Existem remakesremakes. Permita-me elaborar este clichê. Temos aqueles como Shadow of the Colossus, que modernizam totalmente o visual, mas são basicamente o mesmo jogo. Jogue a versão 2018 e você terá praticamente conhecido a obra original, a não ser que seja especialmente purista. E daí temos o lado mais extremo, onde podemos encaixar Yakuza Kiwami 2.

Yakuza Kiwami 2 é um remake de Yakuza 2, lançado originalmente para PS2 em 2006. Só que Kiwami 2 não se contenta em apenas dar uma repaginada audiovisual. O jogo todo foi reconstruído do zero, trazendo novas mecânicas e utilizando boa parte das novidades que surgiram no recente Yakuza 6: The Song of Life.

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Não se pode mais nem beber um pouco sem ser desafiado para um duelo…

Considerando que eu cobri o lançamento ocidental de Yakuza 6 poucos meses atrás, admito que não me senti jogando um novo Yakuza, mas um parrudo DLC. Afinal, o visual é o mesmo do lançamento anterior e a jogabilidade é bastante parecida. Além disso, o fato de ter debulhado The Song of Life ainda outro dia significa que ele estava bem fresco na minha memória. Em outras palavras, não deu tempo de “sentir saudade” e ter vontade de me envolver em uma nova aventura no submundo japonês.

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Estes caras não têm a menor chance.

Por outro lado, uma vez que realmente comecei a jogar, logo me empolguei. Além disso, embora não tenhamos aqui um monte de novidades para quem jogou o sexto, aquele ainda era um excelente jogo, e o mesmo pode ser dito deste.

YAKUZA KIWAMI 2

Yakuza 2 talvez seja o maior clássico da série. É aqui que o protagonista Kazuma Kiryu encontra seu par romântico, a jovem policial Kaoru Sayama, que tem o true apelido de “Caçadora de Yakuzas”.

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Então… você… já saiu com um Yakuza antes?

Também é aqui que temos o vilão mais famoso de toda a série, o Dragão de Kansai, Ryuji Goda. Como Kiryu leva o apelido de Dragão de Dojima, é curioso que a Sega não tenha chamado o jogo de Yakuza 2: Double Dragon.

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Só pode haver um dragão.

E, para completar, temos Goro Majima, talvez o personagem mais famoso da série. Em Yakuza 6, sua participação se limita a aparecer calado na introdução, mas aqui ele de fato é um personagem desenvolvido, possibilitando meu primeiro contato prolongado com esta famosa personalidade da cultura pop.

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E ele sabe fazer uma entrada triunfal.

Estes são apenas aspectos do segundo Yakuza que a maioria dos fãs de games já conhece. Mesmo eu, que nunca tinha jogado Yakuza 2, sabia disso só pela fama desses personagens. Então vamos entrar mais a fundo na história.

Após um assassinato de um patriarca do Tojo Clan, os clans da Yakuza podem entrar em guerra civil. Nosso amigo Kazuma Kiryu acaba envolvido e visa fechar uma aliança entre dois dos clans, o que poderia impedir um banho de sangue. Obviamente, nem todos estão com a mesma mentalidade mariquinha paz e amor. E do lado de fora, a máfia coreana está salivando querendo arrancar seu próprio pedaço do bolo.

A ESTRANHEZA JAPONESA

Yakuza Kiwami 2 é, como todos os lançamentos da série, uma obra focada na história, mas também um jogo de mundo aberto com muitas distrações. Temos o tradicional, as sidemissions que contam pequenas histórias autocontidas e de teor prioritariamente cômico. Você pode, por exemplo, ser chamado para trabalhar de modelo e, ao chegar lá, ver que o fotógrafo veste apenas uma cuequinha vermelha e espera posições assim.

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Kazuma-chan!

Não dá para negar, Yakuza Kiwami 2 é um jogo bem engraçado, e se torna ainda mais cômico graças à estranheza que a cultura japonesa gera em nós, ocidentais. Há, por exemplo, um minigame em que você compete com outras pessoas para ver quem tem o jato de pipi mais forte.

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Se você já tem hábito de fazer pipi nas fotos dos outros, terá uma vantagem.

Outra coisa que você pode fazer é pagar para tirar fotos de moças bonitas em live-action, que ficam cada vez com menos roupas enquanto você deve montar frases para agradá-las.

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E a interface nada sutil tampa tudo que você quer ver.

Isso sem falar das distrações que não são estranhas. Há o tradicional Club Sega onde você pode curtir games mais antigos em suas versões completas (aqui temos Virtua Fighter 2, por exemplo), jogos mais tradicionais, como Mahjong e, claro, cantar karaokê em divertidas e estranhas músicas orientais.

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Dá até para chamar o Goro Majima para cantar contigo.

Há dois mapas disponíveis e, embora ambos sejam bem pequenos – é possível correr de uma ponta a outra em uns dois minutos – estão transbordando de atividades diferentes e criativas onde você pode perder muitas horas sem avançar nada da história. Um dos mapas, como sempre, é o de Kamurocho, que é igual em layout ao que apareceu em Yakuza 6. O outro, Sotenbori, é também uma metrópole tipicamente japonesa, então não espere por algo mais rural e sossegado como a Hiroshima de Yakuza 6.

