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Tuim! Este é o som do embargo de The Last of Us Part II vencendo. Um dos raros casos em que reviews podem ser publicados uma semana antes do lançamento. E, assim, cá estamos nós, com muito prazer apresentando nossa análise The Last of Us 2 totalmente sem spoilers.

A questão é que eu ainda tenho muito a dizer que não convém falar nesse momento. Assim, um tempo depois do lançamento, quando você já tiver tido algum tempo para jogar, pretendo publicar outro texto esmiuçando mais a história, sem preocupação com spoilers. Mas por enquanto, pode ler este tranquilamente, pois aqui não vou estragar nada, nem comentar o que vazou nas últimas semanas.

ANÁLISE THE LAST OF US 2

Naughty Dog sempre foi uma das melhores desenvolvedoras dos games, mas ela parece ter encontrado seu caminho com Uncharted, um jogo de altíssimo orçamento, com uma campanha cinematográfica e um excelente foco na história. Desde então, ela focou nesse caminho e, como você provavelmente sabe, essa descrição resume o que, para mim, é o que de melhor pode ser feito em games.

Assim, é difícil começar a falar de The Last of Us Part II sem se aprofundar na história. Mas como diria Barney Stinsonchallenge accepted!

Felizmente, eu posso não falar da história, mas comentar bastante da narrativa. Afinal, é a combinação da narrativa com gameplay que torna a Naughty Dog, e os melhores games que existem, tão especiais.

Tudo em The Last of Us 2 tem um contexto. Cada cena de ação tem um motivo para existir, mas o que torna o jogo especial são os períodos entre os tiroteios. Sem exagero, há longos trechos, alguns durando mais de uma hora, sem combate ou sem nada que evolua muito a história acontecendo. Porém, estes são os momentos que evoluem a narrativa, desenvolvendo os personagens e fazendo você se importar com eles.

TERROR + LEVEZA

Contadores de história menos habilidosos focam num gênero. É aquele filme de ação intenso o tempo todo, ou o terror que é sempre escuro e assustador. A Naughty Dog é muito melhor do que isso. Eu classifico The Last of Us como uma história de terror. Porém, já vi muita gente torcer o nariz quando digo isso. E esse estranhamento se deve à leveza que a desenvolvedora coloca tão bem nos seus jogos.

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Foto meramente ilustrativa.

É fácil se esquecer da intimidade quando sua história tem um escopo épico. No entanto, uma cena em que dois amantes estão na cama conversando sobre banalidades faz muito para nos importarmos mais com eles como personagens. A Naughty Dog sabe disso. E The Last of Us se regozija com essa brincadeira. O jogo pode, por exemplo, parar por alguns minutos para você brincar de jogar uma bolinha para um cachorro. Ou então para alguém pegar um violão e tocar uma música inteira, do começo ao fim. E esse tipo de toque é essencial para que os momentos mais terríveis e assustadores cortem tão fundo. E algo quase único aos games.

PAUSAS NECESSÁRIAS

Afinal, você consegue imaginar um filme de duas horas parando sua história para alguém tocar uma música no violão? Simplesmente não dá para “jogar fora” cinco minutos do seu escasso tempo assim. Quando um filme faz isso, costuma mostrar cenas de todos os personagens, fazendo uma recapitulação do que aconteceu até aquele momento. Assim, o foco não é na música e nos sentimentos que ela causa. Porém, em um jogo narrativo de quarenta horas, cinco minutos não parece tanto tempo.

Claro, se você pensar que, sei lá, 15 horas de sua duração são dedicadas a momentos singelos e calmos, já não é tão pouco assim. Mas é essencial para que, quando o bicho pega, o terror seja realmente assustador e a violência seja realmente chocante.

E dessa forma, é difícil encaixar The Last of Us Part II em um único gênero. Sim, eu o classificaria como um terror pós-apocalíptico de zumbis, graças à temática pesada e ao clima de seus momentos mais assustadores. Mas ele também tem muita meiguice. Tem coisa aqui que não causaria estranhamento em um desenho da Pixar. E essa fofura tão proeminente é provavelmente o que faz as pessoas acharem que ele não é um jogo de terror.

