O delfonauta dedicado sabe que eu sou um grande fã da Remedy. Como tal, o DELFOS tem resenhas de quase todos os seus jogos. Talvez a lacuna mais marcante fosse a de Alan Wake, lançado em 2010, como um exclusivo de Xbox 360. Pois olha só. Não falta mais! Chegou a hora da nossa análise Alan Wake Remastered, relançamento que sai amanhã para Xbox One, Xbox Series, PS4, PS5 e Windows.

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Tô de olho!

ANÁLISE ALAN WAKE REMASTERED

Remedy é conhecida por fazer jogos de ação extremamente gostosos, mas com histórias altamente desenvolvidas, profundas e bem escritas. É exatamente por isso que eu gosto tanto deles. Alan Wake também pode ser definido dessa forma. Porém, se comparado a Max PayneQuantum BreakControl, talvez seja o que tem a ação menos saborosa.

Isso porque Alan Wake é praticamente um jogo de terror. Então sua ação é mais lenta, mais metódica. Este não é um jogo focado na adrenalina e na power trip como os outros da desenvolvedora. Aqui a ideia é você estar sempre lutando para sobreviver. Não pela falta de munição ou mesmo por uma dificuldade especialmente alta (Control é MUITO mais difícil), mas pelo próprio clima do tiroteio. Mais do que a ação, no entanto, Alan Wake se destaca por ser uma boa história.

ANÁLISE ALAN WAKE E SUA HISTÓRIA

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Eu também queria ter um sósia de papelão.

O titular Alan Wake é um escritor extremamente famoso. Uma verdadeira celebridade, claramente inspirado por Stephen King. Aliás, a história em si pode ser descrita como um “e se Stephen King escrevesse um episódio de Além da Imaginação?”. Curiosidade: embora isso nunca tenha acontecido na vida real, há um episódio da série baseado em um conto do Rei Estevão.

Alan Wake vai até a pequena cidade fictícia de Bright Falls para tirar umas férias e tentar resolver seu bloqueio criativo. Ele vai ficar em uma cabana em uma ilha, mas na primeira noite lá, sua esposa pede ajuda. Antes que ele consiga alcançá-la, ela desaparece. E ele acorda uma semana depois. A xerife diz que a cabana que havia naquela ilha não existe mais há anos. O que aconteceu? Será que ela foi raptada? Foi tudo alucinação? Você, meu ilustre camarada, precisa jogar para descobrir.

ACORDANDO ALAN WAKE

O jogo em si funciona em dois estilos: dia e noite. De dia, a coisa é totalmente focada na história. Você explora, conversa com outros personagens, usa itens. Nesses pontos, não há perigo, e a coisa é semelhante a um adventure moderno.

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Quando anoitece é que o bicho pega.

À noite a coisa muda totalmente. São as fases de ação propriamente ditas. Essas são third-person shooters, mais ou menos inspiradas pelos Resident Evils de ação. Mas as mecânicas são únicas. Você tem armas de fogo, mas sua principal arma é uma lanterna. Todos os inimigos são invencíveis até você focar sua lanterna neles por alguns segundos. Quanto mais fortes, mais tempo você precisa focar. Depois de despí-los da escuridão, aí sim você pode destruí-los no pipoco.

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O desafio é muito mais o de tirar a escuridão do que o de atirar neles. Ao focar a luz, a pilha da sua lanterna esvazia rapidamente. Ela é carregada lenta e automaticamente, ou então você pode apertar triângulo para colocar uma pilha nova. Quando você está rodeado por inimigos banhados na escuridão, a coisa é bem difícil. Mas depois que você os iluminar, vencê-los é trivial.

Há outras armas, claro. As mais eficientes são as granadas flashbang e a arma de sinalizador, pois ambas são capazes de matar de uma vez bandidos que ainda estão envoltos nas trevas. Obviamente, essas são “super-armas”, com munição bem limitada, e que devem ser usadas apenas no desespero.

PIPOCOS DO ALAN FUNERAL

Como falei antes, a ação de Alan Wake não é tão divertida quanto a dos outros jogos da Remedy. Não é ruim, mas de fato no aspecto gameplay, este é o mais fraquinho dos games de tiro da desenvolvedora. Felizmente, a história compensa, sendo muito interessante, ainda que o final, assim como os finais de Além da Imaginação que o inspirou, seja um tanto decepcionante.

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Uma coisa muito legal da história de Alan Wake é o uso de foreshadowing ou, em português, o ato de prenunciar. Este é o nome de uma técnica de roteiro que pode ser descrita como “spoiler com estilo”.

ANÁLISE ALAN WAKE REMASTERED E O FORESHADOW

Um uso comum de foreshadow em videogames é quando você vê um chefe antes de chegar a hora de lutar contra ele. Mas Alan Wake faz isso de forma ainda mais legal. Um dos colecionáveis do jogo é uma série de manuscritos que contam a história do game. O bacana é que eles contam coisas que ainda vão acontecer, no mesmo estilo de escrita de um escritor de suspense. Assim, é comum você achar um manuscrito descrevendo a morte de um personagem, e minutos depois vivenciar isso acontecendo.

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Esta cena, por exemplo, teve um prenúncio muito legal.

A implantação que os escritores da Remedy fizeram desse recurso demonstra porque eles estão entre os melhores roteiristas de games. Apesar de serem spoilers, eles não estragam surpresas, mas geram expectativa, não diminuindo o impacto das cenas quando elas acontecem, mas de fato aumentando-as. É genial.

