durante todo o disco…

Letting Go – colada à introdução, a enigmática valsa deságua numa orquestração rápida e intensa. Por mais que pareça cedo para dizer isto, mas este é o ponto alto do disco. Um som vibrante, pujante, com uma semelhança nítida com Carry On. Nítida até demais…

Rio – um sugestivo título que pode até assustar um true. Mas calma, meu caro delfonauta, não há aqui pandeiros, nem berimbaus. Afinal, este disco é do Dedé e não do Max Cavalera. O riff já demasiadamente vulgarizado ainda consegue trazer um impacto para o som. Assim como a anterior, soa agressiva e forte… E não sei se é implicância minha, uma falsa impressão ou algo parecido, mas Rio lembra Temple of Hate do Angra, tanto na velocidade quanto no refrão.

As demais faixas… bem, creio que seria desnecessário esmiuçar as demais. Talvez, se em vez de um disco de 12 faixas, Dedé tivesse optado pelo lançamento de um single com apenas as três primeiras, creio que todos ficaríamos satisfeitos. Mas ele é megalomaníaco (eu sempre quis usar essa palavra) e não se contentaria com tão pouco. Vai entender…

Assim, me resta apenas dizer que:

Remember Why – com sua introdução oriental, é uma faixa que você já ouviu antes. É mais uma prova da megalomania de Andre Matos: ele pensa que é Aladdin e que está vivendo nas Mil e Uma Noites.

How Long (Unleashed Away) – simplesmente a pior música do disco. É preciso dizer algo mais. Sim, é. Nessa hora eu quase quebrei o bendito CD de raiva. Como pode? É ruim que dói.

Face the End – uma ilha em meio a este mar de marasmo. Um som interessante, com o inicio da “saga Matos vs Piano”. Passaria como um bom som, não fosse a semelhança que ela tem com outra canção do Angra, desta vez Rebirth.

Time to Be Free – a faixa-título costuma sempre ser considerada a melhor do disco. Desta vez, a regra não se repete. Eis mais uma página da “saga Matos vs Piano”. Não fossem os riffs que os irmãos Mariutti se esmeram em tirar de seus instrumentos e a orquestração interessante que permeia este disco, Time to Be Free seria mais um som medíocre.

A New Moonlight – um som depressivo e arrastado, onde os vocais de Matos variam entre os sussurros diáfanos e os estridentes convulsivos. A parte instrumental é permeada por detalhes sensoriais. Uma boa maneira de tentar expurgar os delitos cometidos nas faixas anteriores.

Se você me perguntar se Time To Be Free é um disco ruim, eu responderei com um enorme sorriso que “NÃO”. E se você me perguntar se ele é, então, um bom álbum, eu também responderei “NÃO”. A verdade é que este é mais um daqueles trabalhos “crus”. Não que houvesse falta de empenho por parte dos irmãos Mariutti, que sustentam como podem os devaneios do vocalista. Mas a sensação que se tem após a ultima faixa é de que faltou algo. E a semelhança com os antigos trabalhos dá uma rápida idéia de que as horas de estúdio vieram acompanhadas dos velhos fantasmas. Afinal, para que arriscar uma nova linha musical se a trilha por aquele outro caminho já estava traçado e era bem conhecida… e conhecidamente rentável, diga-se de passagem.

Mais um dado curioso. Time To Be Free, contrariando minha análise freudiana, aparece nas listas dos discos mais vendidos no Japão. Será que isso é um fato admirável? Bem, comercialmente falando, é claro que é. Contudo, não podemos esquecer que o Hard Rock e Metal Melódico são os segmentos preferidos pelos habitantes da terra do Sol nascente. E que muita coisa que estoura por aquelas bandas não consegue ter o mesmo sucesso fora de lá. Em outras palavras, lugar nas listas de mais vendidos não quer dizer que a banda tem um som maneiro. Se fosse assim, Calypso e Ivete Sangalo seriam as melhores do Brasil.

Em suma, desejo sinceramente que da próxima vez, nosso amigo Dedé possa apresentar um álbum mais convincente e criativo, de fato. Talvez isto seja pedir muito, então que ao menos ele deixe as velhas receitas de lado e comece a trilhar uma nova estrada, onde ele não precise ficar na sombra de seus antigos projetos. O fato é que ele não conseguiu cumprir o seu maior desejo: o de ser livre. E olha que já era tempo.