O primeiro episódio de The Council se encerrou com a revelação de que um importante personagem da trama havia morrido. Quem o matou, como e por que são algumas das perguntas feitas neste segundo episódio, apropriadamente intitulado Hide and Seek.

NO EPISÓDIO ANTERIOR…

A forma como terminei o episódio passado (que trazia um total de quatro finais possíveis) foi um belo de um tiro no pé, já que meu personagem acabou sendo acusado de assassinato. A cena mostrada na ocasião, inclusive, dava a entender que eu não tinha muita escapatória. Porque fui a última pessoa a ver o presunto com vida, eu era também o principal suspeito de o ter apresuntado.

Imaginei que, com esse final, o segundo episódio se iniciaria de forma conflituosa, com Louis de Richet tendo de provar sua inocência. Mas não: o episódio se abre com uma cena neutra, que parece ser padrão para todos os possíveis encerramentos do episódio anterior.

The Council, Delfos
Fale mais sobre isso…

A cena em questão mostra Louis conversando com Lorde Mortimer, o misterioso anfitrião do castelo em que o jogo se passa. O diálogo inicial leva em conta os acontecimentos finais do primeiro episódio: onde você estava, com quem, o que estava fazendo etc. Em seguida rolam algumas perguntas, às quais você pode responder honestamente ou não.

E aí surgem as primeiras contradições típicas de história interativas. Após um rápido bate-papo, Mortimer coloca Louis no comando da investigação sobre o referido assassinato, concedendo acesso inclusive aos aposentos de hóspedes ilustres como Napoleão Bonaparte e George Washington.

Ou seja: eu tinha terminado o episódio anterior sendo praticamente algemado, mas nos primeiros cinco minutos do episódio seguinte fui colocado para investigar justamente o crime que me acusaram de cometer. Se isso parece não fazer sentido, é porque não faz mesmo.

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Um parabéns para quem conseguir enxergar o cardeal nesta imagem.

ATÉ TU, BRUTUS?

Sabemos que histórias interativas costumam, a despeito da ilusão de escolha, usar artifícios que fazem os jogadores convergirem todos para um mesmo caminho – como ocorre em qualquer jogo da Telltale. É uma decisão compreensível, dado o escopo absurdo que seria necessário para criar linhas narrativas completamente diversas.

Mas aqui no DELFOS tínhamos esperança de que, com The Council, seria diferente. Afinal, o próprio site do jogo (que por sinal é bem estiloso) diz que sua proposta é ser um adventure no qual as decisões “realmente importam”.

Saber até onde essas decisões importam realmente, e qual o nível de maleabilidade do enredo, foram questões levantadas pelo Corrales na análise do episódio um, e parcialmente respondidas aqui, com o lançamento do episódio dois. Isso posto, falemos sobre o episódio em si.

MUITAS PERGUNTAS, POUCAS RESPOSTAS

Hide and Seek é, do início ao fim, um episódio focado na investigação de ambientes. Isso quer dizer que ele deixa um pouco de lado as intrigas políticas e interações com outros hóspedes para priorizar seu lado adventure, dando destaque à descoberta de itens, leitura de arquivos e resolução de puzzles. Na prática, você passará uns dois terços do episódio andando sozinho por quartos, salas e corredores, buscando pistas que o levem ao ambiente seguinte.

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Ainda bem que o jogo não pede para encontrar o livro X.

No início, suas investigações serão pautadas pelo assassinato do episódio anterior, sendo possível até mesmo apontar um culpado. Entretanto, com o desenrolar das quests (são três, neste episódio), suas investigações tomarão outros rumos, que envolvem o desaparecimento de Sarah de Richet e os segredos guardados pelos demais personagens.

É curioso notar que, mesmo sendo um episódio com menos ênfase em diálogos e exposições narrativas, Hide and Seek até que consegue fazer a história andar. Infelizmente, esse avanço narrativo é promovido em boa parte pela leitura de documentos, o que tira muito do dinamismo visto no episódio um.

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Este é um dos únicos confrontos de todo o episódio.

DECIFRA-ME OU NÃO PASSARÁS DE FASE

Apesar de ser mais introspectivo, este segundo episódio aumenta consideravelmente a curva de dificuldade. Se em The Mad Ones tínhamos diversos bosses para confrontar e decisões com limite de tempo, aqui somos constantemente obrigados a parar e refletir, especialmente pela enorme quantidade de puzzles.

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Este enigma, por exemplo, me custou duas horas e uma úlcera.

Além disso, é preciso racionar com maestria seus pontos de esforço, necessários para que você prossiga satisfatoriamente em suas investigações. Em cada ambiente haverá dois milhões dezenas de itens para serem analisados, cada um com diversas opções de análise. Por exemplo: uma faca ensanguentada no chão pode lhe dar três ou quatro informações, mas cada uma delas lhe custará um determinado número de pontos de esforço. Você geralmente terá uma meia dúzia de pontos, se tanto, e diversos itens para analisar.

A pegadinha é que nem todas as informações são realmente úteis, de forma que é necessário pensar duas vezes antes de gastar seus pontos. Eu diria que, ao longo do meu gameplay, revelei apenas uns 20% dessas informações escondidas, já que o jogo foi bem sovina na oferta de itens que restauram os pontos de esforço.

É uma dinâmica excelente, que tira você da zona de conforto e faz com que os mistérios nunca sejam plenamente resolvidos, de modo que se torna impossível confiar em qualquer um dos personagens. A paranoia chega a ser tanta que eu não colocaria minha mão no fogo nem pelo próprio Louis de Richet.

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Esses olhos verdes de francês oblíquo e dissimulado não me convencem.

ESCONDE-ESCONDE

Hide and Seek se desenvolve de forma lenta, mas sólida. Seu ritmo, menos intenso que do episódio um, pode dar sono em alguns momentos, mas mantém as expectativas altas para saber o que acontecerá na sequência. É verdade que o episódio termina meio de sopetão, com um cliffhanger menos impactante que do episódio anterior. Mas, para uma narrativa dividida em cinco partes, eu diria que está indo tudo muito bem.

The Council é uma das histórias interativas mais cativantes que já joguei, e sua narrativa, cheia de personagens reais e acontecimentos históricos, além de toques sobrenaturais, está conseguindo me prender o suficiente para lamentar o fato de que o terceiro episódio ainda deve demorar para sair.

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No episódio anterior copiaram o quarto do Corrales. Dessa vez, copiaram o meu.

Até lá, você já sabe: mantenha-se delfonado. E, se Odin tocar seu coração, dê aquela forcinha para ajudar o Alfredo a alçar voos maiores e continuar cobrindo jogos legais como The Council.