ANÁLISE ALAN WAKE REMASTERED E OS PROBLEMAS ANTIGOS

Alan Wake nunca foi um jogo desprovido de problemas. E continua não sendo. O mais incômodo é a câmera. Ela segue o estilo “papagaio de pirata” popularizado por Resident Evil 4. Até aí tudo bem. Mas a Remedy quis inovar.

Quando você gira a câmera para a direita, ela vai para o ombro direito do personagem. Mesma coisa para a esquerda. Isso significa que a toda hora a localização da câmera é mudada. Você pode alternar manualmente apertando o R3, mas não dá para desativar a troca automática.

Eu até consigo entender a motivação. Se você vira a câmera para a esquerda, é porque quer olhar naquela direção. Portanto colocar o personagem do lado direito da tela aumenta seu campo de visão. A ideia faz sentido, mas na prática não funciona bem. Particularmente, eu SEMPRE prefiro a câmera no ombro direito, e quero mudar em raras situações, quando um controle manual funciona perfeitamente. Parece simples colocar a possibilidade de desligar isso nesse remaster, mas não há essa opção.

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Será que vale a pena descer do carro para ver se tem alguma garrafa de café usada dentro daquela casa?

Outra coisa que me incomodou bastante é que há momentos da história em que você dirige um carro. O problema é que o jogo continua incentivando a sair do carro várias vezes no meio do caminho para pegar colecionáveis. Essa “indecisão” não é legal. Se vamos ter cena de carrinho, que seja uma cena de carrinho total, sem precisar ficar explorando fora do carro.

O PACOTE ALAN WAKE REMASTERED

Estes foram meus problemas com Alan Wake. Tirando isso, suas mecânicas não envelheceram mal, e ele é um jogo melhor de jogar em 2021 do que, por exemplo, Max Payne (que eu joguei de novo poucos meses atrás, e envelheceu bem pior).

O pacote Alan Wake Remastered traz o jogo Alan Wake e seus dois DLCs (que podem ser escolhidos no menu principal a qualquer momento). Ele NÃO traz o jogo Alan Wake’s American Nightmare, o que é realmente uma pena.

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Hitchcock on my ass!

Inclusive achei curioso, porque meu código de review de Quantum Break veio com as versões de Xbox 360 completas de Alan Wake, seus DLCs e American Nightmare, que podiam rodar no Xbox One via retrocompatibilidade. É curioso que um brinde na compra de outro jogo seja mais completo do que o pacote lançado comercialmente. Mas até aí, com Quantum Break vieram as versões de Xbox 360, que não exigiram trabalho extra de desenvolvimento. Aqui os jogos foram retrabalhados e melhorados para trazer novas features para a nova geração.

Visualmente, Alan Wake Remastered ainda tem cenários muito bonitos e elaborados. O que envelheceu mais são os personagens humanos, que dão ao jogo o visual de um AA moderno. O que eu mais gosto nele, no entanto, é que apesar de suas mecânicas serem totalmente derivadas de luz e escuro, ele não é tão escuro como os jogos de terror costumam ser. Você não tem dúvidas de quando é noite ou dia, mas sempre dá para saber o que está acontecendo. Não há suporte a HDR no entanto.

ANÁLISE ALAN WAKE REMASTERED E AS NOVIDADES NOVINHAS

Eu joguei Alan Wake Remastered no PS5, e o que ele traz de novo? Bom, para começar ele faz um excelente uso da vibração do controle. É bem sutil, mas o feedback táctil que o jogo traz no PS5 certamente é mais envolvente do que o possível no Xbox Series. Ele também traz carregamento bem rápido (coisa de cinco segundos). E, claro, roda em resolução e framerate mais altos do que o original. Tenho sensação que roda em 4K/60, mas vou deixar o martelo nesse aspecto para os colegas da Digital Foundry. Certamente é possível, afinal, é um jogo de duas gerações atrás, mas nunca se sabe.

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A mudança mais importante, no entanto, é que a marca das pilhas não é mais licenciada.

E agora entro num ponto um tanto especulativo, mas eu tenho a sincera impressão de que algumas pequenas mudanças no roteiro foram feitas para fazer prenúncios para a explicação da história de Alan Wake feita na expansão AWE de Control. Se não houve mudanças nesse aspecto, a coisa se encaixa tão bem, de forma tão redondinha, que aumentaria ainda mais minha admiração pelos escritores da RemedyAlan Wake se encaixa melhor em Control do que Star Wars IVVVI se encaixam nos episódios IIIIII.

E OS QR CODES?

Uma coisa que eu tenho quase certeza que é nova são os QR Codes espalhados pelas fases de Alan Wake Remastered. Escaneie estes códigos com seu celular e você vai ter acesso a vídeos secretos do Youtube (unlisted, sabe?), que desenvolvem ainda mais a conexão Alan Wake/Control. Esses vídeos têm toda a cara de terem sido produzidos exclusivamente para este relançamento, e trazem a mesma estética de vídeos semelhantes que tocam durante a campanha de Control.

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E é isso. Alan Wake Remastered certamente não é um remaster preguiçoso. Ele roda muito bem no PS5, traz algumas sutis novidades que desenvolvem melhor sua história e inclui os dois DLCs originais. Para ser um trabalho de fato excelente, só precisava da opção de desligar a “mudança automática de ombro”. Isso seria uma atualização semelhante ao que a Capcom fez no relançamento de Resident Evil para desligar o “controle de tanque”. E, para ser completo, gostaria que trouxesse também Alan Wake’s American Nightmare. Porém, o que está aqui é muito bom.

Alan Wake pode não ser o melhor jogo da Remedy – não é – mas a Remedy é que nem pizza. Mesmo quando não está no seu melhor, ainda é excelente. Fãs de jogos de ação, de terror, e de boas histórias simplesmente precisam jogar Alan Wake Remastered.