Fãs de H. P. Lovecraft, regozijem-se! Call of Cthulhu é um game da Cyanide Studio, que também trabalhou no excelente The Council, e deve agradar a qualquer pessoa que curta jogos narrativos de terror. Isso descreve seu gosto? Então junte-se a mim na delfiana análise de Call of Cthulhu.

ANÁLISE CALL OF CTHULHU

Apesar de ostentar o subtítulo The Official Videogame, não se deixe enganar. Infelizmente, Call of Cthulhu não é baseado no seminal conto do mestre do terror H. P. Lovecraft. Ele é, na verdade, baseado no também clássico RPG de mesa de mesmo nome, lançado em 1981 pela Chaosium.

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Curiosamente, outra informação falsa é que ele se divulga como um RPG de mundo semi-aberto, quando na verdade não é nem um nem outro. Este Call of Cthulhu é um jogo narrativo linear e dividido em fases. Descobrir isso, para mim, foi uma grata surpresa, mas se você não estiver cheio de RPGs de mundo aberto como eu, talvez se decepcione. Ainda bem que você lê o DELFOS para saber a verdade.

O que ele traz de RPG é uma tradicional skill tree, algo que há muito já não é mais exclusivo do gênero. Por ser um jogo prioritariamente narrativo, os upgrades seguem a linha do que vemos em The Council, ou seja, aumentam coisas como sua eloquência e investigação. Ter um nível mais alto nessas habilidades abre opções de diálogos e formas de interagir com o mundo.

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A árvore de habilidades de Call of Cthulhu.

É uma mecânica bacana e criativa, mas como já vimos isso em The Council este ano mesmo, não tem mais o fator novidade. Ainda assim, The Council usa este sistema de forma mais parruda. Aqui ele é bem mais simples.

Esta simplificada nos diálogos se deve ao fato de que Call of Cthulhu não é apenas uma história interativa, mas investe muito mais no seu gameplay.

CONHECENDO O CTHULHU

Call of Cthulhu conta a história de Edward Pierce. Ele é um detetive particular que assume a responsabilidade de descobrir o que aconteceu com a reclusa pintora Sarah Hawkins. Teoricamente, ela morreu em um incêndio, mas as evidências indicam que ela ainda está viva. Cabe a Edward ir até a remota ilha de Darkwater, onde ela vivia e supostamente teria morrido, e usar as habilidades investigativas do jogador para resolver o caso.

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Bem-vindo a Darkwater!

Darkwater é uma ilha habitada basicamente por pescadores de baleias, mas ela está em decadência pela ausência do grande mamífero na região. Tudo mudou depois da “pesca milagrosa”, a última vez que seus moradores conseguiram trazer uma baleia, e foi justamente a maior que eles já viram, o que virou praticamente um folclore da região.

A história é bem bacana, e se encaixa bem no mito do Cthulhu, algo tão presente na cultura pop. Realmente todo o andamento da trama e a forma como tudo se encaixa parece algo oficial, e é capaz de enganar quem não conhece o conto original como sendo uma adaptação direta dele.

COMBINANDO O CTHULHU

As mecânicas de Call of Cthulhu são bastante derivativas. Lembra como Castlevania: Lords of Shadow se deu bem ao emular o gameplay de jogos de ação e aventura? Pois Call of Cthulhu faz basicamente a mesma coisa, mas emprestando de games de terror.

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Se você já é escolado no gênero, sobretudo em clássicos recentes, como AmnesiaOutlast, vai perceber estas influências em coisas como o efeito que olhar para os inimigos tem na sua sanidade ou mesmo a possibilidade de se esconder em armários quando algo estiver te caçando.

Apesar de os controles terem um botão dedicado para “atirar”, não espere a ação de um Resident Evil. Aqui virtualmente não há combate. Há apenas um capítulo que, de fato, envolve tiros, mas é uma jogabilidade bastante simples, com mira automática. Seu encontro com os horrores lovecraftianos vão envolver muito mais fugir e se esconder do que se defender.

