Muitos já tentaram criar games de terror com temáticas ou visual mais leves e infantis. De sopetão, lembro-me de Little Nightmares (que tem um quê de infância, mas é relativamente assustador) e Among the Sleep (aquele em que você controla um nenê). Talvez o mais bem sucedido em ser de fato um survival horror tradicional kid friendly seja o jogo de hoje. Bem-vindo à nossa análise Gylt.

ANÁLISE GYLT, DA TEQUILA WORKS

Gylt realmente partiu meu coração quando foi lançado, em 2019. Isso porque ele era um exclusivo de Stadia. E além da temática e estilo me interessarem, a criadora era a Tequila Works, dos excelentões RimeDeadlight.

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Felizmente para nós, com o fracasso do Stadia, ele chega em 2023 para todas as outras plataformas. E daí você já sabe, é hora da nossa muito esperada análise Gylt.

ANÁLISE GYLT, AGORA NO PS5

A melhor forma de descrever Gylt é como um Resident Evil light. Ele pega muito mais leve no backtracking, nos puzzles e no combate (que lembra um tanto Alan Wake). Mas é capaz de remeter diretamente aos clássicos do survival horror. Digo mais, Gylt é uma excelente entrada no gênero, para todos que consideram o estilo difícil, complicado ou assustador demais.

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Resident Evil feelings, né?

Inclusive a dificuldade é curiosa, e totalmente contra a tendência atual. Gylt não tem opções de dificuldade, mas nesse aspecto ele é o equivalente a um jogo antigo no fácil, não no ultra-fuckin’-hard-from-hell que os desenvolvedores se habituaram a colocar como única opção em tudo que é jogo. Ainda sou a favor de opções, para quem quer uma experiência mais difícil poder encontrá-la aqui, mas acho refrescante que tenhamos um game que definitivamente não se define por ser difícil demais e sem opções.

TEMÁTICA E VISUAL

O que acho muito interessante em Gylt é como ele vai fundo na sua proposta de survival horror for kids. O visual é bonitinho e assustador, com monstros que parecem saídos da imaginação de uma criança. Não há violência explícita ou sangue. O próprio combate envolve simplesmente apontar a luz para os pontos fracos dos inimigos. Mas o mais legal é que a temática é infantil, abordando algo que é extremamente assustador e sofrido para crianças: bullying.

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Eu não diria que a história, que acompanha uma menina em busca da sua prima que desapareceu, é realmente marcante ou inovadora. Porém, a representação que ele faz de bullying, mostrando as reações de diversas crianças ao passar por esse tipo de experiência, é realmente forte. Especialmente para quem também passou por isso ou tem uma sensibilidade especial pelo tema.

Fica bem claro, por exemplo, que os monstros do jogo são metáforas para bullies, não apenas pelos textos que você encontra, mas pelas coisas que eles falam quando te perseguem ou atacam. O lado negativo disso, narrativamente, é que o jogo trata como uma viradinha algo que fica extremamente claro logo no início, deixando meio bobo a surpresa da personagem quando tudo é revelado.

GAMEPLAY DE GYLT

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Quando digo que Gylt é um Resident Evil light, me refiro à sua exploração, que deve muito ao clássico da Capcom, mas é mais linear em sua essência. Após uma introdução bastante linear, você chega na escola e, ao olhar o mapa, a impressão é que o lugar será como a Mansão Spencer. E, de fato, boa parte da campanha acontece na escola e em seus arredores. Mas ele envolve mais avançar sempre do que necessariamente abrir os lugares fechados ou ir e voltar numerosas vezes pelos mesmos corredores.

Em determinados momentos, você passa de novo por alguns pontos em que já passou antes, mas a progressão é bem mais clara e constante do que costuma ser nos jogos do gênero. Há um pouquinho daquele estilo, mas é bem pouquinho, entende? Ou seja, Resident Evil light.

MATANDO MONSTROS E BULLIES

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O combate envolve focar a lanterna nos pontos fracos dos monstros. Focar gasta bateria, que dubla de munição. Felizmente, a bateria é consumida apenas nos ataques, e não quando a lanterna é usada apenas para iluminar. Há um sistema de stealth, mas eu achei um tanto desequilibrado.

Sem dúvida é muito mais prático eliminar um bicho distraído por trás. Porém, isso gasta cerca de 1/3 da sua bateria total. Com a mesma carga, você consegue vencer vários inimigos em combate aberto. Em outras palavras, é uma economia de recursos muito maior você simplesmente iniciar logo o combate do que ficar se esgueirando pelos cantos. E ficar sem bateria torna impossível dar ataques furtivos, como na imagem acima, ou mesmo sair na porrada. Você fica totalmente indefeso até encontrar mais munição/bateria, o que não é legal.

Dito isso, Gylt é realmente um jogo bem fácil. É bem mais provável você empacar em algum quebra-cabeça perto do final do jogo do que em algum combate.

A CULPA É DA TEQUILA

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Em geral é mais prático iniciar o combate do que se esgueirar pelos cantos.

Eu gostei muito de Gylt. Talvez algumas pessoas sintam falta do lado mais hardcore de um survival horror. Porém, eu vejo com bons olhos o esforço em fazer uma experiência de terror mais acessível, não apenas para pessoas que ainda não têm idade para um terror mais forte, mas também para quem tem muito medo, ou acha o gênero complicado demais.

Inclusive, já vi comentários aqui no DELFOS de gente que dizia que adora ler sobre survival horrors, mas não tinha coragem ou vontade de jogar em primeira mão. Se isso te descreve, Gylt pode ser uma excelente pedida. E uma ótima iniciação ao gênero.

REVER GERAL
Nota:
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
analise-gylt-review-resident-evil-para-criancasDisponível: Stadia, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series, Windows<br> Analisada: PS5<br> Desenvolvedora: Tequila Works<br> Editora: Tequila Works<br> Lançamento: 19 de novembro de 2019 (Stadia), 6 de julho de 2023 (demais plataformas)<br> Gênero: Survival Horror<br>