NOITE E DIA

Isso fica mais claro na escolha de cenários. Em geral, jogos de terror, como Resident Evil ou Daymare, acontecem totalmente à noite. A noite dá mais medo, certo? Porém, narrativamente isso pode não fazer sentido. The Last of Us 2 SEMPRE faz sentido. Apesar de sua temática agonizante e sua violência explícita, 90% dele acontece de dia. Afinal, assim como o primeiro, sua história é praticamente uma road trip. E se você vai viajar por um caminho perigoso, é muito mais inteligente viajar de dia e descansar à noite.

Isso não significa que não haja cenários escuros em The Last of Us 2. Pelo contrário. As ruas são bem iluminadas pela luz do sol, mas ambientes internos carecem de eletricidade. São, portanto, escuros e assustadores.

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E quando eu falei que TLOU2 sempre faz sentido, isso é um verdadeiro triunfo da sua narrativa. Tem várias coisas que, quando acontecem, eu achei um tanto duvidosas. Porém, conforme a história avançava, eu entendia porque elas estavam lá – e por que elas eram necessárias. Da mesma forma, há acontecimentos que não parecem importantes no calor do momento, mas horas depois podem se mostrar vitais para a história. A Naughty Dog não dá ponto sem nó, e eu a adoro por isso.

TEMÁTICA

Outro motivo que deixa difícil colocar um gênero neste jogo é sua enormidade de temáticas. Ele aborda fanatismo, sadismo, fé, bondade, amor e ódio. E faz um excelente trabalho mostrando que todas essas características – e muitas outras mais, costumeiramente estão na mesma pessoa.

Eu não me lembro – e aqui não falo apenas de games, mas da cultura pop como um todo – de vilões tão bem elaborados quanto os de The Last of Us 2. Como você provavelmente já sabe, neste tipo de história os zumbis (ou, neste caso, os infectados), são apenas os catalizadores do fim da sociedade, não os vilões propriamente ditos.

É claro que TLOU não seria exceção. Há duas facções humanas que se opõe à Ellie no princípio. Os Wolves, uma espécie de milícia, aparentam ser os vilões no início. Mas eles estão em guerra contra os Scarsa galera do assobio, e logo a impressão é que estes serão os vilões da história. No final da aventura, cada facção é tão lindamente desenvolvida, e suas motivações tão claramente explicadas, que fica difícil dizer que qualquer um deles é vilão. São, no máximo, antagonistas. É aquele velho ditado, todo mundo é herói na sua própria história. E às vezes somos vilões na história de outras pessoas sem nem perceber.

PROBLEMAS NARRATIVOS

Também é linda a forma como o jogo elabora a diversidade de seus personagens. A gente já sabe que Ellie é homossexual, e é fantástico como isso é apenas uma faceta de sua personalidade, não algo que a define. Você sabe, como na vida real. E, da mesma forma, temos personagens transsexuais e heterossexuais. E mesmo os preconceitos com os quais as minorias lidam no nosso mundo pré-apocalíptico são abordados de forma magistral no jogo.

A única coisa que faltou, como já era de se esperar, é alguém gordo. Não existe nenhuma pessoa gorda no mundo de TLOU. Nem mesmo alguém secundário, que você apenas vê passando na sua base. Mas se tem algo que eu aprendi desde a mais tenra infância, é que ninguém se importa com os gordos.

Outro problema que me incomodou bastante, especialmente considerando quão criativa e ousada é sua narrativa, é a presença de uma das cenas mais clichês da cultura pop, uma que todos já vimos em incontáveis histórias, mas nunca ninguém viu na vida real. Refiro-me, claro, à velha briga que vira cena de sexo. Sei lá se isso acontece nos Estados Unidos, mas aqui no Brasil, nunca fiquei sabendo de alguém que, no meio de uma discussão acirrada, lascou um beijo no seu opositor.

OUSADIA

Pelo menos a cena em questão chama a atenção pela ousadia. Não é nada que não tenhamos visto de forma bem mais pesada em um Game of Thrones da vida, mas acredito que é a cena sexual mais explícita que já vi em um game. E isso é engraçado, já que os games são muito mais explícitos na violência do que TV e cinema, mas são incrivelmente puritanos quanto a cenas de sexo (é melhor a câmera focar num vaso para você não ter pesadelos).

Felizmente, The Last of Us 2 não é apenas ousado em sua representação de sexo e violência. Sua história segue por caminhos que eu sinceramente não esperava (felizmente, consegui me manter incólume dos spoilers nervosos que vazaram antes do lançamento). Eu tive a sensação que o jogo acabaria duas vezes antes de ele de fato acabar. E como estava jogando antes do lançamento, não sabia quanto ele duraria, ou mesmo onde acabaria.