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Não deixe esta imagem te enganar. Isto é uma parte bem pequena do jogo.

Uma coisa bacana é que o foco narrativo dá ao terror tempo para respirar. É algo que critiquei na minha resenha do primeiro Outlast. Se a coisa é intensa o tempo todo, o medo diminui. Call of Cthulhu tem um timing excepcional, combinando capítulos altamente tensos com outros que envolvem apenas conversar, explorar e investigar.

O FUTURO DO CTHULHU

Isso também possibilita que você nunca saiba para onde o jogo vai em seguida. Em um momento, você está basicamente em um trem fantasma, andando por um corredor enquanto coisas assustadoras acontecem. Em seguida, você está em um adventure point-and-click, tentando resolver puzzles com o uso de itens para avançar a história. Daí você é jogado em um assustador stealth e em seguida tem que investigar uma cena de crime com uma jogabilidade que não seria estranha em um jogo do Batman.

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Tentar entender o que aconteceu é um dos pilares do gameplay.

Isso torna Call of Cthulhu um jogo bastante variado. Além disso, o aproxima de mídias puramente narrativas, como literatura ou cinema. É aquela história, a tal da dissonância ludonarrativa. Por mais que a história de um Uncharted seja legal, a quantidade de assassinatos cometida pelo protagonista não se encaixa com o sujeito do bem que a gente vê nas cutscenes.

Em Call of Cthulhu, a história determina o gameplay, e não o contrário. Não é um jogo de ação, mas ao mesmo tempo tem muito mais gameplay do que um jogo puramente narrativo, como os da Telltale ou Quantic Dream.

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O único jeito de escapar disso é no papo, então upe sua eloquência.

VENDO O CTHULHU

Embora se dê muito bem no roteiro e na forma que combina tantos tipos de gameplay diferentes, o mesmo não pode ser dito do visual. Call of Cthulhu é um jogo bem feinho, tanto técnica quanto artisticamente. Ele tenta um visual realista (ao contrário de The Council, que é mais estilizado), o que deixa transparecer o fato de que seu orçamento é relativamente modesto.

Para completar, quase todos os locais que você vai explorar levam um filtro verde bastante intrusivo, o que deixa o jogo bem monocromático.

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Espero que você goste de verde.

Embora o jogo seja totalmente falado (aparentemente a única opção de idioma é o inglês), os atores também não são especialmente bons. Suas performances vão do piloto automático ao realmente fraco. Também há alguns erros feios de gramática nos textos do jogo, o que mostra que ele não recebeu uma revisão profissional.

Tudo isso acontece pelo fato de Call of Cthulhu ser mais ambicioso do que seu orçamento permite, então é bem compreensível para quem entende um pouco dos bastidores da indústria de games. Gamers mais impacientes podem se apressar em julgá-lo como “mal-feito”, mas não faça isso. Precisamos de mais games neste meio termo, com menos dinheiro do que um AAA (o que possibilita correr mais riscos e maior criatividade), mas com maior ambição do que um metroidvania pixelado em 2D. E tirando os aspectos técnicos, este se dá muito bem como trabalho criativo.

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E tem um personagem que é a cara do Rob Halford.

CHAMANDO O CTHULHU

Eu esperava que Call of Cthulhu fosse um RPG genérico, e fiquei agradavelmente surpreso com o que ele de fato é. Verdade que a única coisa mais única que ele apresenta são os upgrades psicológicos do personagem (o que já estava em The Council). Ainda assim, este é um daqueles casos em que o todo é muito maior do que a soma das suas partes, até porque ele pegou essas partes dos melhores do gênero.

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Call of Cthulhu não vai apresentar novidades de gameplay aos fãs de jogos de terror, mas combina suas influências de forma bastante especial. O resultado é um jogo assustador e bem variado, com uma história bacana e um clima bem construído. Fãs de joguinhos de medo ou de aventuras lovecraftianas não podem deixar passar.