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O mapa de Kamurocho. Cada controlinho rosa no mapa é algum tipo de minigame diferente.

SOC! TUM! POW!

O que torna Yakuza uma série tão legal para alguém como eu é seu combate corpo a corpo, algo cada vez mais raro no mundo dos games. E em Yakuza Kiwami 2 a coisa está realmente impressionante. As animações e os golpes são bem semelhantes ao que já vimos em Yakuza 6, mas nem por isso as lutas são menos legais de assistir.

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Cuidado pra não se cortar no vidro, meu camaradinha.

Na verdade, eu senti que aqui, nosso herói Kiryu está menos poderoso. Em Song of Life, dava para segurar o botão e aplicar golpes mais fortes no meio do combo. Aqui o carregamento demora um pouco mais. Além disso, o heat mode só pode ser ativado quando a barra está totalmente cheia, e qualquer soquinho já a diminui. Mas ei, não espere que, por estar menos poderoso, Kiryu seja um arregão. Estamos falando de um jogo em que isso acontece!

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E sim, isso é uma imagem de gameplay.

A combinação história/gameplay torna Yakuza Kiwami 2 algo bem próximo de um excelente – e exagerado – filme de ação. Obviamente, há lutas a rodo por aqui, mas elas sempre têm um contexto e um motivo para acontecerem. Os personagens também têm designs bem legais e chamativos, e são muito bem dublados (em japonês, com legendas em inglês – não há português).

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Isso que eu chamo de heat action!

As cutscenes vêm em dois sabores. Há aquelas pré-renderizadas, que são basicamente filmes em CG, lindíssimos e estilosos pra caramba. E daí há os diálogos in-game, que não são falados e quase não são animados. Não há aquele meio termo que correspondia à maior parte de Yakuza 6, mas o lado bom é que quase todo ponto importante da história vem pré-renderizado. A parte sem vozes se limita às sidequests. E mesmo algumas delas têm cutscenes completas.

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É, isso também acontece.

E AINDA TEM MAIS

A campanha de Yakuza Kiwami 2 me levou 20 horas, sendo que eu fiz cerca de metade das sidemissions e com certeza tem muitos minigames que eu sequer descobri. Mas não é só, ela traz também uma miríade de campanhas alternativas, com histórias, upgrades e recompensas à parte. Para começar, temos o Clan Creator, aquele RTS disponível em Song of Life que foi inserido aqui mesmo não existindo no Yakuza 2 original. Além disso, há também uma campanha beat’em up tradicional, em que você escolhe as fases e sai porrando todo mundo que estiver lá.

Caso você não esteja se sentindo agressivo, pode administrar uma “casa de cavalheiros”, contratando moças bonitas pela cidade e as desenvolvendo para que elas possam satisfazer seus clientes.

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É…

Cada uma dessas atividades não é apenas um minigame, mas um jogo propriamente dito, que leva algumas horas para ser concluído.

Quando você pensa que a Sega cansou de acrescentar conteúdo extra por aqui, descobre que tem toda uma nova história protagonizada pelo Goro Majima que deve ser escolhida pelo menu principal e tem seus próprios saves, tudo separado da campanha principal. E é um jogo/história totalmente inédito, que nunca foi lançado antes, nem em Yakuza 2 nem em qualquer outro.

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Controle Goro Majima em sua própria história.

Majima Saga é uma história menor, mas nela há um novo personagem jogável que é bastante diferente do Kiryu, mais ágil e acrobático. É o tipo de coisa que costuma sair como DLC, e é curioso que tenha sido criado para este remake e incluído já na versão padrão.

Eu não costumo ligar o valor de um jogo à quantidade de horas que ele proporciona. Mas se você costuma, provavelmente vai ter que procurar bastante para encontrar um custo/benefício superior a Yakuza Kiwami 2.

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Tentar jogar tudo que tem aqui é como levar um soco na cara. De um punho brilhante.

Eu me envolvi profundamente com sua história, mas admito que deixei boa parte desse conteúdo extra para ser explorado mais tarde. Alguns deles verei pela diversão (o beat’em up em fases), outros pela história (a parte do Majima), mas admito que tem coisa ali que não tenho interesse nenhum (Mahjong, por exemplo).

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Um cavalheiro não olha.

De qualquer jeito, é difícil não se impressionar pela quantidade de conteúdo disponível. E especialmente pela qualidade de boa parte dele. As sidequests vão arrancar gargalhadas. O gameplay principal vai empolgar. Yakuza Kiwami 2 é um remake que acaba passando muito do status de um relançamento definitivo. Trata-se da história de Yakuza 2 com o gameplay de Yakuza 6, e mais um monte de mimos e atividades extras. Venha pelo playground ou pela história, o fato é que aqui há diversão e entretenimento quase ilimitados, como poucos jogos de mundo aberto oferecem.