O primeiro The Surge me marcou, mesmo eu não tendo chegado muito longe nele. Na época, eu ainda não estava saturado com o excesso de clones de Dark Souls. Porém, ele chegou antes do lançamento (portanto não havia guias), e eu passei horas e mais horas dando voltas em um cenário sem saber para onde ir para prosseguir. Em respeito ao meu tempo, fui obrigado a parar de jogar e escrever apenas um artigo com primeiras impressões. Eu até tinha intenção de continuar um dia. Mas isso nunca aconteceu.

The Surge é uma cópia de Dark Souls sem cuidado com o design

The Surge 2 também chegou aqui na redação antes do lançamento, mas por uma combinação de fatores (que envolve computadores quebrados e saco cheio com clones de Souls), eu acabei demorando para mergulhar de cabeça nele. E, quando o fiz, já era bem fácil encontrar guias. Assim, apesar do receio de perder tempo em mais um clone do gênero, era a hora de dar uma chance justa a ele. E sabe o que rolou? Não foi uma experiência desprezível como eu esperava. Pelo contrário, aliás. The Surge 2 é o primeiro clone de Souls que me divertiu desde, sei lá, Nioh.

ANÁLISE THE SURGE 2

Análise The Surge 2, The Surge, Deck13, Focus Home Interactive, Delfos, Souls Clone

Para começar, The Surge 2 melhorou consideravelmente o gameplay, diferenciando-o bastante de sua principal inspiração. Na verdade, a velocidade e agressão do combate o coloca mais próximo de Bloodborne do que de Dark Souls. Sua principal inovação é o sistema de baterias.

Ao porrar um desafeto, uma barra embaixo da sua stamina vai encher. Cada bloco que se enche é uma bateria, que pode ser usada para cortar um pedaço do inimigo (e assim adquirir sua armadura ou arma, como no anterior) ou, especialmente, carregar um injetável.

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Os injetáveis são como os estus de Dark Souls, e servem principalmente para recuperar vida (há outros tipos, que podem, por exemplo, curar efeitos adversos, como veneno). Ao contrário do clássico da From Software, no entanto, eles não são recarregados nos medbays (os checkpoints, equivalentes às fogueiras), pelo menos não antes de alguns upgrades.

MOVIDO A BATERIA

A forma mais comum de carregá-los é segurando o botão de aplicação (bola no PS4), que transfere uma bateria para uma carga. Assim, não acontece aqui aquele loop padrão de Dark Souls, em que suas curas acabam, e você fica desesperado em busca de um checkpoint para se recuperar. A melhor forma de aumentar as suas chances de continuar vivo é procurando algum inimigo mais fraco e porrando-o sem dó, para carregar suas baterias.

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Conforme você avança, vai adquirir implantes que impedem que uma ou mais baterias não utilizadas sumam, ou mesmo que cortar membros dos inimigos encha automaticamente o seu injetável equipado. Tudo isso contribui para que The Surge 2 não pareça tão injusto quanto os jogos do gênero costumam ser. Eu nunca me via frente a frente com um inimigo sem chance de vitória, uma vez que alguns poucos ataques sempre me dariam um item de cura.

Da mesma forma, as batalhas contra os chefes deixavam de ser duelos de resistência. Nada daquilo de tentar acabar com a vida dele antes que suas curas sejam todas usadas. Afinal, aqui suas curas são recuperáveis. Você vai morrer bastante em The Surge 2. É um jogo difícil (eu morri exatamente 101 vezes na minha campanha). Porém, a maioria das mortes virá quando você leva uma sequência de ataques nas fuças sem conseguir escapar. Com um pouco de atenção, estratégia e agressão, sempre terá curas para se recuperar, mesmo nas batalhas mais longas.

DIFICULDADE

Uma coisa que me desanima muito neste gênero é a dificuldade, muitas vezes deveras injusta. Graças à forma com que as curas são recuperadas aqui, eu não senti essa injustiça em The Surge 2. Eu faria um paralelo de sua dificuldade com jogos como Nioh ou Hollow Knight. Ou seja, é difícil. Exige atenção e estratégia. Porém, dificilmente você vai ficar repetindo o mesmo trecho por horas sem conseguir avançar.

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Daí, claro, vêm os chefes. Este, Delver, é o mais difícil de todos, e vem relativamente cedo na campanha.