Apesar de ser um jogo totalmente acessível, que permite você parar de jogar em virtualmente qualquer momento, sua história é tão envolvente que deixava difícil de parar de jogar. Eu queria ver para onde iria, ainda que ocasionalmente ficasse tão pesada que eu precisava de uma pausa.

GAMEPLAY

O mais lindo mesmo é como todo o gameplay serve a narrativa, e não o contrário. Na verdade, o gameplay em si nem é tão especial. É um jogo de tiro menos satisfatório do que Uncharted, por exemplo, e com maior foco em cenários grandes e em exploração.

Não por acaso, o jogo é infinitamente melhor quando você está explorando acompanhado, graças à incrível habilidade que a Naughty Dog tem de desenvolver os personagens de formas críveis. Em trechos longos de exploração solitária, a coisa é mais monótona. Nunca ruim, mas fica a sensação de que nessas horas a história ficou em segundo plano em nome da ação.

Você nunca está realmente satisfeito com a quantidade de recursos disponíveis, isso porque você pode carregar muito pouco. Por exemplo, em uma arma que carrega seis tiros, dá para levar três balas extras. Ou seja, não rola nem um pente inteiro de backup.

Porém, a Naughty Dog é mestre. Mesmo quando você está lutando contra um chefe, que naturalmente consome quase todos seus recursos, nunca dá aquela sensação comum em Resident Evil, de que eu vou ficar extremamente vulnerável depois da luta. Sim, você pode vencer o monstrão com poucas balas sobrando, mas é batata que explorando com calma, você vai ter sempre o suficiente para sobreviver a tudo que vier por aí, pelo menos na dificuldade normal.

MUNDO ABERTO

Assim, minha experiência com The Last of Us Part II foi incrível e inesquecível. Mas não posso deixar de criticar o trecho que acontece no centro de Seattle. Trata-se de uma área estilo “mundo aberto”, com mapa e tudo. Porém, sua implementação é bem inferior ao que a própria Naughty Dog fez em The Lost Legacy.

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Em Lost Legacy – e em outros jogos lineares que flertaram com mundo aberto, como God of WarThe Evil Within 2 – você tem liberdade para explorar em qualquer ordem, mas uma vez dentro de uma área, ela se torna linear até você vencê-la.

Aqui é simplesmente um espaço cheio de prédios no qual você pode entrar e buscar por colecionáveis e upgrades. Um desses espaços opcionais tem um momento realmente especial, no qual a Ellie faz uma linda cover acústica de uma música muito famosa. Porém, isso poderia estar no caminho natural da história.

Do lado bom, e eu realmente quero enfatizar isso, pelo menos eles não cederam à pressão de encher o jogo de sidemissions. Tudo que você faz serve à história principal. Se você para sua viagem para abrir umas gavetas, é para procurar por recursos, não para achar algum item genérico que um NPC pediu.

PRESSÃO DO MERCADO

A impressão que dá é que a Naughty Dog não gosta de fazer isso – e convenhamos, não é boa nisso – mas é exigência do mercado ter pelo menos uma parte aberta para as pessoas não reclamarem que o jogo é inteiro linear.

Essa impressão é corroborada pelo fato de essa área aberta vir logo no começo do jogo, ser totalmente explorada em umas duas horinhas, e depois não ter mais nada parecido no jogo. Lembrou-me até as bandas de heavy metal dos anos 80, que costumavam colocar a balada na segunda faixa do disco, meio que pra se livrar logo de ter uma música lenta e poder entrar no que interessa.

O COBIÇADO SELO DELFIANO SUPREMO

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Eu até pensei em negar a The Last of Us Part II o cobiçado Selo Delfiano Supremo como uma declaração política. Como quem diz: você não precisa enfiar uma parte aberta meia boca para apaziguar o mercado. Porém, tem tanto jogo depois disso – mais de 30 horas – e a qualidade é tão alta em todo o restante que senti que estava me apegando a pormenores, a uma pequena parte pentelha enfiada no início da campanha.

Assim, The Last of Us Part II se torna o mais novo jogo agraciado com a medalha mais desejada do mundo dos games. E daqui a algumas semanas, voltamos a ele, para esmiuçar sua fantástica história.

LEIA TODA NOSSA COBERTURA DE THE LAST OF US PART II:

A acessibilidade de The Last of Us Part II é uma coisa linda!

Primeiras impressões: The Last of Us Part II