Os primeiros chefes de verdade (tem alguns que servem como tutoriais no início, que são tranquilos) me custaram algum tempo. Em especial o Delver, da imagem acima. Eles exigem cuidado e atenção que eu normalmente não estou disposto a ter em games. E admito que foram horas que eu pensava comigo mesmo: “cara, não tenho tempo para isso. Eu tenho pelo menos mais 10 jogos para resenhar na minha lista, não posso perder uma tarde inteira em um único chefe”. Felizmente, nenhum deles chegou a torrar meu saco o suficiente para que eu desistisse do jogo. E, depois do Delver, a coisa ficou bem mais tranquila, culminando no fato de que eu matei o último chefe na primeira tentativa.

QUALIDADE DE VIDA

The Surge 2 também traz de volta algumas das qualidades de vida que a Deck13 colocou em Lords of the Fallen, mas que tirou de The Surge. Em especial, você pode salvar seu tech scrap (XP ou souls, se preferir), em todos os medbays. Isso também elimina uma das maiores frustrações do gênero: você ter um monte de XP, mas não o suficiente para subir de nível, e perder tudo. Aqui, encontrar um checkpoint é literalmente salvar seu progresso. Você só arrisca perder o que conquistou desde o último, e isso é algo que me deixa bem mais disposto a encarar e correr riscos.

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Você também tem um drone que possibilita ataques a longa distância. Mas a maior utilidade dele é um esconde-esconde online. Você pode usar o drone para colocar uma estátua do seu personagem no mundo do jogo. Cada jogador que encontrar sua estátua ganha 250 tech scrap. E depois de uma hora (em tempo real), você é recompensado de acordo com quantas pessoas acharam sua estátua. Se ninguém achou, fatura deliciosos 5000 tech scrap, o que permite subir vários níveis no começo do jogo.

Meu único problema com esta mecânica é que esta XP vai para o seu bolso, ao invés de direto para o banco. Então se você estiver longe de um checkpoint ou, pior, no meio de uma luta contra um chefe, tem grande possibilidade de perder tudo.

PROBLEMAS TÉCNICOS E DE DESIGN

Infelizmente, The Surge 2 ainda traz consigo alguns dos problemas do anterior. Por exemplo, é bastante difícil saber para onde ir. Sim, você tem um quest log que fala o nome da próxima área. E a maioria delas está ligada ao centro da cidade. Porém, o centro é enorme, com dezenas de caminhos e dúzias de atalhos. É muito difícil se localizar nele. Por exemplo, o primeiro objetivo lá diz para você ir na direção de um polvo. Mas o polvo logo some, e só volta a aparecer quando você está bem na frente dele.

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O polvo. Neste ponto, basta andar na direção dele. Mas você vai demorar muito para achar este ponto.

Tem um mapa que aparece nas telas de carregamento e em alguns pontos da fase. E lá você pode até ver que seu próximo objetivo fica, por exemplo, ao norte do mapa. Porém, não há como saber em que direção fica o norte. The Surge 2 se beneficiaria muito da opção de ativar waypoints, pelo menos na sua área central, que é mais aberta.

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Além de ser difícil interpretar o mapa, ele às vezes não carrega corretamente.

E isso também é um problema. Pelo menos no PS4 Pro, onde testei, você joga boa parte do tempo com texturas não carregadas. Também há sérios problemas de câmera, especialmente em corredores apertados. Ela é sempre próxima demais, e a armadura com a maior defesa que eu encontrei tem enormes turbinas nos ombros, que ofuscam quase toda a tela.

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Para você ver que eu não estou exagerando.

A imagem acima não é um caso raro, mas é como a câmera fica sempre que você está em um corredor estreito – o que é comum. E tem horas que o jogo espera que você lute desta forma. Às vezes, para conseguir sobreviver, eu tinha que desequipar minha armadura, ou não conseguia ver nada.

É ASSIM QUE SE FAZ UMA CONTINUAÇÃO

Boa parte desses problemas acontecem porque a Deck13, e sua editora, a Focus Home Interactive, não têm o orçamento de um AAA, mas se esforçam para fazer jogos que competem com quem tem. Particularmente, eu prefiro jogar no PS4 jogos como The Surge, em 3D e interpretados por atores de verdade, do que aqueles tradicionais pixelados que rodariam em um Nintendinho. Então eu vejo esta ambição com bons olhos, mesmo que falte algum polimento no resultado final.

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O fim do texto está próximo.

O que eu não costumo ver com bons olhos é o excesso de clones de Dark Souls que a indústria vem fazendo. The Surge 2, ao contrário do primeiro, copia, mas também se permite criar em cima. Assim, provavelmente se torna o melhor clone da From Software do ano. E talvez de alguns anos passados também.